Lembro-me de onde me encontrava, em aprazível residência de repouso e lazer entre serras forradas pela exuberância da mata atlântica e o mar com a majestática visão para a enseada de Iporanga, entre Guarujá e Bertioga, no litoral norte de São Paulo. Lá, sente-se uma sensação de tranquilidade para a recuperação das forças físicas, porém não dissipa a preocupação, o temor de como será o ano que se abriu, um horizonte obscuro, idêntico às nuvens tensas que se dissolvem em trovões e aguaceiros nesses primeiros dias.
Na tentativa de dissipar as preocupações, convicto estou – e creio, todos os brasileiros e brasileiras, dediquei-me a leituras. Já li o interessante livro do jornalista Willian Wach, “As Duas Faces da Glória”, abordando o outro lado da participação da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na frente belicosa do território italiano nos meses finais da Segunda Grande Guerra, em 1944 e 1945. A anotação que dele extraí é de que a estória da atuação de nossos pracinhas contraria em alguns aspectos importantes àquela que se conta em prosa e verso. Há notas cruas, incisivas quanto ao preparo militar para luta contra o alquebrado mas experiente exército alemão, positivado no batismo de fogo para a conquista do Monte Castelo.
Também concluí a leitura do primeiro volume dos “Diários do Presidente” de FHC – 885 páginas! O que registrei dele. Primeiro, a extraordinária sensibilidade do sociólogo Fernando Henrique Cardoso para análise percuciente e mesmo fria em alguns instantes ao sobrepor emoções fortes que abalam o dia a dia de quem ocupa tão elevado cargo. Sua preocupação central como meta foi o relato pelas reformas estruturais que no seu pensar estão a exigir a modernidade social, econômica e política. A fortificação dos pilares implantados pelo plano real que exigiam esforços para quebrar o anacronismo fiscal e monetário que ainda persistiam resistir. FHC considerava a imperiosidade das reformas preconizadas sobretudo porque as instituições existentes estavam “minadas por todos os lados”. Muito lutou nos dois primeiros anos de seu primeiro mandato, 95 e 96, e o que realizou não obstante num país que olha o tempo todo para o chão, quando devia olhar para os horizontes – afirmara.
Tem razão o eminente ex-presidente. As tricas e futricas que tanto tomaram o seu tempo útil, as lutas por posições no governo, as falsidades palacianas, os interesses escusos e encobertos por vestes de cordeiro, exigiram de FHC um esforço mental e físico que em reiteradas vezes deixou claro registrado em seu Diário.
A leitura dos dois livros preencheu os momentos de lazer, a exuberância da Mata Atlântica e o olhar para os horizontes ilimitados do mar. Voltando à realidade de nosso Brasil sofrido, não creio haver boas perspectivas para 2016. No quadro político falta-lhe o espírito bravio, a gana intimorata das oposições, sobretudo do PSDB, que nega-se ouvir o seu presidente de honra, FHC. Sou de um passado histórico, mas sempre presente quando havia necessidade de uma voz que despertava multidões, mesmo carbonária é verdade como a de Carlos Lacerda, que em instantes muito semelhantes ao que hoje se assiste valeu para estigmatizar os “mal feitos”.
Na ausência na política, do espírito oposicionista vigilante, levantou-se, pela justiça federal, Ministério Público Federal e a Polícia Federal, a Operação Lava Jato, que cobre exemplarmente a lacuna, para que neste duvidoso 2016 possa-se manter uma fimbria de esperança! Os dias passam e a cada novo dia o pábulo do lulopetismo mais se aproxima das vistas do íntegro magistrado Sérgio Moro.
Da chácara Santa Bárbara, em Atibaia, ao triplex Solaris, do Guarujá, a distância se encurta...