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Rapphael Curvo: "Educação para educadores, uma proposta (I)"

Advogado

Redação

27/01/2015 - 00h00
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Mais de cem mil cristãos – incluídas aí crianças – são assassinados por ano no mundo muçulmano pelo simples fato de que são cristãos. Não fazem proselitismo, não hostilizam, não fazem piada, nem muito menos constroem templos. Apenas têm outra crença. É o bastante. (JBF)

Educação, uma tragédia. Não há mais o que escrever neste espaço sobre a péssima educação brasileira. Há anos e mais anos que venho elaborando textos voltados ao nosso ensino e, assim como muitos outros articulistas, perdemos tempo, se bem que “bem perdido”. Os resultados do ENEM demonstram a lástima em que está o ensino no Brasil. Estamos ano após ano assassinando, intelectualmente, milhões de jovens, destruindo o nosso futuro e preparando uma pesada carga a sua vida, a vida de todos brasileiros. 

Mais de 500 mil (529.374), isso mesmo, quinhentos mil estudantes que pleitearam uma vaga em universidade tiveram nota zero na prova de redação. Atentem: 500 mil. Apenas 250, de 6,2 milhões, conseguiram nota máxima. Outros milhões, pelo que tem corrido a boca pequena, obtiveram notas pouco acima de zero. Isso tem que ser divulgado para conhecimento do nosso estágio educacional. 

Não bastasse o desastre, outro se operou no âmbito administrativo de governo, um corte de 7 bilhões de reais no orçamento para a Educação. Aí fica a dúvida: qual a intenção do governo federal com a educação? Qual o peso do sistema educacional para o futuro do Brasil? Outras muitas perguntas não terão respostas que tenham a Educação como prioridade para a presidência brasileira. A nomeação de um ex-governador para o cargo leva a crer que continua a pasta da Educação como trampolim político e de subserviência aos interesses políticos e de negociatas. O próprio disse que o resultado do ENEM “não dá para fugir ou camuflar”. Esse campo minado de incompetentes, de dirigentes desqualificados, alguns mal sabem pegar em um lápis, é ao qual está entregue o futuro brasileiro. Triste e sombria realidade.

O interessante é que todos esses acontecimentos de destruição da Educação não sofrem nenhuma campanha contrária de porte na mídia brasileira. Há uma pacífica aceitação de todos que colocam as falcatruas da Petrobras como algo vital a vida do Brasil. Não fazem um link de que tudo tem sua raiz na educação, na falta de preparo dos jovens para uma vida ética e moral pela via de que só o conhecimento pode gerar resultados positivos ao desenvolvimento do Brasil e contra essa bandalheira. Não há insatisfação da população que só vai as ruas para brigar por centavos, não há enfrentamento, fora meia dúzia, dos representantes do povo no Congresso Nacional. O Ministro Cid Gomes, futuro petista, está ali com claros objetivos: segurar o nordeste para as próximas eleições e evitar a ação livre do Lulla. Para o governo, ministério da Educação é um instrumento político, e só.

Educação é para educadores, uma proposta, será uma série de artigos sobre uma proposição de mudança na estrutura educacional, sendo a maior voltada à desvinculação da administração da Educação da esfera do Executivo, em qualquer nível, municipal, estadual e federal. Para melhor entender, teria seu funcionamento nos moldes do Ministério Público, independente. Essa proposta visa retirada da Educação dessas ações nefastas de mantê-la como cabide de negociação política. É uma tentativa de oferecer uma via para desenvolver a Nação e que ela possa deixar o poço do subdesenvolvimento que só o aprendizado de qualidade e eficiente oferece essa escada. É via a Educação que a população poderá entender e passar a ver o quanto é explorada pelo governo e grandes corporações privadas que sugam seu sangue e o fruto do seu trabalho, minguado pelos salários de baixa qualidade que não permitem maiores e melhores expectativas para sua vida, já que estão limitados pelo sistema, valores de emprego e formação profissional.

Antes que me classifiquem pretensioso, estou fazendo a minha parte como cidadão. É obrigação, principalmente, para aqueles como eu que ainda dispõem de espaços, aproveitá-los não só para fazer críticas ou outras avaliações, mas oferecer alternativas em todas as áreas que possam, quem sabe, servir de caminho ao sofrido povo brasileiro que por séculos vive abraçado, em sua esmagadora maioria, com a ignorância educacional e a falta de oportunidade de aspirar melhor vida como a existente nos países desenvolvidos. Para isso, é preciso educação, ensino de qualidade e vontade política. Sonhar é o primeiro passo para realizar.  

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Produtos livres de desmatamento nas estratégias da União Europeia

11/04/2024 07h30

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O Regulamento para Produtos Livres de Desmatamento é um entre vários componentes do Pacto Ambiental Europeu (European Green Deal), que tem como objetivo final atingir neutralidade de emissões de gases de efeito estufa em 2050, com um crescimento econômico livre da exploração excessiva dos recursos naturais e sem deixar ninguém para trás.

Trata-se, portanto, de uma peça dentro de um quebra-cabeça bem mais complexo que visa tornar a Europa um continente sustentável e carbono neutro.

Desde 2019, o Pacto Ambiental Europeu apresenta diretrizes que vão sendo gradativamente regulamentadas, cobrindo de energia renovável a produção de alimentos, passando por transporte e construção civil.

Trata-se de um marco legal abrangente que aborda diversas questões ambientais, incluindo o desmatamento, como parte dos esforços da União Europeia (UE) para um novo modelo de economia verde. 

O regulamento para produtos livres de desmatamento, aprovado em 2023, disciplina as atividades dos importadores europeus que passam a ser responsáveis por garantir que os produtos adquiridos não venham de áreas desmatadas depois de 31 de dezembro de 2020.

As restrições entram em vigor no final de 2024. Os importadores são os responsáveis pela implementação das verificações nos países exportadores, as chamadas “due dilligences”. 

As implicações para o Brasil são significativas, pois a UE é o segundo maior comprador dos nossos produtos agropecuários. Enfrentamos sérios problemas de desmatamento ilegal na floresta amazônica, além de questões fundiários e sociais.

Outro ponto importante é que a legislação europeia não faz distinção do que é considerado desmatamento legal ou ilegal. A normativa claramente se refere a desmatamento em geral. 

Esse ponto vem sendo questionado pelo governo brasileiro, alegando que está acima das exigências legais do ordenamento jurídico do país. Argumenta-se que essa normativa representaria uma forma de barreira não tarifária aos produtos do Brasil.

Entretanto, o argumento contrário é de que a UE tem a prerrogativa de estabelecer os critérios para os produtos que farão parte das suas cadeias de suprimento. E, como o objetivo maior é a redução dos impactos ambientais do consumo dos próprios europeus, nada mais lógico do que exigir que seus fornecedores sigam padrões compatíveis com essa ambição.

Importante notar que há fortes reações ao Pacto Ambiental dentro da própria UE, como vimos recentemente nos diversos protestos de produtores rurais no território europeu.

Embora estejam sensibilizando parte da sociedade e postergando algumas limitações, dificilmente a insatisfação dos produtores europeus ou dos governos fornecedores de produtos agrícolas para a Europa terão força para uma guinada nos objetivos de longo prazo da UE.

Parece haver um sério proposito do continente em mudar completamente suas bases de desenvolvimento, mirando a transição para uma economia mais resiliente e de baixas emissões de gases de efeito estufa.

Ao Brasil cabe o desafio de entender essas normativas e entrar em um processo de negociação sério e embasado na ciência. Ainda há grandes lacunas sobre como serão feitas as verificações do desmatamento e, sobretudo, como serão mapeadas as origens de cada lote de exportação.

Precisaremos acelerar nossos investimentos em rastreabilidade e transparência nos processos produtivos, assim como no aprimoramento de plataformas de monitoramento territorial. Tudo isso em consonância e em estreita colaboração com os importadores e agentes da União Europeia.

Ainda estamos em um momento de discussão e entendimento junto aos agentes europeus de como o novo regulamento será implementado no Brasil. Entende-se que será um processo com aprendizado mútuo e um período de adaptação.

Os entes governamentais têm o papel de catalisar essa discussão entre produtores, processadores e exportadores brasileiros para que estejamos prontos para manter a liderança como fornecedores de produtos agrícolas para a União Europeia. 

 

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Era uma vez em uma escola na Suécia

11/04/2024 07h30

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Depois de anos educando as crianças quase que exclusivamente com recursos digitais, o Ministério da Educação da Suécia começou a perceber alguns sintomas perturbadores nas suas crianças: deficiência na leitura e na compreensão de textos apropriados para a idade, muita dificuldade de escrever e, quando solicitadas, escritas realizadas apenas em caixa alta.

Mas o que mais chamou a atenção foi a percepção de que as crianças também começaram a apresentar dificuldades para expressar o que sentiam, pois lhes faltava vocabulário até mesmo para descrever cenas breves ou relatos de emoções simples.

Muitas dessas manifestações, resultantes da falta de exercício cognitivo e motor, assemelhavam-se a alguns transtornos psicológicos, e não é de se espantar que muitos pais possam ter procurado psicólogos, feito exames ou mesmo ministrado medicamentos, preocupados com a lentidão, o mutismo ou ainda com dificuldade de compreensão de seus jovens filhos.

O governo sueco, diante dessa constatação, resolveu dar uma guinada nas suas orientações escolares e agora estimula fortemente o uso de livros em vez de laptops, como também incentiva a leitura em voz alta, as rodas de conversa e a prática da escrita - inclusive ditados - com o objetivo de reverter o cenário que se desenhava catastrófico para o futuro.

Crianças que não são estimuladas desde cedo em atividades motoras e intelectuais podem ter dificuldades de desenvolvimento profissional na vida adulta, particularmente em um mundo onde a criatividade e a inovação são realidade em todo lugar. 

No último Pisa, divulgado em 2023, o resultado geral dos jovens estudantes suecos foi de 487, ante 499 registrado na edição anterior, de 2018. Em Matemática, a queda foi de 15 pontos e em Leitura, de 10 pontos.

Suficiente para que fizesse um país sério, como a Suécia, acender as luzes amarelas e buscar compreender as razões dessa perda de energia no aprendizado de seus jovens cidadãos, (para além dos efeitos da covid, que afetou de maneira praticamente igual os países participantes).

Uma das medidas que o governo buscou implementar em todas as escolas - embora na Suécia o programa e as orientações pedagógicas não sejam unificadas como no Brasil - foi: menos celular, menos laptop e mais livro, leitura, escrita e conversa. O básico que, desde mais ou menos cinco séculos atrás, tem orientado a ideia do que é ensinar e aprender.

 Lógico que esta constatação não implica em demonizar o uso de tecnologia em sala de aula, mas de usá-la com sabedoria, de forma que ela ofereça o que, de fato, não é possível conseguir por outros meios.

Mal comparando, é como o hábito de muita gente usar palavras em inglês para se referir a coisas ou situações nas quais já existe uma palavra em português perfeitamente cabível. Esse é o mau uso da língua estrangeira. O que não significa que não se deva aprendê-la e usá-la, muito pelo contrário.

A tecnologia compreende um conjunto de ferramentas e habilidades que deve servir para ampliar nossa capacidade de ler, raciocinar, produzir e nos comunicar. Mas, para isso, precisamos antes saber ler, raciocinar, produzir e nos comunicar.

O perigo do uso de celulares e laptops no ensino fundamental é o de diminuir ou mesmo obstaculizar  o desenvolvimento motor e cognitivo das crianças, além de dificultar a expressão de ideias, emoções e socialização, por falta de vocabulário capaz de se fazer entender quando relatar uma experiência.

O fenômeno hikikomori, que se refere aos jovens que abandonam qualquer contato social real e mantêm-se isolados em seus quartos, comunicando-se apenas pelas redes sociais, vem se alastrando por todo mundo, assim como a descrição de novos transtornos psicológicos associados à dificuldade de comunicação e socialização. A saída, porém, pode estar um pouco antes do consultório médico ou do psicólogo. Na boa e velha sala de aula.

 

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