Em cada residência de nosso País, uma enorme gama de produtos de higiene e beleza é utilizada por milhões de pessoas, incluindo cremes e loções. Para o desenvolvimento de tais produtos, a ciência cosmética trabalha em inúmeras frentes, interconectando campos de ciências básicas e aplicadas, como a química, a biologia, a farmácia e a dermatologia. A saga da cosmetologia iniciou-se há cerca de 30 mil anos, em que primitivos pintavam o corpo utilizando terra, extratos vegetais e orvalho. Séculos mais tarde, os egípcios aprimoraram o uso de extratos vegetais, criando desenhos de henna.
Os cosméticos para os faraós eram tão importantes que eles eram enterrados junto a seus cremes e poções de beleza. Com o início do século 19, os cosméticos se popularizam enormemente e a combinação de cores e o uso dos filtros solares ganham maior importância para o público feminino. Os nanocosméticos entram fortemente no mercado durante o século 21 originando uma linha de produtos diferenciados e de alta eficiência. Mas qual deve ser o futuro dos cosméticos?
O conceito de customização do cosmético, gerando um produto individual, tem chamado cada dia mais atenção dos cosmetologistas. Com consumidores cada vez mais exigentes, que querem ressaltar sua beleza natural e individual, a interação entre genética e cosmetologia se torna cada dia mais consolidada.
Nesse campo, produtos individualizados têm sido criados com base na diferenciação genética do consumidor. Se por um lado, inicialmente, a indústria de cosméticos tenha apresentado restrições ao uso das ciências moleculares, hoje, por outro, esta tem investido pesadamente nesse campo.
Algumas companhias americanas têm usado um teste de DNA de pele para analisar mutações em cinco genes diferentes, objetivando a geração de produtos que darão uma melhor hidratação cutânea, bem como reduzirão a oleosidade e a presença de rugas para cada cliente.
A genética avançada também tem sido usada para melhor entender a aparência causada pelo envelhecimento. Em um estudo utilizando 428 pessoas centenárias, 6 mutações gênicas foram relacionadas com a aparência jovem, embora não tenham correlação direta com a longevidade em si. Um desses genes parece estar diretamente correlacionado com a resposta imune dérmica.
Estudos mais ousados utilizando uma combinação de genoma, proteoma, metaboloma e microbioma tem tentado melhor explicar de maneira global as causas que levam à aparência de envelhecimento. Com toda essa informação, será possível entender melhor os processos envolvidos e delinear melhores cosméticos a cada dia. A empresa inglesa GeneU hoje oferece testes de microarranjo para variantes dos genes MMP1, que indicam se a consumidora é rápida, média ou lenta degradadora de colágeno. Além disso, também têm sido estudadas variantes do gene NQO1, que aparentemente está envolvido na luta dérmica contra o estresse oxidativo.
Desta forma, baseados nesses dados, associados ao estilo de vida da pessoa, incluindo a exposição ao sol, hábitos de ingestão de álcool e cigarros e níveis de estresse, consumidores podem comprar uma das 18 possíveis formulações de creme que prometem reduzir as rugas em até 30%. Associado a esses múltiplos testes, novos produtos têm sido gerados, como o creme tretinoin. Esse creme estimula os fibroblastos a produzirem procolagenos, organizando melhor a matriz extracelular, que pode combater os efeitos destrutivos dos raios ultravioletas. Desta forma, cosméticos customizados já podem ser considerados uma realidade e, embora caros, serão cada dia mais eficientes em disfarçar os inexoráveis efeitos do tempo. A ciência está vigilante ao nosso lado, atuando sabiamente para solucionar os problemas de nossa sociedade.


