O prefeito de São Paulo, nos primeiros dias de seu mandato, foi com uma vassoura à Av. Paulista, na companhia da atriz Regina Duarte, para limpar a rua e estimular a população a não sujar a cidade. Criou um factoide que lhe rendeu boa mídia. Aqui, nosso alcaide fez visitas-surpresa à Santa Casa e ao Hospital Universitário, constatando, nesse último, a ausência de médicos.
Ambas as situações reportam à figura histriônica do campo-grandense Jânio Quadros. A primeira lembrança é evocada pela “vassoura” usada por Dória. Afinal, ela era o símbolo político do janismo, que prometia varrer a corrupção, moralizar os costumes políticos, acabar com a “bandalheira”. A segunda pelas “visitas” de Marquinhos Trad, muito utilizadas por Jânio, bem como os bilhetinhos informais, marcas registradas de sua gestão. Em que pese sua natureza instável, a conturbada trajetória e as muitas polêmicas, inclusive familiares com a filha Tutu Quadros, ele é um ícone da política brasileira presente no imaginário das gerações mais velhas, capaz ainda de proporcionar alguns dividendos; daí essa inspiração.
Contudo, é preciso entender que, embora úteis, gestos simbólicos não são suficientes para assegurar uma administração assertiva. Em Campo Grande, o prefeito ”flagra o caos na ortopedia da Santa Casa”, a despeito de os médicos e demais profissionais estarem presentes. A propósito, não seria necessária visita ‘in loco” para apuração do óbvio, há muito conhecido. Aliás, convém lembrar que esse desastre, embora ganhe visibilidade no drama dos acidentados à espera de atendimento, tem a sua origem muito longe dali e numa esfera de atuação da estrita competência do poder público municipal.
Trata-se do transporte público, cuja atribuição é da prefeitura a qual, quando não organiza e oferta diretamente o serviço, transfere-o por concessão à iniciativa privada. Evidentemente, essa prestação de serviço deve estar condicionada a uma série de fatores, dentre os quais, o mais importante deveria ser a satisfação dos usuários e de todos os setores dependentes do transporte coletivo. Entretanto, isso não acontece e, por decorrência, tem-se um serviço de baixa qualidade e muito caro que, a cada ano, perde clientes em busca de alternativas para suprir a sua locomoção.
Como o preço do automóvel é inacessível para grande parcela dos que precisam de ônibus, a opção recai sobre a motocicleta popular, vendida em prestações módicas e nem sempre pilotada com habilitação; o crescimento exponencial da frota explica a escalada dos acidentes de trânsito envolvendo esses veículos, com um custo elevadíssimo para toda a sociedade. Além das vítimas fatais, há as escoriações, fraturas e toda ordem de impactos na saúde dos sobreviventes.
Registre-se o custo com assistência médico-hospitalar, cirurgias e/ou implantação de órteses e próteses, fisioterapia e outros procedimentos de atenção quaternária; com previdência, além do tempo parado dos que estão em idade produtiva. É muito dinheiro.
Diante disso, uma sugestão. Senhor prefeito escale assessores de sua estrita confiança. Determine que realizem, por apenas uma semana, toda a sua rotina diária utilizando-se somente dos ônibus à disposição da população ou caminhando e anotem o tempo dispendido à espera dos coletivos, a situação de conforto nos mesmos, a duração das viagens, as agendas não cumpridas, os sacrifícios suportados. Com essas informações será possível traçar estratégias muito simples para a melhoria dos serviços.
E se eles alcançarem uma qualidade civilizada, certamente haverá menor circulação de motos em nossa cidade, menos acidentes e, quiçá, a ortopedia da Santa Casa possa trocar o caos pela ordem.