Artigos e Opinião

ARTIGO

Odilon de Oliveira:
"Tempos de Violência "

Juiz federal em Mato Grosso do Sul

Redação

08/12/2014 - 00h00
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Este é o título do editorial de 01.11.14 do Correio do Estado, preocupado com o aumento assustador da violência em Mato Grosso do Sul e também com a inércia da Secretaria de Segurança Publica. Em 2014, até 30 de novembro, foram 503 assassinatos no Estado, contra 417 no mesmo período de 2013. Até 15 de novembro de 2014, ocorreram 4.200 roubos só em Campo Grande, enquanto no ano anterior foram 2.870, resultando num aumento de 46%. Um absurdo! 

Tem-se a impressão de que as autoridades do setor, no Brasil, perderam a capacidade de gerência da segurança pública. A sociedade virou detalhe. A família do menor Paulo Ricardo de Lima Simão, de 11 anos, torturado e morto dia 28 de novembro último, em Campo Grande, que o diga. Elogio, todavia, os policiais, civis e militares, que, com suas respectivas instituições sucateadas, vão além do que podem. São meus heróis.

Domingo, 30 de novembro, o Correio do Estado mostrou parte do cemitério de aeronaves que a SEJUSP recebeu da Justiça para combater a criminalidade, e não o fez. Simplesmente viraram sucata enquanto a sociedade virou refém da bandidagem. 

A Justiça Federal do Estado e a de São Paulo cederam aproximadamente 10 aeronaves, inclusive o helicóptero confiscado do traficante colombiano Abadia e um jatinho. Constam dos respectivos pedidos e termos de compromisso, assinados pelo titular da Secretaria de Segurança Pública, que essas aeronaves se destinariam ao combate da criminalidade através de policiamento aéreo.

Esses aviões cobririam a faixa de fronteira, inibindo a entrada de drogas, responsáveis, no Brasil, por metade da violência. Todavia, nunca se viu essa atuação.

O Brasil é detentor de 60% da população carcerária de toda a América do Sul. A proporção é de 1 preso para cada grupo de 367 pessoas. Nos países sul-americanos, a média geral é de 1 preso para 655 habitantes. Mato Grosso do Sul, revelando o aumento assustador da criminalidade, contabiliza 1 preso para 246 pessoas. 

No âmbito das drogas, o Brasil tem 1 preso para 1356 habitantes e Mato Grosso do Sul conta o absurdo de 1 para 572 habitantes. Aqui no Estado, os presos por tráfico correspondem a 43% dos 13.000 que estão encarcerados. A média brasileira é de apenas 27%. Relembro que a ONU estima que as drogas provocam 50% de todos os crimes.

O cenário atual assevera que a Secretaria de Segurança Pública de Mato Grosso do Sul perdeu, com essas aeronaves em processo de apodrecimento, uma grande oportunidade para fazer funcionar o policiamento aéreo a que se refere o Decreto Estadual 12.584, de 17.07.08.

EDITORIAL

As bolhas que nos afastam da realidade

Enquanto uma parte do Estado amplia suas zonas de conforto, outra é pressionada a fazer mais com menos, arcando com o desgaste político e social das escolhas difíceis

17/12/2025 07h15

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A expressão “estar em uma bolha” deixou de ser apenas uma gíria de internet para se transformar em um retrato cada vez mais fiel da forma como a sociedade vem se organizando. Nas redes sociais, algoritmos direcionam conteúdos, opiniões e notícias de acordo com preferências previamente identificadas.

O resultado é um ambiente confortável em que quase tudo confirma aquilo que o indivíduo já pensa. Divergir passa a ser exceção e confrontar ideias, um incômodo evitado.

Fora do ambiente digital, a lógica das bolhas também se impõe. O isolamento crescente em condomínios fechados, verticais ou horizontais, reduz o contato cotidiano com o diferente. Ao limitar o convívio, o indivíduo perde a oportunidade de compreender realidades distintas da sua própria.

Torna-se, ao mesmo tempo, mais desconfiado e mais desinformado, conhecendo o mundo mais pelo “ouvir dizer” do que pela experiência direta. A realidade passa a ser filtrada, editada e, muitas vezes, distorcida.

As bolhas criam falsas impressões. Quando se consolidam em grupos, reforçadas pelo sentimento de pertencimento, geram uma perigosa falta de sintonia com o restante da sociedade. Problemas coletivos passam a ser relativizados, minimizados ou simplesmente ignorados.

A empatia dá lugar à autoproteção e o interesse público acaba substituído pela preservação de privilégios.

Nesta edição, mostramos um exemplo concreto dessa desconexão: o aumento do duodécimo para quase todas as instituições de Mato Grosso do Sul, mesmo após um ano marcado por crise financeira, enquanto cresce a sobrecarga sobre o Poder Executivo.

É sobre ele que recai, de forma quase exclusiva, o peso de enfrentar as dores reais da sociedade: da falta de recursos para serviços essenciais às demandas crescentes por saúde, educação, transporte e assistência social.

Essa discrepância orçamentária não é apenas um dado técnico. Ela reforça as bolhas institucionais. Enquanto uma parte do Estado amplia suas zonas de conforto, outra é pressionada a fazer mais com menos, arcando com o desgaste político e social das escolhas difíceis.

Trata-se de um desequilíbrio que aprofunda a sensação de injustiça e distancia ainda mais as instituições da realidade vivida pela população.

Seria desejável que integrantes das instituições que recebem repasses de duodécimo saíssem de suas bolhas. Que vivessem mais intensamente a realidade fora de gabinetes, relatórios e planilhas.

Que entendessem que, em tempos de dificuldades financeiras, reforçar privilégios e ampliar confortos institucionais não é apenas insensível, é socialmente injusto.

Romper bolhas não é simples, mas é necessário. Para indivíduos, para grupos e, sobretudo, para instituições públicas. A democracia e a justiça social exigem mais contato com a realidade concreta e menos acomodação em mundos protegidos. Caso contrário, seguiremos administrando percepções, e não problemas reais.

ARTIGOS

A Interpol e as lições do roubo ao Louvre: quando a cultura exige proteção global

O que alguns insistem em tratar como luxo é, na verdade, expressão de identidade coletiva, memória histórica e soberania cultural

16/12/2025 07h45

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A Interpol é amplamente reconhecida por seus sistemas de avisos e pela atuação no combate ao crime organizado transnacional.

O recente episódio envolvendo o Louvre, porém, recoloca em evidência um ponto ainda subestimado no debate público: crimes não violentos, como o roubo de bens culturais, também demandam tutela internacional qualificada.

O tráfico de obras de arte e de patrimônio histórico segue sendo um delito de baixo risco e alto lucro, alimentado pela opacidade do mercado e pela fragmentação das respostas estatais.

O que alguns insistem em tratar como luxo é, na verdade, expressão de identidade coletiva, memória histórica e soberania cultural. A Interpol parte dessa premissa, ao reconhecer a cultura como interesse jurídico protegido, merecedor da mesma atenção dedicada à vida, à segurança e à integridade física.

Nesse contexto, o Banco de Dados de Obras de Arte Roubadas da organização cumpre papel central: dar rastreabilidade a um mercado em que o patrimônio cultural pode, com facilidade, converter-se em saque.

A existência do banco de dados não é apenas simbólica. Ela permite a identificação de peças subtraídas, inibe a circulação ilícita e oferece suporte técnico às investigações nacionais.

Ainda assim, a eficácia do sistema depende de algo que nem sempre acompanha a velocidade do crime: cooperação internacional efetiva e compartilhamento ágil de informações entre agências de aplicação da lei.

Há espaço evidente para aprimoramentos. A ampliação do banco de dados com atualizações em tempo real, a integração mais ampla de museus, casas de leilão e colecionadores privados, além de protocolos obrigatórios de verificação de procedência, fortaleceriam significativamente o combate ao tráfico ilícito.

Do mesmo modo, penalidades mais rigorosas e treinamento especializado para forças policiais e autoridades alfandegárias são medidas indispensáveis para reduzir a atratividade econômica desse tipo de crime.

O episódio do Louvre serve como alerta. Proteger bens culturais não é capricho elitista nem pauta secundária: é defesa da memória, da identidade e do patrimônio comum da humanidade.

Quando uma obra é roubada, perde-se mais do que um objeto, perde-se um fragmento da história coletiva. A resposta, portanto, precisa ser global, coordenada e à altura desse valor.

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