Artigos e Opinião

OPINIÃO

Ruben Figueiró: "A Fadiga dos Partidos Políticos"

Ex-senador da República

Redação

05/07/2016 - 01h00
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Não é raro dizer-se quando há um desastre aéreo atribuir-se como causa a fadiga dos materiais componentes da aeronave, em virtude de seu intenso ou longo uso. Assim também quando se assiste (e se deplora) a senectude de propósitos dos atuais partidos políticos. Pode-se afirmar que tal tem semelhança com a fadiga dos velhos aviões. Esses como as agremiações partidárias perdem a confiança popular. É um fenômeno que ocorre atualmente nas chamadas democracias existentes no mundo.

O surpreendente resultado do Referendo ocorrido no Reino Unido (Inglaterra, Escócia, País de Gales, Irlanda do Norte, Ilhas Malvinas e demais possessões espalhadas ao redor do Globo Terrestre) é um claríssima comprovação da fadiga de credibilidade dos Partidos Conservador, tradicionais contendores pelo comando da Great Britain. O Primeiro Ministro, que é Conservador, o Chefe do Trabalhismo aliaram-se pela permanência do Reino Unido na Comunidade Europeia de Nações. Porém seus seguidores dividiram-se de opinião, muitos não seguiram o comando central. David Cameron, Pimeiro Ministro, deixará a Chefia do Gabinete, sente-se desprestigiado; Jeremy Corbyn, presidente do Labour Party, está zonzo e ameaçado de perder o cargo.

O fenômeno tsunâmico está deixando a nu o que ocorre pela Europa, com partidos em frangalhos, com dissidências cada vez mais evidentes. Na França, com François Holand, na Alemanha, com Angela Merkel, os dois países de maior expressão econômica da União Europeia – apenas para citá-los dos vinte e sete integrantes do Bloco. Nos Estados Unidos, tanto o Partido Democrata como o Partido Republicano, em plena contenda pela conquista da Casa Branca, estão sob a desconfiança de seus próprios filiados e eleitores.

Aqui pelas nossas bandas, as recentes eleições na vizinha Argentina deixaram às claras profundas divergências e distensões internas no Partido Peronista. Que dizer com o que acontece em nosso país? A dúvida vem de longe, desde o falho ato político do AI-II, em novembro de 1965, no Regime Militar, extinguindo as então consolidadas siglas partidárias existentes desde a redemocratização com a queda do Estado Novo do ditador Getúlio Vargas, UDN, PSD, PS, PTB, PSB, PSP e outros, substituindo-os pelos fantasmagóricos ARENA e MDB, levando o eleitorado perder a noção de partidos orgânicos e programáticos - ressalto.

A Carta magna de 1988, impondo uma nova legislação eleitoral confundiu ainda mais a conceituação do quadro político-partidário. Na realidade, os chamados grandes partidos se confundem com as pequenas siglas (exceção das de conteúdo ideológico) com chefias espertas armadas com argumento de precioso “tempo” nos organismos de comunicação social para tradições vantajosas. Os grandes perderam a noção programática e vivem profundas distensões de consciência. Os pequenos, sem eira nem beira doutrinária, até parecem bezerros “guaxos” …

O povo advertido com os escândalos do mensalão, robustecido com o advento e em plena execução a Operação Lava Jato que desmancha os entreveros do petrolão, estarrecido com os escândalos que estão surgindo a cada dia, tende a fugir das próximas eleições municipais ao considerar inexistências de opções válidas. È triste afirmar.

EDITORIAL

As bolhas que nos afastam da realidade

Enquanto uma parte do Estado amplia suas zonas de conforto, outra é pressionada a fazer mais com menos, arcando com o desgaste político e social das escolhas difíceis

17/12/2025 07h15

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A expressão “estar em uma bolha” deixou de ser apenas uma gíria de internet para se transformar em um retrato cada vez mais fiel da forma como a sociedade vem se organizando. Nas redes sociais, algoritmos direcionam conteúdos, opiniões e notícias de acordo com preferências previamente identificadas.

O resultado é um ambiente confortável em que quase tudo confirma aquilo que o indivíduo já pensa. Divergir passa a ser exceção e confrontar ideias, um incômodo evitado.

Fora do ambiente digital, a lógica das bolhas também se impõe. O isolamento crescente em condomínios fechados, verticais ou horizontais, reduz o contato cotidiano com o diferente. Ao limitar o convívio, o indivíduo perde a oportunidade de compreender realidades distintas da sua própria.

Torna-se, ao mesmo tempo, mais desconfiado e mais desinformado, conhecendo o mundo mais pelo “ouvir dizer” do que pela experiência direta. A realidade passa a ser filtrada, editada e, muitas vezes, distorcida.

As bolhas criam falsas impressões. Quando se consolidam em grupos, reforçadas pelo sentimento de pertencimento, geram uma perigosa falta de sintonia com o restante da sociedade. Problemas coletivos passam a ser relativizados, minimizados ou simplesmente ignorados.

A empatia dá lugar à autoproteção e o interesse público acaba substituído pela preservação de privilégios.

Nesta edição, mostramos um exemplo concreto dessa desconexão: o aumento do duodécimo para quase todas as instituições de Mato Grosso do Sul, mesmo após um ano marcado por crise financeira, enquanto cresce a sobrecarga sobre o Poder Executivo.

É sobre ele que recai, de forma quase exclusiva, o peso de enfrentar as dores reais da sociedade: da falta de recursos para serviços essenciais às demandas crescentes por saúde, educação, transporte e assistência social.

Essa discrepância orçamentária não é apenas um dado técnico. Ela reforça as bolhas institucionais. Enquanto uma parte do Estado amplia suas zonas de conforto, outra é pressionada a fazer mais com menos, arcando com o desgaste político e social das escolhas difíceis.

Trata-se de um desequilíbrio que aprofunda a sensação de injustiça e distancia ainda mais as instituições da realidade vivida pela população.

Seria desejável que integrantes das instituições que recebem repasses de duodécimo saíssem de suas bolhas. Que vivessem mais intensamente a realidade fora de gabinetes, relatórios e planilhas.

Que entendessem que, em tempos de dificuldades financeiras, reforçar privilégios e ampliar confortos institucionais não é apenas insensível, é socialmente injusto.

Romper bolhas não é simples, mas é necessário. Para indivíduos, para grupos e, sobretudo, para instituições públicas. A democracia e a justiça social exigem mais contato com a realidade concreta e menos acomodação em mundos protegidos. Caso contrário, seguiremos administrando percepções, e não problemas reais.

ARTIGOS

A Interpol e as lições do roubo ao Louvre: quando a cultura exige proteção global

O que alguns insistem em tratar como luxo é, na verdade, expressão de identidade coletiva, memória histórica e soberania cultural

16/12/2025 07h45

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A Interpol é amplamente reconhecida por seus sistemas de avisos e pela atuação no combate ao crime organizado transnacional.

O recente episódio envolvendo o Louvre, porém, recoloca em evidência um ponto ainda subestimado no debate público: crimes não violentos, como o roubo de bens culturais, também demandam tutela internacional qualificada.

O tráfico de obras de arte e de patrimônio histórico segue sendo um delito de baixo risco e alto lucro, alimentado pela opacidade do mercado e pela fragmentação das respostas estatais.

O que alguns insistem em tratar como luxo é, na verdade, expressão de identidade coletiva, memória histórica e soberania cultural. A Interpol parte dessa premissa, ao reconhecer a cultura como interesse jurídico protegido, merecedor da mesma atenção dedicada à vida, à segurança e à integridade física.

Nesse contexto, o Banco de Dados de Obras de Arte Roubadas da organização cumpre papel central: dar rastreabilidade a um mercado em que o patrimônio cultural pode, com facilidade, converter-se em saque.

A existência do banco de dados não é apenas simbólica. Ela permite a identificação de peças subtraídas, inibe a circulação ilícita e oferece suporte técnico às investigações nacionais.

Ainda assim, a eficácia do sistema depende de algo que nem sempre acompanha a velocidade do crime: cooperação internacional efetiva e compartilhamento ágil de informações entre agências de aplicação da lei.

Há espaço evidente para aprimoramentos. A ampliação do banco de dados com atualizações em tempo real, a integração mais ampla de museus, casas de leilão e colecionadores privados, além de protocolos obrigatórios de verificação de procedência, fortaleceriam significativamente o combate ao tráfico ilícito.

Do mesmo modo, penalidades mais rigorosas e treinamento especializado para forças policiais e autoridades alfandegárias são medidas indispensáveis para reduzir a atratividade econômica desse tipo de crime.

O episódio do Louvre serve como alerta. Proteger bens culturais não é capricho elitista nem pauta secundária: é defesa da memória, da identidade e do patrimônio comum da humanidade.

Quando uma obra é roubada, perde-se mais do que um objeto, perde-se um fragmento da história coletiva. A resposta, portanto, precisa ser global, coordenada e à altura desse valor.

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