Esta semana o NIH (National Intitute of Health) americano baniu o financiamento do desenvolvimento de organismos quimeras, onde células-tronco humanas poderiam ser adicionadas a embriões animais para fins de estudos básicos e desenvolvimento de produtos. O hibrido conceito remonta a Ilha do dr. Moreau, criada por H.G. Wells em 1896, onde um médico cria criaturas extraordinárias em uma ilha. Este perturbado cientista se torna obcecado em transformar animais em humanos usando técnicas de cirurgias e hipnose.
Na obra, a vivissecção consiste no maior crime de Moreau, que foi acusado de fazer experiências extremamente dolorosas em animais. Embora as propostas estejam longe de criar estes seres híbridos, as novas regras bloqueiam os estudos de desenvolvimento de células humanas que podem ser introduzidas em embriões de primatas não-humanos antes que as mesmas comecem a desenvolver um sistema nervoso central. Desta forma esta proibição limita o desenvolvimento de cérebros quiméricos. Além disso também fica proibida a produção de células humanas em animais reprodutores como porcos e vacas, limitando a produção de embriões humanos em um útero não humano.
Nos dias de hoje esta tecnologia pode ser utilizada para criar animais modelos para doenças humanas com maior fidedignidade. Outra possibilidade consiste no uso de animais capazes de produzir e engenheirar órgãos humanos. Tais órgãos poderiam ser coletados de um animal adulto e, por conseguinte, serem usados em transplantes humanos.
As proibições têm sido levantadas uma vez que esta área cientifica tem sido considerada uma zona cinzenta. Embora tenham um enorme valor cientifico para estudos de desenvolvimento, pode ser extremamente difícil avaliar o resultado destes experimentos, especialmente quando relacionados ao desenvolvimento de sistema nervoso central e, por conseguinte, em uma provável consciência avançada. No Reino Unido existem severas leis que regulam e impedem o desenvolvimento de tais quimeras mesmo com financiamento privado.
As leis valem para quaisquer tipos de quimeras, incluindo aquelas que geram caracteres humanos como mãos e faces. A resposta da comunidade cientifica e da sociedade tem sido controversa.
Embora alguns sejam contra o desenvolvimento de tais quimeras, muitas pessoas são extremamente favoráveis, especialmente no caso do desenvolvimento de órgãos. Existe uma discussão ética profunda neste quesito, uma vez que dividimos pesquisas com organismos humanos e não humanos. Neste caso temos agora células que não pertencem a nenhuma e a ambas as categorias. Neste caso provavelmente teremos que criar novos critérios de segurança e desenvolvimento.
Vale ressaltar que embora seja realmente necessária a criação de um marco regulatório para um assunto tão controverso, o desenvolvimento celular em alguns casos deve ser olhado com atenção e bons olhos. Não seria fantástico reduzirmos a fila de espera em transplantes com segurança e qualidade.
Para isso não é necessária a criação das terríveis e sofridas criaturas do Dr. Moreau. Apenas é necessário um trabalho cientifico profundo, profissional e com enormes doses de ética. No Brasil estes casos ainda não foram discutidos, mas talvez seja o momento de nos organizarmos para a ciência vindoura.
A ciência está vigilante ao nosso lado, atuando sabiamente para solucionar os problemas de nossa sociedade.