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OPINIÃO

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''Parou por quê? Por que parou?''

Luiz Fernando Mirault Pinto - Físico e administrador

Redação

30/06/2015 - 00h00
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Existem casais que se surpreendem com a infidelidade conjugal de uma ou outra parte, assim como pais que se espantam com o preservativo na mochila da filha ou uma trouxinha na gaveta das meias do filho, e ainda de como tais eventos espontâneos surgiram do nada, da noite para o dia, e se negam a fazer um exame de consciência na busca da origem dos acontecimentos.

Para o ser humano não admitir falha ou que sua confiança ou  controle tenha sido colocado a prova, é normal embora fiquem indignados e sem ação por falta de argumentos ou meios para responsabilizar outrem por deixarem de acompanhar e fazer os ajustes necessários na correção  dos desvios que lhes cabiam supervisionar.

Podemos prever ou pelo menos supor com uma boa dose de certeza, que onde existem homens, poder, dinheiro e naturalmente descontrole, haverá corrupção.  Costumo dizer que a corrupção não é surpresa ou exclusividade tupiniquim, ou ainda restrita a propinas desse ou daquele regime, governo, partido, sistema, mas de um atavismo nato, ou seja, uma prática que surge de tempos em tempos, natural do ser humano cujos valores morais foram esquecidos propositadamente ou por conveniência, e no nosso caso, resultante também do excesso de liberdade (permissiva) adquirida após um regime autoritário. Livre discordar!

O texto não trata de ode a corrupção e sim do espanto que ela tem causado aos brasileiros, e é como se nunca soubessem que toda transação exige o equilíbrio das partes, de um lado um lucro financeiro, do outro a satisfação. Quanta ingenuidade! Nunca souberam que o capital (regime capitalista) define os interesses e decide sobre a vontade dos mortais. Nunca souberam de pessoas próximas (vizinhos, parentes, amigos, colegas de trabalho) cujo enriquecimento repentino põe em dúvida suas declarações financeiras. Parece que os brasileiros midiáticos, aqueles que se deixam levar pelos furos sensacionalistas, tem se surpreendido do mesmo modo que os casais ou os pais que viveram as experiências citadas anteriormente. Sem ação e sem culpa!
O exacerbamento dessas notícias, dos fatos, e aliado a frustração das pessoas resultou na paralisação do País: Mandrake aí Brasil!

Isso me lembra uma corrente financeira, o “avião” ou “pirâmide” onde o piloto ou faraó, contava com dois membros numa escala hierarquicamente inferior em que cada qual buscava outros dois contribuintes, e assim sucessivamente, em uma progressão geométrica, recebiam os rendimentos correspondentes a taxa de adesão, ficando livres para iniciarem nova corrente. Nada mais era do que o arremedo da ciranda financeira legal que o mundo vive junto aos bancos que emprestam o nosso pagando pouco e os deles com juros exorbitantes. Na época as notícias enfatizavam a prática como uma contravenção: alguém no fim da fila iria perder sua aplicação do momento corrente parasse. O que era de se esperar e é o que acontece hoje na economia grega, onde os depósitos não podem ser retirados, sob pena do país quebrar.

O espalhafato de notícias replicadas não só denigre a parte boa e produtiva brasileira, mas impede o funcionamento da “corrente”, da economia, das engrenagens que devem girar para manter a máquina que se realimenta com a entrada de novos ou antigos participantes assim como beneficia os grupos atualmente alijados do sistema.  “Ninguém empresta a quem não presta” e os investidores sabem do que estou falando, pois conhecem o submundo das negociações (negociatas, lobbies, fees, esquemas), e querem ter a certeza que seus aportes serão creditados. É assim que funciona o mundo das finanças! 

A macroeconomia brasileira está a mercê das notícias propaladas e dos espetaculismos surrealistas, a serviço de interesses escusos que divulgam para o mundo uma corrupção como se ele estivesse livre da sua sanha. O País Parou! Parou por quê? Portanto deixemos de ingenuidade e comecemos a agir como se tais acontecimentos fossem investigados em segredo de justiça, aliás, como deveriam ter sido.

ARTIGO

Produtos livres de desmatamento nas estratégias da União Europeia

11/04/2024 07h30

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O Regulamento para Produtos Livres de Desmatamento é um entre vários componentes do Pacto Ambiental Europeu (European Green Deal), que tem como objetivo final atingir neutralidade de emissões de gases de efeito estufa em 2050, com um crescimento econômico livre da exploração excessiva dos recursos naturais e sem deixar ninguém para trás.

Trata-se, portanto, de uma peça dentro de um quebra-cabeça bem mais complexo que visa tornar a Europa um continente sustentável e carbono neutro.

Desde 2019, o Pacto Ambiental Europeu apresenta diretrizes que vão sendo gradativamente regulamentadas, cobrindo de energia renovável a produção de alimentos, passando por transporte e construção civil.

Trata-se de um marco legal abrangente que aborda diversas questões ambientais, incluindo o desmatamento, como parte dos esforços da União Europeia (UE) para um novo modelo de economia verde. 

O regulamento para produtos livres de desmatamento, aprovado em 2023, disciplina as atividades dos importadores europeus que passam a ser responsáveis por garantir que os produtos adquiridos não venham de áreas desmatadas depois de 31 de dezembro de 2020.

As restrições entram em vigor no final de 2024. Os importadores são os responsáveis pela implementação das verificações nos países exportadores, as chamadas “due dilligences”. 

As implicações para o Brasil são significativas, pois a UE é o segundo maior comprador dos nossos produtos agropecuários. Enfrentamos sérios problemas de desmatamento ilegal na floresta amazônica, além de questões fundiários e sociais.

Outro ponto importante é que a legislação europeia não faz distinção do que é considerado desmatamento legal ou ilegal. A normativa claramente se refere a desmatamento em geral. 

Esse ponto vem sendo questionado pelo governo brasileiro, alegando que está acima das exigências legais do ordenamento jurídico do país. Argumenta-se que essa normativa representaria uma forma de barreira não tarifária aos produtos do Brasil.

Entretanto, o argumento contrário é de que a UE tem a prerrogativa de estabelecer os critérios para os produtos que farão parte das suas cadeias de suprimento. E, como o objetivo maior é a redução dos impactos ambientais do consumo dos próprios europeus, nada mais lógico do que exigir que seus fornecedores sigam padrões compatíveis com essa ambição.

Importante notar que há fortes reações ao Pacto Ambiental dentro da própria UE, como vimos recentemente nos diversos protestos de produtores rurais no território europeu.

Embora estejam sensibilizando parte da sociedade e postergando algumas limitações, dificilmente a insatisfação dos produtores europeus ou dos governos fornecedores de produtos agrícolas para a Europa terão força para uma guinada nos objetivos de longo prazo da UE.

Parece haver um sério proposito do continente em mudar completamente suas bases de desenvolvimento, mirando a transição para uma economia mais resiliente e de baixas emissões de gases de efeito estufa.

Ao Brasil cabe o desafio de entender essas normativas e entrar em um processo de negociação sério e embasado na ciência. Ainda há grandes lacunas sobre como serão feitas as verificações do desmatamento e, sobretudo, como serão mapeadas as origens de cada lote de exportação.

Precisaremos acelerar nossos investimentos em rastreabilidade e transparência nos processos produtivos, assim como no aprimoramento de plataformas de monitoramento territorial. Tudo isso em consonância e em estreita colaboração com os importadores e agentes da União Europeia.

Ainda estamos em um momento de discussão e entendimento junto aos agentes europeus de como o novo regulamento será implementado no Brasil. Entende-se que será um processo com aprendizado mútuo e um período de adaptação.

Os entes governamentais têm o papel de catalisar essa discussão entre produtores, processadores e exportadores brasileiros para que estejamos prontos para manter a liderança como fornecedores de produtos agrícolas para a União Europeia. 

 

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ARTIGO

Era uma vez em uma escola na Suécia

11/04/2024 07h30

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Depois de anos educando as crianças quase que exclusivamente com recursos digitais, o Ministério da Educação da Suécia começou a perceber alguns sintomas perturbadores nas suas crianças: deficiência na leitura e na compreensão de textos apropriados para a idade, muita dificuldade de escrever e, quando solicitadas, escritas realizadas apenas em caixa alta.

Mas o que mais chamou a atenção foi a percepção de que as crianças também começaram a apresentar dificuldades para expressar o que sentiam, pois lhes faltava vocabulário até mesmo para descrever cenas breves ou relatos de emoções simples.

Muitas dessas manifestações, resultantes da falta de exercício cognitivo e motor, assemelhavam-se a alguns transtornos psicológicos, e não é de se espantar que muitos pais possam ter procurado psicólogos, feito exames ou mesmo ministrado medicamentos, preocupados com a lentidão, o mutismo ou ainda com dificuldade de compreensão de seus jovens filhos.

O governo sueco, diante dessa constatação, resolveu dar uma guinada nas suas orientações escolares e agora estimula fortemente o uso de livros em vez de laptops, como também incentiva a leitura em voz alta, as rodas de conversa e a prática da escrita - inclusive ditados - com o objetivo de reverter o cenário que se desenhava catastrófico para o futuro.

Crianças que não são estimuladas desde cedo em atividades motoras e intelectuais podem ter dificuldades de desenvolvimento profissional na vida adulta, particularmente em um mundo onde a criatividade e a inovação são realidade em todo lugar. 

No último Pisa, divulgado em 2023, o resultado geral dos jovens estudantes suecos foi de 487, ante 499 registrado na edição anterior, de 2018. Em Matemática, a queda foi de 15 pontos e em Leitura, de 10 pontos.

Suficiente para que fizesse um país sério, como a Suécia, acender as luzes amarelas e buscar compreender as razões dessa perda de energia no aprendizado de seus jovens cidadãos, (para além dos efeitos da covid, que afetou de maneira praticamente igual os países participantes).

Uma das medidas que o governo buscou implementar em todas as escolas - embora na Suécia o programa e as orientações pedagógicas não sejam unificadas como no Brasil - foi: menos celular, menos laptop e mais livro, leitura, escrita e conversa. O básico que, desde mais ou menos cinco séculos atrás, tem orientado a ideia do que é ensinar e aprender.

 Lógico que esta constatação não implica em demonizar o uso de tecnologia em sala de aula, mas de usá-la com sabedoria, de forma que ela ofereça o que, de fato, não é possível conseguir por outros meios.

Mal comparando, é como o hábito de muita gente usar palavras em inglês para se referir a coisas ou situações nas quais já existe uma palavra em português perfeitamente cabível. Esse é o mau uso da língua estrangeira. O que não significa que não se deva aprendê-la e usá-la, muito pelo contrário.

A tecnologia compreende um conjunto de ferramentas e habilidades que deve servir para ampliar nossa capacidade de ler, raciocinar, produzir e nos comunicar. Mas, para isso, precisamos antes saber ler, raciocinar, produzir e nos comunicar.

O perigo do uso de celulares e laptops no ensino fundamental é o de diminuir ou mesmo obstaculizar  o desenvolvimento motor e cognitivo das crianças, além de dificultar a expressão de ideias, emoções e socialização, por falta de vocabulário capaz de se fazer entender quando relatar uma experiência.

O fenômeno hikikomori, que se refere aos jovens que abandonam qualquer contato social real e mantêm-se isolados em seus quartos, comunicando-se apenas pelas redes sociais, vem se alastrando por todo mundo, assim como a descrição de novos transtornos psicológicos associados à dificuldade de comunicação e socialização. A saída, porém, pode estar um pouco antes do consultório médico ou do psicólogo. Na boa e velha sala de aula.

 

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