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Octavio Luiz Franco: "Viajando com a ciência"

Coordenador do S-Inova Biotech, Professor do Programa de Pós-graduação em Biotecnologia da Universidade Católica Dom Bosco

Redação

12/06/2016 - 02h00
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Um cientista notoriamente apresenta uma vida dura e de enorme labor. Dia a dia o pesquisador busca respostas para perguntas inovadoras e na maioria das vezes as respostas encontradas apenas geram maiores questionamentos. Desta forma o trabalho científico pode ser algo árduo e desafiante. Além disso, na maioria das vezes o pesquisador nunca acumula grandes riquezas, investindo recursos em seu conhecimento e também na busca de suas respostas. 

Entretanto existe um maravilhoso benefício que se estende a pesquisadores elite em todo o mundo. Este consiste na possibilidade única de conhecer lugares do mundo todo sem tecnicamente gastar um único tostão. As viagens fazem parte da rotina de todo bom cientista. Mesmo com o advento de novas tecnologias como o Skype e o Whats Up, que permitem uma comunicação clara, eficiente e barata, nada substitui a presença in loco de um grande cientista. Basicamente pesquisadores viajam para tudo. 

No começo da carreira, os jovens pesquisadores viajam para congressos, encontros e seminários. Desta forma todos os anos as grandes sociedades científicas brasileiras organizam encontros que possibilitam aos cientistas a troca de informação e melhoria de aprendizado para os estudantes. Estes eventos ocorrem em todas as regiões do país, possibilitando não só um acúmulo e engrandecimento de informação, bem como uma troca cultural inestimável. Com o amadurecimento do jovem cientista, este começa a participar de eventos em outros países, que são os famosos encontros internacionais ou internacional meetings. Assim como no Brasil, as sociedades científicas de todo mundo se organizam afim de obter e trocar informações sobre vários assuntos. Almejados por todos os estudantes, estes encontros mais uma vez possibilitam o aprendizado em níveis elevados, tornando possível o encontro de alunos e grandes nomes científicos de todas as áreas. 

Para a participação nesses eventos é possível obter financiamento junto ao CNPq e as diferentes fundações por todo o país, como a FUNDECT em nosso estado. Além dos encontros, outra possibilidade consiste em estágios colaborativos em um prazo mais longo. O Brasil oferece ainda bolsas de doutorado sanduiche que permitem ao estudante ficar até 24 meses em um laboratório fora do país, se especializando. Além disso, também e possível a obtenção de bolsas durante a graduação e também após a finalização do doutorado, desenvolvendo uma formação extra como o pós-doutorado. 

Finalmente, para o cientista sênior ainda pode ser possível desenvolver um sabático de até doze meses, tornando possível o aprendizado em alto nível, mesmo em estágios mais avançados da carreira. Neste estágio, alguns cientistas são convidados frequentemente para dar palestras e cursos nos mais remotos pontos do planeta, permitindo uma troca cultural inestimável e uma contribuição única. 

Na minha mera experiência, na última década tive a fantástica experiência de rodar o mundo conhecendo mais de trinta países, vestindo a camisa cientifica brasileira. Dentre estes, alguns eu particularmente nunca imaginaria ir como turista como Singapura ou Paquistão, embora tenham sido experiências extremamente proveitosas e satisfatórias. Como dizia Einstein, ciência consiste em 1% de inspiração e 99% de ralação. Mas para que possamos ter esta pequena fração inspirativa, nossa mente deve estar aberta e preparada. Para isso as viagens contribuem para conectar a ciência ao mundo de maneira única e inacreditável. A ciência está vigilante ao nosso lado, atuando sabiamente para solucionar os problemas de nossa sociedade.

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Produtos livres de desmatamento nas estratégias da União Europeia

11/04/2024 07h30

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O Regulamento para Produtos Livres de Desmatamento é um entre vários componentes do Pacto Ambiental Europeu (European Green Deal), que tem como objetivo final atingir neutralidade de emissões de gases de efeito estufa em 2050, com um crescimento econômico livre da exploração excessiva dos recursos naturais e sem deixar ninguém para trás.

Trata-se, portanto, de uma peça dentro de um quebra-cabeça bem mais complexo que visa tornar a Europa um continente sustentável e carbono neutro.

Desde 2019, o Pacto Ambiental Europeu apresenta diretrizes que vão sendo gradativamente regulamentadas, cobrindo de energia renovável a produção de alimentos, passando por transporte e construção civil.

Trata-se de um marco legal abrangente que aborda diversas questões ambientais, incluindo o desmatamento, como parte dos esforços da União Europeia (UE) para um novo modelo de economia verde. 

O regulamento para produtos livres de desmatamento, aprovado em 2023, disciplina as atividades dos importadores europeus que passam a ser responsáveis por garantir que os produtos adquiridos não venham de áreas desmatadas depois de 31 de dezembro de 2020.

As restrições entram em vigor no final de 2024. Os importadores são os responsáveis pela implementação das verificações nos países exportadores, as chamadas “due dilligences”. 

As implicações para o Brasil são significativas, pois a UE é o segundo maior comprador dos nossos produtos agropecuários. Enfrentamos sérios problemas de desmatamento ilegal na floresta amazônica, além de questões fundiários e sociais.

Outro ponto importante é que a legislação europeia não faz distinção do que é considerado desmatamento legal ou ilegal. A normativa claramente se refere a desmatamento em geral. 

Esse ponto vem sendo questionado pelo governo brasileiro, alegando que está acima das exigências legais do ordenamento jurídico do país. Argumenta-se que essa normativa representaria uma forma de barreira não tarifária aos produtos do Brasil.

Entretanto, o argumento contrário é de que a UE tem a prerrogativa de estabelecer os critérios para os produtos que farão parte das suas cadeias de suprimento. E, como o objetivo maior é a redução dos impactos ambientais do consumo dos próprios europeus, nada mais lógico do que exigir que seus fornecedores sigam padrões compatíveis com essa ambição.

Importante notar que há fortes reações ao Pacto Ambiental dentro da própria UE, como vimos recentemente nos diversos protestos de produtores rurais no território europeu.

Embora estejam sensibilizando parte da sociedade e postergando algumas limitações, dificilmente a insatisfação dos produtores europeus ou dos governos fornecedores de produtos agrícolas para a Europa terão força para uma guinada nos objetivos de longo prazo da UE.

Parece haver um sério proposito do continente em mudar completamente suas bases de desenvolvimento, mirando a transição para uma economia mais resiliente e de baixas emissões de gases de efeito estufa.

Ao Brasil cabe o desafio de entender essas normativas e entrar em um processo de negociação sério e embasado na ciência. Ainda há grandes lacunas sobre como serão feitas as verificações do desmatamento e, sobretudo, como serão mapeadas as origens de cada lote de exportação.

Precisaremos acelerar nossos investimentos em rastreabilidade e transparência nos processos produtivos, assim como no aprimoramento de plataformas de monitoramento territorial. Tudo isso em consonância e em estreita colaboração com os importadores e agentes da União Europeia.

Ainda estamos em um momento de discussão e entendimento junto aos agentes europeus de como o novo regulamento será implementado no Brasil. Entende-se que será um processo com aprendizado mútuo e um período de adaptação.

Os entes governamentais têm o papel de catalisar essa discussão entre produtores, processadores e exportadores brasileiros para que estejamos prontos para manter a liderança como fornecedores de produtos agrícolas para a União Europeia. 

 

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Era uma vez em uma escola na Suécia

11/04/2024 07h30

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Depois de anos educando as crianças quase que exclusivamente com recursos digitais, o Ministério da Educação da Suécia começou a perceber alguns sintomas perturbadores nas suas crianças: deficiência na leitura e na compreensão de textos apropriados para a idade, muita dificuldade de escrever e, quando solicitadas, escritas realizadas apenas em caixa alta.

Mas o que mais chamou a atenção foi a percepção de que as crianças também começaram a apresentar dificuldades para expressar o que sentiam, pois lhes faltava vocabulário até mesmo para descrever cenas breves ou relatos de emoções simples.

Muitas dessas manifestações, resultantes da falta de exercício cognitivo e motor, assemelhavam-se a alguns transtornos psicológicos, e não é de se espantar que muitos pais possam ter procurado psicólogos, feito exames ou mesmo ministrado medicamentos, preocupados com a lentidão, o mutismo ou ainda com dificuldade de compreensão de seus jovens filhos.

O governo sueco, diante dessa constatação, resolveu dar uma guinada nas suas orientações escolares e agora estimula fortemente o uso de livros em vez de laptops, como também incentiva a leitura em voz alta, as rodas de conversa e a prática da escrita - inclusive ditados - com o objetivo de reverter o cenário que se desenhava catastrófico para o futuro.

Crianças que não são estimuladas desde cedo em atividades motoras e intelectuais podem ter dificuldades de desenvolvimento profissional na vida adulta, particularmente em um mundo onde a criatividade e a inovação são realidade em todo lugar. 

No último Pisa, divulgado em 2023, o resultado geral dos jovens estudantes suecos foi de 487, ante 499 registrado na edição anterior, de 2018. Em Matemática, a queda foi de 15 pontos e em Leitura, de 10 pontos.

Suficiente para que fizesse um país sério, como a Suécia, acender as luzes amarelas e buscar compreender as razões dessa perda de energia no aprendizado de seus jovens cidadãos, (para além dos efeitos da covid, que afetou de maneira praticamente igual os países participantes).

Uma das medidas que o governo buscou implementar em todas as escolas - embora na Suécia o programa e as orientações pedagógicas não sejam unificadas como no Brasil - foi: menos celular, menos laptop e mais livro, leitura, escrita e conversa. O básico que, desde mais ou menos cinco séculos atrás, tem orientado a ideia do que é ensinar e aprender.

 Lógico que esta constatação não implica em demonizar o uso de tecnologia em sala de aula, mas de usá-la com sabedoria, de forma que ela ofereça o que, de fato, não é possível conseguir por outros meios.

Mal comparando, é como o hábito de muita gente usar palavras em inglês para se referir a coisas ou situações nas quais já existe uma palavra em português perfeitamente cabível. Esse é o mau uso da língua estrangeira. O que não significa que não se deva aprendê-la e usá-la, muito pelo contrário.

A tecnologia compreende um conjunto de ferramentas e habilidades que deve servir para ampliar nossa capacidade de ler, raciocinar, produzir e nos comunicar. Mas, para isso, precisamos antes saber ler, raciocinar, produzir e nos comunicar.

O perigo do uso de celulares e laptops no ensino fundamental é o de diminuir ou mesmo obstaculizar  o desenvolvimento motor e cognitivo das crianças, além de dificultar a expressão de ideias, emoções e socialização, por falta de vocabulário capaz de se fazer entender quando relatar uma experiência.

O fenômeno hikikomori, que se refere aos jovens que abandonam qualquer contato social real e mantêm-se isolados em seus quartos, comunicando-se apenas pelas redes sociais, vem se alastrando por todo mundo, assim como a descrição de novos transtornos psicológicos associados à dificuldade de comunicação e socialização. A saída, porém, pode estar um pouco antes do consultório médico ou do psicólogo. Na boa e velha sala de aula.

 

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