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Pedro Chaves: "Por um novo Ensino Médio"

Senador da república

Redação

04/11/2016 - 02h00
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Sou um daqueles que adoram trabalho e desafio. A vida tem sido muito generosa comigo, ela coloca no meu caminho relevantes empreitadas. Eu acho isso muito bom, pois abrir veredas em direção ao futuro é meu destino. 

Estou há cinco meses no senado Federal e recebi do Congresso Nacional uma tarefa das mais importantes, fui escolhido relator da medida provisória que objetiva modernizar o Ensino Médio brasileiro. Aceitei a missão porque sou comprometido com educação de qualidade.   

Não desconheço que, há muito tempo, o Ensino Médio no país vem perdendo qualidade. Os especialistas nessa temática não se cansam de alertar que esse nível de educação precisa passar por densa reforma, pois é um desserviço à Nação continuar oferecendo o Ensino Médio no formato atual.  

Dados oficiais mostram que o Ensino Médio nacional está estagnado desde 2011. Os resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), referente ao levantamento feito em 2015, apontam claramente a falência do modelo, quando alcançou 3,7. Muito distante, portanto, da meta de 4,3 estipulada pelo próprio governo federal. E mais: o Ensino Fundamental também não cumpriu a meta nacional, que era de 4,7. Conforme a avaliação nacional, essa fase educacional só atingiu 4,5. 

Se analisarmos as taxas de reprovação e o abandono dos alunos do Ensino Médio, conforme o Censo Escolar de 2015, veremos o tamanho do problema que temos pela frente. Dados de 2015 indicam que no primeiro ano a reprovação atingiu 16,6% e o abandono, 8,8%. Já no segundo ano, a reprovação foi da ordem de 10,1% e o abandono, de 6,3%. No último ano, a reprovação cai para 5,9% e o abandono, para 4,6%. 

Não há país que consiga vencer a pobreza e a falta de oportunidade se não investir maciçamente em educação de boa qualidade e inovação tecnológica. Os países que ficaram ricos ou caminham nessa direção ofertam aos seus jovens educação de alta qualidade. Na sua maioria, os alunos estudam dois turnos preparando-se para a vida social e o trabalho concreto. 

Vejo como muito positiva a medida provisória que o governo federal enviou ao Congresso Nacional, objetivando encontrar um caminho novo e diferente para o Ensino Médio. Não há tempo a perder, não podemos desperdiçar essa oportunidade.  

Foi criada uma comissão mista de senadores e deputados federais para, no prazo de 120 dias, apresentar ao Congresso Nacional relatório sobre a reforma do Ensino Médio, que deverá ser votada e encaminhada para sanção da presidência da República. 

Há um calendário de trabalho para os próximos sessenta dias. Nesse período, serão ouvidas, em audiência pública, autoridades educacionais, como o ministro da Educação e os representantes do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), do Conselho Nacional de Educação (CNE), da União Brasileira de Estudantes (UNE) e da União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES). 

Ao longo de dois meses, mais de cinquenta pessoas das mais diferentes correntes ideológicas e políticas serão ouvidas. Em alguns estados, inclusive Mato Grosso do Sul, serão realizadas audiências, a exemplo da que ocorreu no último dia 1º de  novembro, que reuniu oito convidados. 

A ideia é receber o maior número de informações para consubstanciar o relatório final. Nada vai ficar de fora. Toda contribuição será analisada, inclusive estudos recentes feitos pela Câmara dos Deputados sobre o Ensino Médio nacional.  

Conforme o calendário de trabalho, devemos apresentar a proposta para votação no plenário do Congresso Nacional no início de março de 2017. 

Mesmo sendo medida provisória, farei todo o esforço possível para que as etapas do processo sejam obedecidas. O diálogo permanente e a observância aos princípios democráticos nortearão os passos da relatoria. Sou apologista do debate e do trabalho coletivo. 

Estou confiante em que vamos entregar ao Brasil uma reforma do Ensino Médio moderna, progressista e eficaz. Esse projeto vai se converter numa poderosa ferramenta para alavancar o desenvolvimento da ciência e da inovação tecnológica de que tanto carecemos.

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Produtos livres de desmatamento nas estratégias da União Europeia

11/04/2024 07h30

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O Regulamento para Produtos Livres de Desmatamento é um entre vários componentes do Pacto Ambiental Europeu (European Green Deal), que tem como objetivo final atingir neutralidade de emissões de gases de efeito estufa em 2050, com um crescimento econômico livre da exploração excessiva dos recursos naturais e sem deixar ninguém para trás.

Trata-se, portanto, de uma peça dentro de um quebra-cabeça bem mais complexo que visa tornar a Europa um continente sustentável e carbono neutro.

Desde 2019, o Pacto Ambiental Europeu apresenta diretrizes que vão sendo gradativamente regulamentadas, cobrindo de energia renovável a produção de alimentos, passando por transporte e construção civil.

Trata-se de um marco legal abrangente que aborda diversas questões ambientais, incluindo o desmatamento, como parte dos esforços da União Europeia (UE) para um novo modelo de economia verde. 

O regulamento para produtos livres de desmatamento, aprovado em 2023, disciplina as atividades dos importadores europeus que passam a ser responsáveis por garantir que os produtos adquiridos não venham de áreas desmatadas depois de 31 de dezembro de 2020.

As restrições entram em vigor no final de 2024. Os importadores são os responsáveis pela implementação das verificações nos países exportadores, as chamadas “due dilligences”. 

As implicações para o Brasil são significativas, pois a UE é o segundo maior comprador dos nossos produtos agropecuários. Enfrentamos sérios problemas de desmatamento ilegal na floresta amazônica, além de questões fundiários e sociais.

Outro ponto importante é que a legislação europeia não faz distinção do que é considerado desmatamento legal ou ilegal. A normativa claramente se refere a desmatamento em geral. 

Esse ponto vem sendo questionado pelo governo brasileiro, alegando que está acima das exigências legais do ordenamento jurídico do país. Argumenta-se que essa normativa representaria uma forma de barreira não tarifária aos produtos do Brasil.

Entretanto, o argumento contrário é de que a UE tem a prerrogativa de estabelecer os critérios para os produtos que farão parte das suas cadeias de suprimento. E, como o objetivo maior é a redução dos impactos ambientais do consumo dos próprios europeus, nada mais lógico do que exigir que seus fornecedores sigam padrões compatíveis com essa ambição.

Importante notar que há fortes reações ao Pacto Ambiental dentro da própria UE, como vimos recentemente nos diversos protestos de produtores rurais no território europeu.

Embora estejam sensibilizando parte da sociedade e postergando algumas limitações, dificilmente a insatisfação dos produtores europeus ou dos governos fornecedores de produtos agrícolas para a Europa terão força para uma guinada nos objetivos de longo prazo da UE.

Parece haver um sério proposito do continente em mudar completamente suas bases de desenvolvimento, mirando a transição para uma economia mais resiliente e de baixas emissões de gases de efeito estufa.

Ao Brasil cabe o desafio de entender essas normativas e entrar em um processo de negociação sério e embasado na ciência. Ainda há grandes lacunas sobre como serão feitas as verificações do desmatamento e, sobretudo, como serão mapeadas as origens de cada lote de exportação.

Precisaremos acelerar nossos investimentos em rastreabilidade e transparência nos processos produtivos, assim como no aprimoramento de plataformas de monitoramento territorial. Tudo isso em consonância e em estreita colaboração com os importadores e agentes da União Europeia.

Ainda estamos em um momento de discussão e entendimento junto aos agentes europeus de como o novo regulamento será implementado no Brasil. Entende-se que será um processo com aprendizado mútuo e um período de adaptação.

Os entes governamentais têm o papel de catalisar essa discussão entre produtores, processadores e exportadores brasileiros para que estejamos prontos para manter a liderança como fornecedores de produtos agrícolas para a União Europeia. 

 

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Era uma vez em uma escola na Suécia

11/04/2024 07h30

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Depois de anos educando as crianças quase que exclusivamente com recursos digitais, o Ministério da Educação da Suécia começou a perceber alguns sintomas perturbadores nas suas crianças: deficiência na leitura e na compreensão de textos apropriados para a idade, muita dificuldade de escrever e, quando solicitadas, escritas realizadas apenas em caixa alta.

Mas o que mais chamou a atenção foi a percepção de que as crianças também começaram a apresentar dificuldades para expressar o que sentiam, pois lhes faltava vocabulário até mesmo para descrever cenas breves ou relatos de emoções simples.

Muitas dessas manifestações, resultantes da falta de exercício cognitivo e motor, assemelhavam-se a alguns transtornos psicológicos, e não é de se espantar que muitos pais possam ter procurado psicólogos, feito exames ou mesmo ministrado medicamentos, preocupados com a lentidão, o mutismo ou ainda com dificuldade de compreensão de seus jovens filhos.

O governo sueco, diante dessa constatação, resolveu dar uma guinada nas suas orientações escolares e agora estimula fortemente o uso de livros em vez de laptops, como também incentiva a leitura em voz alta, as rodas de conversa e a prática da escrita - inclusive ditados - com o objetivo de reverter o cenário que se desenhava catastrófico para o futuro.

Crianças que não são estimuladas desde cedo em atividades motoras e intelectuais podem ter dificuldades de desenvolvimento profissional na vida adulta, particularmente em um mundo onde a criatividade e a inovação são realidade em todo lugar. 

No último Pisa, divulgado em 2023, o resultado geral dos jovens estudantes suecos foi de 487, ante 499 registrado na edição anterior, de 2018. Em Matemática, a queda foi de 15 pontos e em Leitura, de 10 pontos.

Suficiente para que fizesse um país sério, como a Suécia, acender as luzes amarelas e buscar compreender as razões dessa perda de energia no aprendizado de seus jovens cidadãos, (para além dos efeitos da covid, que afetou de maneira praticamente igual os países participantes).

Uma das medidas que o governo buscou implementar em todas as escolas - embora na Suécia o programa e as orientações pedagógicas não sejam unificadas como no Brasil - foi: menos celular, menos laptop e mais livro, leitura, escrita e conversa. O básico que, desde mais ou menos cinco séculos atrás, tem orientado a ideia do que é ensinar e aprender.

 Lógico que esta constatação não implica em demonizar o uso de tecnologia em sala de aula, mas de usá-la com sabedoria, de forma que ela ofereça o que, de fato, não é possível conseguir por outros meios.

Mal comparando, é como o hábito de muita gente usar palavras em inglês para se referir a coisas ou situações nas quais já existe uma palavra em português perfeitamente cabível. Esse é o mau uso da língua estrangeira. O que não significa que não se deva aprendê-la e usá-la, muito pelo contrário.

A tecnologia compreende um conjunto de ferramentas e habilidades que deve servir para ampliar nossa capacidade de ler, raciocinar, produzir e nos comunicar. Mas, para isso, precisamos antes saber ler, raciocinar, produzir e nos comunicar.

O perigo do uso de celulares e laptops no ensino fundamental é o de diminuir ou mesmo obstaculizar  o desenvolvimento motor e cognitivo das crianças, além de dificultar a expressão de ideias, emoções e socialização, por falta de vocabulário capaz de se fazer entender quando relatar uma experiência.

O fenômeno hikikomori, que se refere aos jovens que abandonam qualquer contato social real e mantêm-se isolados em seus quartos, comunicando-se apenas pelas redes sociais, vem se alastrando por todo mundo, assim como a descrição de novos transtornos psicológicos associados à dificuldade de comunicação e socialização. A saída, porém, pode estar um pouco antes do consultório médico ou do psicólogo. Na boa e velha sala de aula.

 

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