As doenças infecciosas podem ser assustadoras em quase todas as partes do mundo. Entretanto, nenhuma tem sido tão aterrorizante quanto o vírus Ebola. Em sua mais recente epidemia ocorrida no oeste africano entre os anos de 2014 e 2016, aproximadamente 11.300 pessoas faleceram em detrimento de uma infecção caracteristicamente agressiva e letal. Quando aparentemente tudo parecia ter sido normalizado, um novo surto epidêmico foi detectado e alertado no mês passado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) na República Democrática do Congo. Autoridades congolesas reportaram pelo menos nove casos suspeitos de infecções causadas por Ebola nas últimas três semanas.
No momento, as autoridades têm considerado o teste de uma vacina experimental contra Ebola, aprovada preliminarmente pela OMS em abril. Adicionalmente, o grupo conhecido como médicos sem fronteiras discute o envio de uma larga equipe de profissionais de saúde para desenvolver uma campanha de vacinação juntamente com o governo do Congo. Uma ampla discussão ética também foi iniciada este mês, uma vez que tal vacina nunca foi testada em situações extremas, como o ocorrido no surto do oeste africano nos últimos três anos. Hoje há uma dúzia de vacinas contra a virose em desenvolvimento. Entretanto, vale ressaltar que nenhuma delas ainda foi aprovada devido à falta de testes em múltiplos candidatos.
Dentre as vacinas mais promissoras, a que mais chama a atenção consiste em uma vacina desenvolvida pela agência de saúde canadense e posteriormente licenciada pelas empresas americanas NewLink Genetics e Merck. Os testes totalizaram mais de dez mil pessoas e nenhuma das aproximadamente 5.000 pessoas que receberam a vacina desenvolveram a doença em 10 dias após a vacinação. Entretanto, a proteçãonão foi considerada totalmente eficiente, uma vez que duas dezenas de pessoas vacinadas foram infectadas apesar de terem recebido uma dose da vacina.
Outro problemática evidente é que diferentes linhagens do vírus Ebola têm aparecido e a maioria das vacinas têm sido desenvolvidas contra a linhagem obtida de surtos no Zaire, que aparentemente é bem diferente das observadas no Congo. Este fato indubitavelmente reduziria o efeito protetivo da vacina, levando a uma proteção apenas parcial. Esta segregação do vírus pode ser causada pela dificuldade de locomoção e isolamento das comunidades em países como Serra Leoa e Libéria.
Entretanto, este mesmo fato também dificulta a dispersão do vírus, reduzindo o potencial dos surtos por toda a África. Além disso, medidas mais efetivas para reduzir o número de vítimas também tem sido tomadas de forma cultural. Uma vez que o Ebola pode ser transmitido por fluidos como saliva e sangue, infectologistas têm conversado diretamente com os chefes tribais, disseminando a informação de que o Ebola é um espírito maligno que passa de pessoa para pessoa através do toque.
Esta informação tem auxiliado os médicos na contenção e isolamento dos pacientes. Estes dados demonstram que na guerra contra o Ebola vale tudo. Ninguém gostaria de ver um surto deste vírus letal em cidades superpopulosas da Ásia e das Américas. O resultado seria no mínimo desastroso. A ciência está vigilante ao nosso lado, atuando sabiamente para solucionar os problemas de nossa sociedade.