Ao olharmos o movimento nas ruas neste mês de agosto queremos acreditar que ela se torne espaço de reivindicação de direitos e questionamento do arbítrio. Entretanto, utilizar-se do “verde e amarelo”, como símbolo do nacionalismo, pedindo o impeachment, não resolve as duras agruras vividas pela parte mais frágil da população. Ao contrário, agoniza a dor.
Desejamos ver as ruas como lugar de luta pela conquista de direitos historicamente usurpados, pois como ensinou o velho José de Souza Martins: “se o direito é construído sob o torto, sob a usurpação do direito do outro, desvenda para o outro o seu direito”. Então, que a vida e não a morte seja uma bandeira dos que tomam as ruas! Que o verde e o amarelo não escondam “a pátria amada e esquartejada”.
Isto nos faz lembrar uma exposição no museu do Ipiranga, em SP, organizada por Marilena Chaui, secretária da Educação, quando dos 500 anos de “descobrimento” da América. Na exposição, a letra do hino era comparada, em quadros, à realidade do Brasil. No trecho “deitado eternamente em berço esplêndido”, víamos a imagem de crianças moradoras de rua ou vendendo pequenas mercadorias pelos sinais, sinalizando uma infância perdida. Hoje, o crak e outras drogas, o tráfico e a desesperança tomam as ruas dos grandes e pequenos centros. Crianças, jovens, adultos e velhos estão imersos neste mundo desencantado, nas proximidades de rodoviárias, pelas praças, centros, à volta das escolas, desnudando uma “pátria amada esquartejada”, nome da exposição, muito diferente do slogan da “pátria educadora”.
Que este processo de tomada das ruas contribua para termos a história nas mãos, sem que ventríloquos da direita e da “esquerda” encontrem meios para proliferar. Oxalá que proclamar a vida em sua justeza seja uma bandeira de lutas e não o seu reverso! Que tremam aterrorizados todos os poderes e políticos corruptos, da Câmara dos Deputados, Senado, Câmaras estaduais e municipais, prefeituras e governos, em todas as instâncias!
Que o governo rompa as amarras dos acordos políticos e opte pelo povo! Pelas bandeiras da saúde, educação, reforma agrária, trabalho e dignidade em toda a plenitude para os milhões que somos nós. Denuncie a barbárie da dívida pública e exija Auditoria! Mas, estamos a anos luz desta realidade, pelos cortes abissais na Educação Pública e na Saúde. Corta-se no Público e mantém-se o patrocínio ao Privado, como o Fies que, contraditoriamente, atende a quem deveria estar no ensino público e gratuito. Sobra vaga na universidade pública, mas faltam as mínimas condições para o pobre nela permanecer, como moradia e restaurante universitário. Daí a evasão, especialmente nas Licenciaturas. Vivencia-se isto em Três Lagoas-MS, onde a especulação imobiliária reina e a UFMS vira as costas para esta realidade, ao não colocar como urgência a construção da Moradia Estudantil.
Na UFMS não houve, neste ano, novos Editais para bolsas permanência ou de alimentação. O governo ameaça fechar programas como o PIBID. Cortes também atingem as Pós-Graduações com redução de 75% do repasse. Com míseros recursos, ainda teimam em funcionar com Bancas de Mestrado e Doutorado on-line, porque não há condições econômicas para subsidiá-las. Falta dinheiro até para o envio de correspondências. O governo federal ignora a pauta das federais há quase três meses em GREVE. Mas, mantém o diálogo com a bandalheira de corruptos do Congresso Nacional.
Então, que nas ruas haja a consciência de ser preciso reinventar este Brasil com as cores da gente negra, indígena, branca, parda... Assim, talvez consigamos ir para as ruas, com orgulho não “do verde e amarelo como discurso moralizador da ordem e do progresso”, mas da diversidade das cores e da beleza do mosaico que somos nós!