Rio Branco foi reconhecido por muitos, à época em que esteve à frente do Palácio Itamaraty, entre os anos de 1902 e 1912, como “o maior dos brasileiros”.
O elogio lhe causava desconforto, vez que considerava o atributo mais adequado a D. Pedro II e em segundo lugar ao seu pai. O juízo formulado por José Maria da Silva Paranhos Júnior tinha fundamento e autoridades em política e história brasileira concordariam com ele ainda hoje.
O senso de proporção e justiça foi uma de suas qualidades. Basta dizer, nesta singela homenagem, que foi um dos maiores brasileiros de todos os tempos.
Sua condição foi reconhecida, como nos lembra o saudoso Álvaro Lins, na abertura do que é provavelmente a melhor Biografia de Rio Branco, em placa que se refere à sua principal realização: “que pelo talento, saber e patriotismo, dilatou o território da Pátria do Norte ao Sul”.
Na obra de Lins, publicada originalmente em 1945, ano do centenário do nascimento de Rio Branco e da criação do Instituto que leva seu nome, não somente suas realizações concretas como os tratados de limites são exaltadas, mas igualmente suas contribuições imateriais.
A atuação de Rio Branco em negociações sobre fronteiras foi, indubitavelmente, estupenda.
Como advogado ou como Ministro das Relações Exteriores teve papel decisivo na definição das fronteiras com a Argentina, por decisão arbitral de 1895; com a Guiana Francesa, também por decisão arbitral, em 1900; com a Guiana Holandesa, por tratado assinado em 1906; com a Colômbia, em 1907; com o Equador, em 1904; com o Peru, em 1909; com a Bolívia, em 1903.
Com Uruguai, negociações controversas à época e nas quais o Brasil fez concessões, seguiu o mesmo espírito que os negociadores do Império que, ainda criança, acompanhara, o de seguir as precauções exigidas pelas circunstâncias da época.
A concessão da livre navegação no rio Jaguarão e na Lagoa Mirim, ao lado do condomínio sobre as águas e pequena retificação de fronteiras respondeu à necessidade de ganhar o respeito e gratidão de um vizinho situado em fronteira sensível e potencialmente conflituosa.
Respondeu igualmente ao exercício da conciliação, à priorização de negociações bilaterais antes do arbitramento e ao senso de oportunidade.
Essas características também estiveram presentes nas diretrizes políticas do Ministério, como no estabelecimento de relações profícuas com os Estados Unidos, na busca do equilíbrio de influências no Prata e no respeito aos tratados internacionais.
A proximidade com Washington, sem ferir a soberania brasileira, rendeu ao país bons negócios e possibilitou um bom posicionamento em relação aos vizinhos sul-americanos. No Prata, criou condições para evitar conflitos e manter o equilíbrio entre os atores.
Rio Branco não unanimidade. Apontado por críticos internos e lideranças políticas platinas como militarista e imperialista, apresentava argumentos simples e esclarecedores.
Nunca advogou a criação de uma máquina de guerra colossal no Brasil, preferindo sugerir uma força armada proporcional às necessidades do litoral brasileiro; nem favoreceu guerras de conquista, tendo trabalhado mais na defesa do território que Portugal legou ao Brasil.
Em suas próprias palavras, “toda nossa vida como estado livre e soberano atesta a moderação e os sentimentos pacíficos do Governo Brasileiro, em perfeita consonância de sentimento com a índole e a vontade da nação”.
No centésimo septuagésimo segundo aniversário de seu nascimento, no dia 20 de abril, rendemos nossa homenagem ao destacar duas de suas várias qualidades, a vocação para a conciliação e a defesa intransigente da paz. Sem dúvida, um dos maiores homens de nossa história.