Nos primeiros dias de janeiro de 1979, atuando na área jurídica do Sistema Financeiro da Habitação, no segmento de cooperativas habitacionais, até então em todo o Mato Grosso uno, fui convidado a integrar a nova administração que se instalava em Mato Grosso do Sul, a fim de exercer atividade semelhante na Companhia de Habitação Popular do novo estado, a COHAB-MS. Essa empresa pública existia então apenas “no papel”, ou seja, fora criada pelo Decreto-lei nº 10, de 1º de janeiro de 1979 (ainda não havia a Assembleia Legislativa e o governador “legislava” através desse instrumento), e tivera seu estatuto aprovado pelo Decreto nº 30, da mesma data. A COHAB-MS estava integrada ao Sistema de Infraestrutura Regional e Urbana, do moderno modelo de administração implantado pelo primeiro governo do Estado, algo diferente e racional.
Caberia, portanto, a nós, os primeiros integrantes de seu quadro de pessoal, promover sua instalação física e jurídica, elaborar os instrumentos legais necessários (regimento interno, regulamento de pessoal, etc.) e realizar os devidos registros nos órgãos públicos competentes. Tudo foi efetivado rapidamente e, já em abril, estávamos lançando o primeiro empreendimento, modesto ainda, na cidade de Terenos.
As coisas fluíam de modo ágil e alvissareiro, trazendo esperanças de que a região iria conhecer uma nova era de progresso e desenvolvimento. Mas, eis que, pouco antes de completar seis meses de gestão, a novel administração foi derrubada, inclusive o presidente e alguns dos diretores da COHAB-MS, e dias de incerteza foram vividos por todos nós. A “máquina” parou, perplexa, diante da incerteza do que estava por vir.
Isso se repetiu depois de um ano e pouco, com a queda do segundo governador, e novo tranco na administração. Na COHAB-MS, passados os traumas momentâneos, o ritmo era retomado e os trabalhos não sofriam solução de continuidade, visto que os sucessivos presidentes se comprometiam com a causa da empresa e não havia “caça às bruxas” nem mudanças administrativas. Ao empossar-se cada novo presidente, eu era convidado a permanecer no cargo.
Já na administração direta do Poder Executivo, na primeira troca de governador, houve drástica alteração no sistema recém implantado. Órgãos e secretarias foram extintos e criados outros, numa estrutura exatamente igual à velha sistemática vigente no antigo estado.
No livro “Mato Grosso do Sul (1978-1979) -- Utopia e Realidade”, editado pelo Instituto Histórico e Geográfico de MS, Jardel Barcellos, requisitado ao órgão onde trabalhava, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), do governo federal, “assumiu na Comissão Especial da Divisão, do Minter (Ministério do Interior) a supervisão geral dos trabalhos relativos a Mato Grosso do Sul. Foi nomeado Secretário de Planejamento e Coordenação Geral do novo Estado (1-1-1979 a julho de 1979) e assumiu o mesmo cargo no primeiro governo eleito de Wilson Martins (maio/1983 a julho/1986)” [p. 19], afirma que houve certa “traição” aos ideais divisionistas, “... a partir do segundo governo instalado em julho de 1979. Nesse momento foi então alterado o modelo inédito de organização administrativa instituído seis meses antes ao ser efetivado o Estado criado, sendo substituído por um padrão convencional mais apropriado a um modo patrimonialista de governar.” (idem).
Sobre as tramas políticas que resultaram nesses desarranjos, disse ele: “... o que se passou politicamente em MS, logo após a sua criação, é algo que foge inteiramente ao bom-senso da responsabilidade republicana, podendo, por isso, ser considerado um grande desrespeito à sociedade civil sul-mato-grossense. Esta não merecia ser tão vilipendiada, embora não tenha tido participação na surpreendente divisão de MT.” (p. 94).