Estou entre aqueles que admiram o papel que alguns homens e mulheres desempenham na história mundial. Eles e elas conseguiram galvanizar as contradições do seu tempo e indicaram caminhos que permitiram melhorar as condições do seu povo.
A história está cheia de exemplos de lideranças que, em condições profundamente adversas, com ousadia, coragem e compromisso social, conduziram seus países a novo patamar econômico, político e social.
Homens e mulheres como Roosevelt, Abraham Lincoln, Konrad Adenauer, Gandhi, Winston Churchill, Michelle Bachelet, Angela Merkel, entre outros e outras que cumpriram, no seu tempo, papel central. Estou convencido de que o presidente Barack Obama faz parte desse panteão de homens diferenciados que administraram seus países com justiça, respeito e compromisso com a humanidade.
Não é uma tarefa fácil fazer política, ampla, em época de crise econômica e intolerância em todas as dimensões da atividade humana. Obama governou com um congresso hostil, influenciado, no geral, pelo conservadorismo do Tea party. Conviveu parte importante do seu mandato com uma das maiores crises econômicas da história dos EUA e do mundo.
Estabeleceu relações políticas e econômicas com outras nações que também estavam em crise econômica e, em muitos casos, também política. Nenhum continente ficou livre do caos econômico que começou em 2008 e até agora continua destruindo riquezas, empregos e parte das conquistas democráticas tão caras a humanidade.
Sabemos que interesses privados e de classe com muita força nos EUA costumam impedir que suas lideranças aprofundem os valores democráticos e convertam seus mandatos em instrumento de desenvolvimento e paz entre as pessoas do planeta. Obama sabe disso muito bem: Em uma entrevista à revista The New Yorker, publicada em 2014, ele falou sobre a limitada capacidade dos presidentes de mudar o mundo e disse: “Nós só tentamos que o nosso legado seja correto”.
Vejo que Barack Obama tentou ajudar a construir um mundo mais justo e mais plural, em que pesem as imensas dificuldades. Sua famosa frase indicando que a “esperança venceu o medo” não foi apenas retórica política.
Obama é um homem comprometido com a melhor tradição democrática. Apontou, em muitos instantes, para a criação de um planeta onde cabem negros, brancos, índios, asiáticos, cristãos, não cristãos, enfim um mundo mais fraterno e antenado com os desafios do século XXI. Tanto que não se furtou a debater os grandes temas mundiais. A questão das mudanças climáticas, da segurança mundial e combate ao terrorismo, a busca de novas relações com Cuba, reaproximação com Irã, a defesa dos direitos dos homossexuais, controle de armas para civis e a luta para aprovar uma política de saúde voltada para atender as pessoas mais pobres.
É verdade que em outras frentes ele não teve tanto êxito. A promessa que acabaria com o Presidio de Guantánamo não se concretizou. A classe média americana não recuperou totalmente seu antigo padrão de vida, o que influenciou na eleição de Trump.
Admiro a elegância com que Obama faz política. Seus adversários são tratados com dialogo e muito respeito. Ele passa muita autoridade e determinação na defesa daquilo que acredita. Em todos os momentos a política está no centro do debate.
Neste dia 20 de janeiro ele deixa o comando da nação mais poderosa da Terra. Deixa também um legado que considero muito importante para o mundo. Sua relação com a juventude, com a família, com as mídias sociais e a forma como dignificou o cargo de presidente são exemplos que devem ser seguidos em todo mundo.
Que a humanidade produza novos Barack Obama!