“Ói nóis aqui travez, nos úrtimos”. Mais uma avaliação internacional da qualidade de ensino e o Brasil, como sempre, entre os últimos, desta vez 60º entre 76 avaliados pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE. Não bastasse, greve dos professores que querem melhores salários e sem ter como oferecer contrapartida. O resultado dessa avaliação mostra o fiasco que é o ensino brasileiro e seu quadro docente e gerencial. Os alunos são meras consequências do aprendizado aplicado, o que nos leva a crer ser impossível a continuidade do sistema de ensino e da forma estrutural em que se baseia o seu gerenciamento.
Anos após anos os governantes sempre têm milhares de saídas e desculpas pelo fracasso e, de imediato, reagem com novas normas falaciosas para a educação. Promessas de novos investimentos são irradiadas pela mídia como um novo tempo, que nunca virá se mantido o cordão umbilical da educação ao corpo político, o Executivo. A palavra de ordem de quem quer realmente fazer pela educação deveria ser ruptura, com o sistema vigente, na forma e no conteúdo. Proposta para tal ruptura apresentei em 17/01/2015 – artigo “Educação para os educadores, uma proposta”.
Temos que descolar a educação do comando da política. Ela tem que ter personalidade própria e dirigida de forma inteligente e sábia e não ao sabor dos ventos e ingerências, como já ocorreu, de quem mal sabe assinar o seu nome, caso do ex-presidente. Educação é coisa extremamente séria para ser tratada da forma como é feita no Brasil. Não há nenhuma possibilidade de desenvolvimento de qualquer Nação sem um excelente sistema de ensino. É balela o que pregam os mandatários, ocupantes de cargos executivos na esfera federal, estadual e municipal, de que investimento financeiro resolverá o problema brasileiro na educação. Esse discurso está restrito a obras físicas e sem qualquer preocupação com a questão didática e pedagógica. É preciso melhor atenção e determinação com a exigência da boa educação, a qualidade.
Os cuidados de gerenciamento com aquele que ensina não existem. Por outro lado, se baixo está o grau de respeitabilidade dos professores na escala profissional, é deles a responsabilidade. A grande massa não faz por merecer respeito como tal, exatamente por não ter um nível de preocupação e interesse em exigir equipamentos, treinamentos, conhecimento profissional de sua área, formação continuada, observação da linguagem culta, conhecimento e base de relacionamento interpessoal e, até mesmo, de cuidados pessoais e por aí vai. O grave disto é que este comportamento se estende até aos cursos superiores. Existe apenas um ponto em comum entre todos: a briga por melhores salários. Os fatores melhores condições de trabalho e outros exigidos algumas vezes nos movimentos reclamatórios salariais são apenas um disfarce para dar aquele ar de que se preocupam com as condições das escolas. Conseguido o aumento no holerite, tudo o mais fica para a próxima greve.
Dominada por sindicatos oportunistas que, quase sempre, têm como única meta aproveitar-se das benesses que o cargo oferece, até mesmo na relação com governos, os educadores são manipulados como massa de manobra pelos chamados líderes que não fazem outra coisa a não ser cumprir com determinações ideológicas de partidos ou grupelhos que os dominam. Estes, por outro lado, fazem suas ações de forma a assegurar sua condição política de comando, mas não são minimamente capazes, e competentes, em realizar ações que possam dar um “start” em um novo tempo aos profissionais da área. Não conseguem assimilar que a evolução da educação é acompanhada de maior valorização profissional, seja no campo salarial, social, técnico, entre outros.
Somado aos problemas com os educadores, está o povo brasileiro que, caso tivesse maior grau de formação escolar, não teria permitido as lambanças que fizeram, e ainda fazem, com o seu dinheiro e com a economia do Brasil. Perdeu-se, em nome de políticas populistas, aquele período de fartura no mercado mundial para nos consolidar economicamente e, talvez, nossa situação teria sido outra em nossos dias. O despreparo educacional da população favorece o aparecimento de oportunistas e mercadores de sonhos, os ilusionistas, que levam a grande massa a acreditar que vive um novo tempo. É o chamado voo da galinha, curto e desastroso. São razões que levam ao “Ói nóis aqui travez”, de volta aos velhos tempos, o povo sem grana, inflação, doenças se alastrando, criminalidade em alta, quebradeira de empresas, educação uma lástima, enfim, nos “úrtimos”.