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Oswaldo Barbosa de Almeida: "Paixão na madrugada"

Advogado e escritor ([email protected])

Redação

05/03/2015 - 00h00
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Quando eu trabalhava no Banco do Estado de São Paulo – BANESPA, na única agência de Campo Grande, que ainda não era capital e Mato Grosso do Sul ainda não existia, funcionava, em frente, do outro lado da Rua Cândido Mariano, um bar e restaurante com boa comida, a Cantina do Vitorino, do português Vitorino Fonseca, que a tocava com seus filhos. 

Nós, empregados do banco, íamos ali tomar café, lanchar, etc. O bar ficava aberto até tarde da noite. Alguns frequentadores tomavam cerveja enquanto jogavam bozó, com muita algazarra.

Numa ocasião, um grupo no qual eu me incluía, após encerrar um trabalho na madrugada (o que era comum, dadas as constantes falhas causadas por equipamentos obsoletos e serviços realizados manualmente), fomos, com o nosso chefe de serviço, comer e beber algo para matar a fome e espairecer, sem preocupação com o dia seguinte, que seria sábado. Aliás, já era sábado. Éramos amigos dos donos e fomos atendidos, apesar da hora, com um arroz requentado, linguiça (que falta faz o trema!) e ovos fritos, com o acompanhamento de muitas “bramas da Antártica”, no dizer do folclórico Vicente Mateus, eterno presidente do Corinthians. Foram muitas geladas e alguns colegas se excederam, ficando um tanto “altos”.

Lá pelas tantas, adentra o recinto uma senhorita praticante da mais antiga das profissões, dotada de um corpo avantajado e vestindo trajes minúsculos, que logo se insinuou para nosso grupo. Um dos colegas, originário do interior paulista, solteiro, que não era propriamente um galã (baixo, magérrimo, míope – usava óculos “fundo de garrafa”), mas bastante alegre e comunicativo, se entusiasmou com a “moçoila” e a fez sentar-se ao lado dele. 

Logo estavam abraçados, sob os aplausos e a torcida de nós outros, o que o animou ainda mais. Começaram a se beijar e a torcida a incentivá-los. Como disse, o rapaz era miúdo e a jovem muito maior que ele e, de repente, ele pulou no colo dela sem nenhuma cerimônia. Depois de muitos carinhos trocados ali, os dois se levantaram e saíram, pegaram um taxi na porta do bar e rumaram para lugar desconhecido. Os demais banespianos voltamos para nossas casas, alguns se arriscando ao dirigir com alta dosagem etílica. Na época não havia lei seca e nenhuma fiscalização.

No expediente seguinte, no banco, foi a maior zoeira em cima do coitado, que, no entanto, para nossa surpresa, se disse apaixonado pela gentil senhorita, acrescentando que era correspondido e que haviam começado um namoro a sério. Ninguém acreditava no que estávamos ouvindo, mas ele se mostrava sério e firme no que dizia. Aos poucos fomos deixando o sujeito em paz.

Alguns dias depois um colega perguntou-lhe como ia o namoro. Ele respondeu que estava muito decepcionado com a jovem e que tudo terminara, pois, certa noite, chegando à casa onde ela morava, encontrou-a, sem nenhum recato, agarrando-se com outro homem, quando disse ao nosso amigo que apenas na base do “amorzinho” não dava mais, pedindo-lhe que sumisse da vida dela.