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Ruben Figueiró: "Abraço de tamanduá"

Ex-senador da República

Redação

29/04/2016 - 02h00
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Pertence ao nosso folclore rural de que quando se recebe um abraço de quem se tem dúvida por alguma razão, esse é um abraço de tamanduá, falso, e cujas unhas pontiagudas ferem profundamente a nossa estima.

Trago àcolação esta imagem para tecer algumas e breves considerações sobre este momento buliçoso da política nacional. Poucas dúvidas persistem quanto à cassação do mandato da senhora presidente da Republica. Elas, no meu entendimento, se dissiparão logo após a admissibilidade do processo de impeachment pelo plenário do Senado – a final são necessários quarenta e um votos senatoriais, quorum já admitido pela própria liderança do PT e até o extrapola para quarenta e seis. Assim, aberta a porteira creio que nas votações seguintes e sobretudo na definitiva em plenário a soma dos votos a serem proferidos pelas senhoras e senhores senadores aproximar-se -á dos sessenta ou mais, isto além dos cinquenta e quatro exigidos como maioria absoluta!

Vencida a primeira e crucial fase no Senado, ou seja da admissibilidade do processo de impeachment, empossado o vice presidente no curul presidencial da República, aí é que a porca torcerá o rabo: a formação do gabinete ministerial. Para a importantíssima missão, o apelo nacional é no sentido de uma junção de esforços de todos os partidos – claro de fora o Partido dos Trabalhadores que estará amuado, num canto e espumando de raiva – e dos seguimentos vivos da comunidade para a enfrentação dos múltiplos obstáculos, estes tão ou mais agressivos dos hora enfrentados, inclusive pela “herança ultra maldita”, aliás estão sendo intensificada pelo governo dilmista já nos seus estertores!

Especula-se qual será a posição do PSDB no eventual futuro governo Temer. Entendo que o tucanato não poderá a ele ficar indiferente, distante da luta pelo soerguimento dos valores nacionais, da recuperação econômica e social da ordem legal tão delapidados, das reformas estruturais tão reclamadas por uma nova legislação político partidária, por uma legislação previdenciária já que a atual está exangue, a recuperação do espírito federativo com vistas às dívidas dos estados perante a União, e outras tantas que o povo reclama nas ruas.

Porém uma indagação: o PSDB pela sua executiva nacional impetrou Recurso perante o Superior Tribunal Eleitoral impugnando a chapa vitoriosa Dilma/Temer, nas eleições de 2014, por mal gestão na prestação de contas. O processo está em curso naquela Alta Corte, já na fase probatória e deverá possivelmente ser apreciado até o final deste ano. Este um fato irreversível de ordem ética e moral para o PSDB. Diante dele, seria incongruência o partido participar do corpo ministerial deum eventual governo Temer. Tal posição não impede, out rance, que o PSDB democraticamente, tanto pelas suas bancadas na Câmara dos Deputados, no Senado da República e por seus governadores, esclarecida solidariedade as ações do novo governo para restabelecer os princípios maiores da governabilidade e da Pátria. Reciprocamente o presidente Temer e o PSDB não dariam abraços de tamanduá!

PS: Após o memorável 13 de abril, perguntaram-me sobre a decisão da Câmara dos Deputados sobre o pedido de admissibilidade de impeachment da presidente Dilma, respondi: gostei do resultado. Lamentei o espetáculo circense!...

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Produtos livres de desmatamento nas estratégias da União Europeia

11/04/2024 07h30

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O Regulamento para Produtos Livres de Desmatamento é um entre vários componentes do Pacto Ambiental Europeu (European Green Deal), que tem como objetivo final atingir neutralidade de emissões de gases de efeito estufa em 2050, com um crescimento econômico livre da exploração excessiva dos recursos naturais e sem deixar ninguém para trás.

Trata-se, portanto, de uma peça dentro de um quebra-cabeça bem mais complexo que visa tornar a Europa um continente sustentável e carbono neutro.

Desde 2019, o Pacto Ambiental Europeu apresenta diretrizes que vão sendo gradativamente regulamentadas, cobrindo de energia renovável a produção de alimentos, passando por transporte e construção civil.

Trata-se de um marco legal abrangente que aborda diversas questões ambientais, incluindo o desmatamento, como parte dos esforços da União Europeia (UE) para um novo modelo de economia verde. 

O regulamento para produtos livres de desmatamento, aprovado em 2023, disciplina as atividades dos importadores europeus que passam a ser responsáveis por garantir que os produtos adquiridos não venham de áreas desmatadas depois de 31 de dezembro de 2020.

As restrições entram em vigor no final de 2024. Os importadores são os responsáveis pela implementação das verificações nos países exportadores, as chamadas “due dilligences”. 

As implicações para o Brasil são significativas, pois a UE é o segundo maior comprador dos nossos produtos agropecuários. Enfrentamos sérios problemas de desmatamento ilegal na floresta amazônica, além de questões fundiários e sociais.

Outro ponto importante é que a legislação europeia não faz distinção do que é considerado desmatamento legal ou ilegal. A normativa claramente se refere a desmatamento em geral. 

Esse ponto vem sendo questionado pelo governo brasileiro, alegando que está acima das exigências legais do ordenamento jurídico do país. Argumenta-se que essa normativa representaria uma forma de barreira não tarifária aos produtos do Brasil.

Entretanto, o argumento contrário é de que a UE tem a prerrogativa de estabelecer os critérios para os produtos que farão parte das suas cadeias de suprimento. E, como o objetivo maior é a redução dos impactos ambientais do consumo dos próprios europeus, nada mais lógico do que exigir que seus fornecedores sigam padrões compatíveis com essa ambição.

Importante notar que há fortes reações ao Pacto Ambiental dentro da própria UE, como vimos recentemente nos diversos protestos de produtores rurais no território europeu.

Embora estejam sensibilizando parte da sociedade e postergando algumas limitações, dificilmente a insatisfação dos produtores europeus ou dos governos fornecedores de produtos agrícolas para a Europa terão força para uma guinada nos objetivos de longo prazo da UE.

Parece haver um sério proposito do continente em mudar completamente suas bases de desenvolvimento, mirando a transição para uma economia mais resiliente e de baixas emissões de gases de efeito estufa.

Ao Brasil cabe o desafio de entender essas normativas e entrar em um processo de negociação sério e embasado na ciência. Ainda há grandes lacunas sobre como serão feitas as verificações do desmatamento e, sobretudo, como serão mapeadas as origens de cada lote de exportação.

Precisaremos acelerar nossos investimentos em rastreabilidade e transparência nos processos produtivos, assim como no aprimoramento de plataformas de monitoramento territorial. Tudo isso em consonância e em estreita colaboração com os importadores e agentes da União Europeia.

Ainda estamos em um momento de discussão e entendimento junto aos agentes europeus de como o novo regulamento será implementado no Brasil. Entende-se que será um processo com aprendizado mútuo e um período de adaptação.

Os entes governamentais têm o papel de catalisar essa discussão entre produtores, processadores e exportadores brasileiros para que estejamos prontos para manter a liderança como fornecedores de produtos agrícolas para a União Europeia. 

 

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Era uma vez em uma escola na Suécia

11/04/2024 07h30

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Depois de anos educando as crianças quase que exclusivamente com recursos digitais, o Ministério da Educação da Suécia começou a perceber alguns sintomas perturbadores nas suas crianças: deficiência na leitura e na compreensão de textos apropriados para a idade, muita dificuldade de escrever e, quando solicitadas, escritas realizadas apenas em caixa alta.

Mas o que mais chamou a atenção foi a percepção de que as crianças também começaram a apresentar dificuldades para expressar o que sentiam, pois lhes faltava vocabulário até mesmo para descrever cenas breves ou relatos de emoções simples.

Muitas dessas manifestações, resultantes da falta de exercício cognitivo e motor, assemelhavam-se a alguns transtornos psicológicos, e não é de se espantar que muitos pais possam ter procurado psicólogos, feito exames ou mesmo ministrado medicamentos, preocupados com a lentidão, o mutismo ou ainda com dificuldade de compreensão de seus jovens filhos.

O governo sueco, diante dessa constatação, resolveu dar uma guinada nas suas orientações escolares e agora estimula fortemente o uso de livros em vez de laptops, como também incentiva a leitura em voz alta, as rodas de conversa e a prática da escrita - inclusive ditados - com o objetivo de reverter o cenário que se desenhava catastrófico para o futuro.

Crianças que não são estimuladas desde cedo em atividades motoras e intelectuais podem ter dificuldades de desenvolvimento profissional na vida adulta, particularmente em um mundo onde a criatividade e a inovação são realidade em todo lugar. 

No último Pisa, divulgado em 2023, o resultado geral dos jovens estudantes suecos foi de 487, ante 499 registrado na edição anterior, de 2018. Em Matemática, a queda foi de 15 pontos e em Leitura, de 10 pontos.

Suficiente para que fizesse um país sério, como a Suécia, acender as luzes amarelas e buscar compreender as razões dessa perda de energia no aprendizado de seus jovens cidadãos, (para além dos efeitos da covid, que afetou de maneira praticamente igual os países participantes).

Uma das medidas que o governo buscou implementar em todas as escolas - embora na Suécia o programa e as orientações pedagógicas não sejam unificadas como no Brasil - foi: menos celular, menos laptop e mais livro, leitura, escrita e conversa. O básico que, desde mais ou menos cinco séculos atrás, tem orientado a ideia do que é ensinar e aprender.

 Lógico que esta constatação não implica em demonizar o uso de tecnologia em sala de aula, mas de usá-la com sabedoria, de forma que ela ofereça o que, de fato, não é possível conseguir por outros meios.

Mal comparando, é como o hábito de muita gente usar palavras em inglês para se referir a coisas ou situações nas quais já existe uma palavra em português perfeitamente cabível. Esse é o mau uso da língua estrangeira. O que não significa que não se deva aprendê-la e usá-la, muito pelo contrário.

A tecnologia compreende um conjunto de ferramentas e habilidades que deve servir para ampliar nossa capacidade de ler, raciocinar, produzir e nos comunicar. Mas, para isso, precisamos antes saber ler, raciocinar, produzir e nos comunicar.

O perigo do uso de celulares e laptops no ensino fundamental é o de diminuir ou mesmo obstaculizar  o desenvolvimento motor e cognitivo das crianças, além de dificultar a expressão de ideias, emoções e socialização, por falta de vocabulário capaz de se fazer entender quando relatar uma experiência.

O fenômeno hikikomori, que se refere aos jovens que abandonam qualquer contato social real e mantêm-se isolados em seus quartos, comunicando-se apenas pelas redes sociais, vem se alastrando por todo mundo, assim como a descrição de novos transtornos psicológicos associados à dificuldade de comunicação e socialização. A saída, porém, pode estar um pouco antes do consultório médico ou do psicólogo. Na boa e velha sala de aula.

 

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