15 de novembro de 1889. Pergunto: essa data sugere a lembrança de um ímpar acontecimento que deu rumo radical às instituições de nosso País? Pela visão dos dias que correm até parece que não, ou muito pouco diante do olvido, da penumbra que vem encobrindo o cenário nacional de indiferença cívica. Isto, infelizmente, constatei hoje, quinze de novembro, domingo. Nenhuma referência oficial. Nos meios de comunicação televisionada, radiofônica ou impressa, nada surgiu que mencionasse mesmo en passant, o histórico evento.
Dos três poderes da República – a começar pelo que detém o Palácio do Planalto, sua Titular, a primeira mandatária da nação, avionou dez mil quilômetros para um encontro do chamado G20 (onde é figura decorativa), lá na Turquia; acredito que sua excelência lá foi, inclusive, para desanuviar a cuca dos pesadelos que ela própria criou para o povo – se lembraram até de uma simples referência à histórica data.
Ao que as evidências indicam, a começar pelas autoridades maiores, tem-se a impressão que nós brasileiros nesta posição de inércia a que fomos levados por àquelas autoridades, estamos olhando para os nossos umbigos pressurosos, ou como a avestruz que enterra a cabeça na terra para desconhecer o que está a sua volta, num processo desesperado do “salve-se quem puder”. Os valores da nacionalidade não possuem mais representação em nossa consciência, hoje ocupada pelas afrontas recebidas pelos escândalos que emergiram da abertura tal qual lembra a mitologia greco-romana da “caixa de pandora”, com odor fedido das excrecências fermentadas pelos mensalões, de triste memória, seguida dos atuais petrolões que a todo instante surgem das águas ácidas da Operação Lava Jato atingindo até ao Salão Verde da Câmara dos Deputados, onde seu presidente, de extraordinária sabedoria satânica, tenta envolver a todos de sua honestidade de fancaria.
Essa lama nos faz esquecer que, há mais de um século, idealistas republicanos como Quintinho Bocaiúva, Benjamim Constant dentre outros veneráveis cidadãos, os quais num golpe de oportunidade conseguiram do marechal Deodoro da Fonseca a derrubada do sistema monárquico de governo, o Império, para que se implantasse a República que rege o País há cento e vinte seis anos, democrático é certo, mas com inúmeros tropeços institucionais em seu curso histórico.
A data é 15 de novembro de 1889. Pela sua transcendência história deveria ser imemorial e relembrada sempre para o aprimoramento de nossa cultura política, para destacar às novas gerações nossas origens e o quanto os antepassados a elas conseguiram edificar em favor do estado democrático de direito. O que se nota, pesarosos nós de outras gerações, que a mocidade atual está a quo, indiferente, creio, que por ausência de oportunidades de lembranças, não só como a data de 15 de novembro, mas a de 7 de setembro e 21 de abril, através de eventos oficiais despertadores dos sentimentos mais nobres de civismo e de penhor ao nosso passado tão referto de atos de bravura e nacionalidade.
O historiador Lira Neto, na trilogia em que trata a figura de Getúlio Vargas, lembra do caudilho gaúcho Borges de Medeiros, quando afirmara “em política, como no culto religioso, não se pode prescindir das solenidades externas”. Realmente, estas constituem um eficiente instrumento de lembrança que motiva e exalta o ânimo recôndito na alma de todo o cidadão, dos fundamentos que edificaram, pela ação patriótica dos que nos antecederam, de princípios cívicos e da crença em nossa nacionalidade.