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Ruben Figueiró de Oliveira: "A feição autêntica de um governante"

Ex-senador da República

Redação

14/10/2015 - 00h00
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Acredito que milhares de leitores (as) de o CORREIO DO ESTADO, edição dominical do dia 11, leram a entrevista capitaneada pela jornalista Cristina Medeiros concedida pelo governador Reinaldo Azambuja. Da leitura qual a conclusão que dela levantaram, positiva ou negativa?

Todos, ou boa parte dos assíduos leitores de nosso vanguardeiro Diário, conhecem as minhas convicções políticas e partidárias sedimentadas em mais de sessenta e cinco anos de militância nessa buliçosa área de tantos embates ideológicos, doutrinários ou mesmo de opções oportunistas – à estas opções sou avesso. Se me disponho a escrever nesta coluna sob o pensamento do governador expresso na entrevista, é por convencimento de que ela, na largueza dos conceitos emitidos, deram a feição autêntica de sua personalidade.

Diante de uma jornalista de aguda sensibilidade profissional, Reinaldo Azambuja portou-se com a estatura de um homem público consciente da importante missão que lhe foi delegada pelos seus concidadãos. De começo, ao comentar a data histórica da implantação de nosso Mato Grosso do Sul como unidade federativa, bem situou-se ao enfatizar que com a divisão territorial de Mato Grosso, criou-se duas células vitais para o desenvolvimento econômico, social e político do Brasil, numa região como a do Centro Oeste, estratégica sob o ponto de vista da geo-política nacional.

Diria que a Divisão, premonição e ação real de vultos como Jango Mascarenhas, Bento Xavier e outros divisionistas ainda no final do século XIX, acreditando-a possível, e após por mais de sete décadas por outros idealistas, tantos o foram, concretizou-se num desejo cívico insopitável. Recordando de todos de igual mérito lembro do nome hoje histórico de Paulo Coelho Machado, último presidente da Liga Sul Mato-grossense.

Ao responder as indagações de Cristina Medeiros, o Governador alargou-se por vários temas que aguçam de preocupações em todos nós sul-mato-grossenses diante do quadro aflitivo a que o desequilibrado governo central levou ao abismo financeiro, econômico e de insegurança às nossas instituições. Mutatis mutandis foi claro quanto positivo sobre como recebeu de seu antecessor a nau do Estado. Sobre tais temas, Reinaldo Azambuja não rodeou o toco. Não escondeu a realidade, porém delineou a direção que escolheu para equacionar a solução dos problemas que desafiam a sua condição de timoneiro. Abriu horizontes, reafirmou seu propósito expresso em seu programa “Pensando MS”, aliás aclamado no pleito eleitoral.

Ao responder a ácida estocada arguta jornalista, Reinaldo foi candente, positivo – diria eu, lembrando Che Guevara, “mas com ternura” - mostrou a situação preocupante com que recebeu os negócios do Estado, inclusive com surpresas de fatos novos, ex não expostos nos dados oficiais enjaulados num “pacote de bondades”, claramente com o propósito maquiavélico de engessar o novo governo estadual. Sendo firme na resposta, mostrou o governador equilíbrio político e que a poeira do passado não o impediria de cumprir com exação profícua a sua meta de governar.

Afirmo, com estamento nas difíceis condições econômicas, políticas e sociais que o País atravessa atingindo todos os setores vitais de nossa comunidade nacional, a entrevista do Governador foi positiva. Se valor maior não apresenta, tem o condão máximo de manter a confiança que temos de um governador consciente do uso com prudência, serenidade, equilíbrio é essencial para quem, como ele, está investido do munus público.

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Produtos livres de desmatamento nas estratégias da União Europeia

11/04/2024 07h30

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O Regulamento para Produtos Livres de Desmatamento é um entre vários componentes do Pacto Ambiental Europeu (European Green Deal), que tem como objetivo final atingir neutralidade de emissões de gases de efeito estufa em 2050, com um crescimento econômico livre da exploração excessiva dos recursos naturais e sem deixar ninguém para trás.

Trata-se, portanto, de uma peça dentro de um quebra-cabeça bem mais complexo que visa tornar a Europa um continente sustentável e carbono neutro.

Desde 2019, o Pacto Ambiental Europeu apresenta diretrizes que vão sendo gradativamente regulamentadas, cobrindo de energia renovável a produção de alimentos, passando por transporte e construção civil.

Trata-se de um marco legal abrangente que aborda diversas questões ambientais, incluindo o desmatamento, como parte dos esforços da União Europeia (UE) para um novo modelo de economia verde. 

O regulamento para produtos livres de desmatamento, aprovado em 2023, disciplina as atividades dos importadores europeus que passam a ser responsáveis por garantir que os produtos adquiridos não venham de áreas desmatadas depois de 31 de dezembro de 2020.

As restrições entram em vigor no final de 2024. Os importadores são os responsáveis pela implementação das verificações nos países exportadores, as chamadas “due dilligences”. 

As implicações para o Brasil são significativas, pois a UE é o segundo maior comprador dos nossos produtos agropecuários. Enfrentamos sérios problemas de desmatamento ilegal na floresta amazônica, além de questões fundiários e sociais.

Outro ponto importante é que a legislação europeia não faz distinção do que é considerado desmatamento legal ou ilegal. A normativa claramente se refere a desmatamento em geral. 

Esse ponto vem sendo questionado pelo governo brasileiro, alegando que está acima das exigências legais do ordenamento jurídico do país. Argumenta-se que essa normativa representaria uma forma de barreira não tarifária aos produtos do Brasil.

Entretanto, o argumento contrário é de que a UE tem a prerrogativa de estabelecer os critérios para os produtos que farão parte das suas cadeias de suprimento. E, como o objetivo maior é a redução dos impactos ambientais do consumo dos próprios europeus, nada mais lógico do que exigir que seus fornecedores sigam padrões compatíveis com essa ambição.

Importante notar que há fortes reações ao Pacto Ambiental dentro da própria UE, como vimos recentemente nos diversos protestos de produtores rurais no território europeu.

Embora estejam sensibilizando parte da sociedade e postergando algumas limitações, dificilmente a insatisfação dos produtores europeus ou dos governos fornecedores de produtos agrícolas para a Europa terão força para uma guinada nos objetivos de longo prazo da UE.

Parece haver um sério proposito do continente em mudar completamente suas bases de desenvolvimento, mirando a transição para uma economia mais resiliente e de baixas emissões de gases de efeito estufa.

Ao Brasil cabe o desafio de entender essas normativas e entrar em um processo de negociação sério e embasado na ciência. Ainda há grandes lacunas sobre como serão feitas as verificações do desmatamento e, sobretudo, como serão mapeadas as origens de cada lote de exportação.

Precisaremos acelerar nossos investimentos em rastreabilidade e transparência nos processos produtivos, assim como no aprimoramento de plataformas de monitoramento territorial. Tudo isso em consonância e em estreita colaboração com os importadores e agentes da União Europeia.

Ainda estamos em um momento de discussão e entendimento junto aos agentes europeus de como o novo regulamento será implementado no Brasil. Entende-se que será um processo com aprendizado mútuo e um período de adaptação.

Os entes governamentais têm o papel de catalisar essa discussão entre produtores, processadores e exportadores brasileiros para que estejamos prontos para manter a liderança como fornecedores de produtos agrícolas para a União Europeia. 

 

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Era uma vez em uma escola na Suécia

11/04/2024 07h30

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Depois de anos educando as crianças quase que exclusivamente com recursos digitais, o Ministério da Educação da Suécia começou a perceber alguns sintomas perturbadores nas suas crianças: deficiência na leitura e na compreensão de textos apropriados para a idade, muita dificuldade de escrever e, quando solicitadas, escritas realizadas apenas em caixa alta.

Mas o que mais chamou a atenção foi a percepção de que as crianças também começaram a apresentar dificuldades para expressar o que sentiam, pois lhes faltava vocabulário até mesmo para descrever cenas breves ou relatos de emoções simples.

Muitas dessas manifestações, resultantes da falta de exercício cognitivo e motor, assemelhavam-se a alguns transtornos psicológicos, e não é de se espantar que muitos pais possam ter procurado psicólogos, feito exames ou mesmo ministrado medicamentos, preocupados com a lentidão, o mutismo ou ainda com dificuldade de compreensão de seus jovens filhos.

O governo sueco, diante dessa constatação, resolveu dar uma guinada nas suas orientações escolares e agora estimula fortemente o uso de livros em vez de laptops, como também incentiva a leitura em voz alta, as rodas de conversa e a prática da escrita - inclusive ditados - com o objetivo de reverter o cenário que se desenhava catastrófico para o futuro.

Crianças que não são estimuladas desde cedo em atividades motoras e intelectuais podem ter dificuldades de desenvolvimento profissional na vida adulta, particularmente em um mundo onde a criatividade e a inovação são realidade em todo lugar. 

No último Pisa, divulgado em 2023, o resultado geral dos jovens estudantes suecos foi de 487, ante 499 registrado na edição anterior, de 2018. Em Matemática, a queda foi de 15 pontos e em Leitura, de 10 pontos.

Suficiente para que fizesse um país sério, como a Suécia, acender as luzes amarelas e buscar compreender as razões dessa perda de energia no aprendizado de seus jovens cidadãos, (para além dos efeitos da covid, que afetou de maneira praticamente igual os países participantes).

Uma das medidas que o governo buscou implementar em todas as escolas - embora na Suécia o programa e as orientações pedagógicas não sejam unificadas como no Brasil - foi: menos celular, menos laptop e mais livro, leitura, escrita e conversa. O básico que, desde mais ou menos cinco séculos atrás, tem orientado a ideia do que é ensinar e aprender.

 Lógico que esta constatação não implica em demonizar o uso de tecnologia em sala de aula, mas de usá-la com sabedoria, de forma que ela ofereça o que, de fato, não é possível conseguir por outros meios.

Mal comparando, é como o hábito de muita gente usar palavras em inglês para se referir a coisas ou situações nas quais já existe uma palavra em português perfeitamente cabível. Esse é o mau uso da língua estrangeira. O que não significa que não se deva aprendê-la e usá-la, muito pelo contrário.

A tecnologia compreende um conjunto de ferramentas e habilidades que deve servir para ampliar nossa capacidade de ler, raciocinar, produzir e nos comunicar. Mas, para isso, precisamos antes saber ler, raciocinar, produzir e nos comunicar.

O perigo do uso de celulares e laptops no ensino fundamental é o de diminuir ou mesmo obstaculizar  o desenvolvimento motor e cognitivo das crianças, além de dificultar a expressão de ideias, emoções e socialização, por falta de vocabulário capaz de se fazer entender quando relatar uma experiência.

O fenômeno hikikomori, que se refere aos jovens que abandonam qualquer contato social real e mantêm-se isolados em seus quartos, comunicando-se apenas pelas redes sociais, vem se alastrando por todo mundo, assim como a descrição de novos transtornos psicológicos associados à dificuldade de comunicação e socialização. A saída, porém, pode estar um pouco antes do consultório médico ou do psicólogo. Na boa e velha sala de aula.

 

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