Artigos e Opinião

artigo

A+ A-

Rodrigo Mendes Ribeiro e Guilherme Lamenha: "Por uma nova comunicação pública"

Rodrigo Mendes Ribeiro - Sociólogo e cientista politico, é subsecretário de comunicação do Estado de Mato Grosso do Sul
Guilherme Lamenha jornalista, é subsecretário adjunto de comunicação do Estado de Mato Grosso do Sul

Redação

02/03/2015 - 00h00
Continue lendo...

No mundo todo, especialmente em mercados mais maduros, novas formas de se fazer comunicação pública vem surgindo.  

Para além de informar a população, a comunicação do governo contemporâneo tem a obrigação de se pautar pela verdade. O público não aceita mais a enganação, o engodo, a burla tão comuns na publicidade governamental, razão de fundo do enorme descrédito que costuma merecer.  Assim, mesmo que muitos políticos relutem em enxergar, o cidadão-eleitor hoje tem muito mais acesso à informação e uma parcela, cada vez maior, é atenta e crítica. 

A propaganda narcisista, autoreferenciada, em que o governo é único protagonista da ação está com seus dias contados.  No seu lugar, o que deve prevalecer é a conversa franca e direta com o cidadão, a busca permanente do diálogo (que supera o monólogo) e a incorporação dos cidadãos, como sujeitos, através de sua participação ativa no governo.

Nessa nova comunicação pública o que importa é dar voz à população e mostrar como a ação do governo (que passa a ser o pano de fundo) mudou para melhor a vida cotidiana das pessoas. O enredo é a experiência concreta do cidadão, com ênfase na identidade coletiva e na autoestima da sociedade. O protagonismo é dos cidadãos, a partir do atendimento concreto de suas demandas.

Esse novo jeito de comunicar é marcado pelo profissionalismo nas relações entre os governos e as demais instituições atuantes no processo, notadamente, agências de publicidade e veículos de imprensa. 

O profissionalismo é alicerçado no acentuado grau de cientificidade presente nas várias etapas da comunicação: análise de públicos-alvo, abrangência e especificidade de cada mídia, conhecimento do market share de cada veículo, eficácia das campanhas (pré e pós-testadas) e, fundamentalmente, capacidade de conversão da comunicação em ações, aceitação de produtos e serviços públicos e em imagem positiva de líderes políticos. 

Essas bases em nada se aproximam das velhas práticas do toma-lá-dá-cá, do compadrio e, mais grave ainda, do achaque e da chantagem. Em uma sociedade democrática, romper com essas velhas políticas é uma necessidade que se impõe. O novo relacionamento está pautado na legalidade e na transparência entre todos os agentes envolvidos, públicos ou privados. 

O governo deve ser capaz de produzir relevância e conteúdos que tenha interesse para o público. E essa é a matéria-prima da imprensa. Ao mesmo tempo, o governo tem a obrigação de dar publicidade às suas ações e o faz na forma de anúncios. Precisa, portanto, dos canais de comunicação. Os veículos, de seu turno, precisam de publicidade (pública e privada) para ter viabilidade comercial. Essa é a troca: governo oferta conteúdo relevante e publicidade e os veículos fazem a informação chegar ao público. Qualquer relação diversa dessa não será mais aceita.       

Mas quem acredita que será fácil implantar uma nova forma de se fazer comunicação pública está enganado. O velho sempre resiste. Toda mudança implica em conflito com as práticas e os interesses antigos e que, há anos, estão encrustadas no aparelho do Estado. A mudança carrega sempre a marca da esperança e, no final, o novo há de vencer. Para o bem da sociedade.