Existem casais que se surpreendem com a infidelidade conjugal de uma ou outra parte, assim como pais que se espantam com o preservativo na mochila da filha ou uma trouxinha na gaveta das meias do filho, e ainda de como tais eventos espontâneos surgiram do nada, da noite para o dia, e se negam a fazer um exame de consciência na busca da origem dos acontecimentos.
Para o ser humano não admitir falha ou que sua confiança ou controle tenha sido colocado a prova, é normal embora fiquem indignados e sem ação por falta de argumentos ou meios para responsabilizar outrem por deixarem de acompanhar e fazer os ajustes necessários na correção dos desvios que lhes cabiam supervisionar.
Podemos prever ou pelo menos supor com uma boa dose de certeza, que onde existem homens, poder, dinheiro e naturalmente descontrole, haverá corrupção. Costumo dizer que a corrupção não é surpresa ou exclusividade tupiniquim, ou ainda restrita a propinas desse ou daquele regime, governo, partido, sistema, mas de um atavismo nato, ou seja, uma prática que surge de tempos em tempos, natural do ser humano cujos valores morais foram esquecidos propositadamente ou por conveniência, e no nosso caso, resultante também do excesso de liberdade (permissiva) adquirida após um regime autoritário. Livre discordar!
O texto não trata de ode a corrupção e sim do espanto que ela tem causado aos brasileiros, e é como se nunca soubessem que toda transação exige o equilíbrio das partes, de um lado um lucro financeiro, do outro a satisfação. Quanta ingenuidade! Nunca souberam que o capital (regime capitalista) define os interesses e decide sobre a vontade dos mortais. Nunca souberam de pessoas próximas (vizinhos, parentes, amigos, colegas de trabalho) cujo enriquecimento repentino põe em dúvida suas declarações financeiras. Parece que os brasileiros midiáticos, aqueles que se deixam levar pelos furos sensacionalistas, tem se surpreendido do mesmo modo que os casais ou os pais que viveram as experiências citadas anteriormente. Sem ação e sem culpa!
O exacerbamento dessas notícias, dos fatos, e aliado a frustração das pessoas resultou na paralisação do País: Mandrake aí Brasil!
Isso me lembra uma corrente financeira, o “avião” ou “pirâmide” onde o piloto ou faraó, contava com dois membros numa escala hierarquicamente inferior em que cada qual buscava outros dois contribuintes, e assim sucessivamente, em uma progressão geométrica, recebiam os rendimentos correspondentes a taxa de adesão, ficando livres para iniciarem nova corrente. Nada mais era do que o arremedo da ciranda financeira legal que o mundo vive junto aos bancos que emprestam o nosso pagando pouco e os deles com juros exorbitantes. Na época as notícias enfatizavam a prática como uma contravenção: alguém no fim da fila iria perder sua aplicação do momento corrente parasse. O que era de se esperar e é o que acontece hoje na economia grega, onde os depósitos não podem ser retirados, sob pena do país quebrar.
O espalhafato de notícias replicadas não só denigre a parte boa e produtiva brasileira, mas impede o funcionamento da “corrente”, da economia, das engrenagens que devem girar para manter a máquina que se realimenta com a entrada de novos ou antigos participantes assim como beneficia os grupos atualmente alijados do sistema. “Ninguém empresta a quem não presta” e os investidores sabem do que estou falando, pois conhecem o submundo das negociações (negociatas, lobbies, fees, esquemas), e querem ter a certeza que seus aportes serão creditados. É assim que funciona o mundo das finanças!
A macroeconomia brasileira está a mercê das notícias propaladas e dos espetaculismos surrealistas, a serviço de interesses escusos que divulgam para o mundo uma corrupção como se ele estivesse livre da sua sanha. O País Parou! Parou por quê? Portanto deixemos de ingenuidade e comecemos a agir como se tais acontecimentos fossem investigados em segredo de justiça, aliás, como deveriam ter sido.