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Roberto Santos Cunha:
"O apartheid brasileiro"

Advogado ([email protected])

Redação

26/10/2014 - 00h00
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O apartheid, que da língua africâner significa “separação”, consistiu em um regime de segregação racial que vigorou na África do Sul entre os anos de 1948 e 1994. Nele, uma minoria branca que controlava o poder, em razão apenas da cor da pele, impunha odiosas e hediondas restrições à maioria da população daquele país, dividida em “brancos”, “negros”, “de cor” e “indianos”. Além da separação obrigatória por regiões geográficas distintas, serviços públicos de diversas naturezas, como educação, saúde, entre outros, eram prestados com diferença de qualidade aos cidadãos considerados de raça inferior. 

Entretanto, essa disparatada segregação acabou por gerar uma revolta interna nacional, cujo movimento reativo, após anos e anos de luta, conseguiu, enfim, dar cabo desse nefasto regime estadista sul-africano, levando às eleições gerais livres e democráticas no país, nas quais foi eleito, em 1994, o ícone da liberdade Nelson Mandela.

No Brasil, temos assistido a uma vil campanha eleitoral praticada pelo partido da situação, que busca incessantemente incutir na população uma espécie de apartheid brasileiro. Vem sendo propalada a ideia no sentido de que existiria uma dicotomia entre os partidos que concorrem à eleição em segundo turno, em que a oposição (PSDB) representaria a população mais abastada, enquanto a situação, do PT, os menos favorecidos, criando um repugnante clima de segregação entre brasileiros. Com efeito, os responsáveis pela campanha partidária que tenta difundir essa ideia descalçam o coturno da ética, trilhando o caminho do apelo social e econômico, ao se valer da principal mazela que assola o povo brasileiro, segregando-o economicamente, de forma astuciosa e absolutamente inidônea, para fidelizar os votos dos menos privilegiados.

Contudo, tal partido esqueceu que, se o País possui população escamoteada, deve também avocar a maior parcela dessa responsabilidade para si, já que se encontra no poder há mais de uma década. Para fazer eficazmente a inclusão social, não bastam planos assistencialistas. Não queremos aqui dizer que estes devem acabar, pois são indispensáveis no Brasil. Mas, aliados a tais planos, devem haver outras políticas públicas essenciais, como melhoria da educação, criação de empregos, saúde de qualidade, etc. Ao que parece, implementar tais políticas deixou de ser prioridade na administração do atual governo federal, que se limitou às famigeradas “bolsas” assistenciais. E essa política assistencialista pura, adotada no Brasil, foi propositalmente levada a efeito pelos dirigentes da Nação, que dela se utilizam em época de campanha, em verdadeiro apartheid brasileiro, com o objetivo de se perpetuar no poder com uma espécie de curral eleitoral com voto cativo. 

Ocorre que somos todos filhos deste solo que é mãe gentil, independentemente da cor, raça, credo, religião, situação econômica ou qualquer outra distinção que se pretenda fazer. Neste sentido, por fazermos parte de uma mesma nação, não podemos mais tolerar nenhuma espécie de diferenciação. Portanto, devemos conjugar esforços para acabar com o apartheid adotado pelo partido da situação, que por ele é abjetamente utilizado em época de campanha. Para tanto, é indispensável promover as mudanças que o País urgentemente necessita, a fim de que possamos, unidos, viver dias melhores, com verdadeira inclusão social e sem distinção de qualquer natureza.