Artigos e Opinião

ARTIGO

Marcelo Ciampolini:
"O futuro da (des)bancarização"

CEO da Lendico, plataforma on-line de empréstimo pessoal

Redação

10/01/2016 - 00h00
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Quando alguém pensa “preciso ir ao banco”, a primeira coisa que vem à cabeça é problema. Logo, pensamos na espera e aquele monte de gente que está lá para pagar uma conta, tirar um extrato ou pedir ajuda para um gerente. Perde-se muito tempo para resolver coisas relativamente simples. Sem falar da falta de clareza na contratação de certos serviços, como empréstimos, por exemplo; são taxas de abertura de cadastro, seguros obrigatórios, multa por pré-pagamento. Muita coisa que é difícil de compreender e que tem um grande impacto no custo desse serviço. 

Nem sempre foi assim, pois os bancos surgiram como uma evolução natural de práticas de empréstimo e crédito. Prestava-se um serviço e cobrava-se por isso, simples assim. Contudo, na medida em que foram surgindo novas modalidades de produtos, e de serviços, o tamanho e a complexidade das operações dessas instituições também cresceram. Hoje, se, por um lado, os bancos oferecem essa gama de produtos e serviços, por outro, acabamos sujeitos a contratar coisas que não precisamos ou são desnecessárias. É nesse contexto que começaram a surgir as fintechs.

O termo é a junção das palavras em inglês “financial” e “technology”, e é usado para nomear as empresas que tratam diversos temas financeiros sob a ótica do usuário, e não mais pela dos bancos. A ideia não é ser uma solução completa para todas as necessidades financeiras do consumidor, mas sim oferecer a melhor solução para um determinado serviço, ofertado de maneira insatisfatória por um grande banco. Atualmente, existem fintechs focadas em empréstimos, em organização financeira, investimentos, seguros, transferências de recursos, meios de pagamento, e a lista vai longe. Só em 2014, ao redor do mundo, as fintechs conquistaram US$ 12 bilhões em investimentos. Em maio desse ano, o Goldman Sachs já estimava que a indústria valia US$ 4,7 trilhões, o que corrobora o otimismo para a previsão de 2016, na qual os aportes podem atingir US$ 20 bilhões.

Essas startups usam a tecnologia para otimizar as operações. O foco é em nível de serviço e experiência. Não é à toa que elas surgem no momento em que os millennials, primeira geração que cresceu com acesso a computadores, smartphones e tablets em casa, tornam-se a principal parcela da população que consome produtos e serviços financeiros. Essa geração é ávida pela informação e o imediatismo, logo, pensar num cenário que envolva deslocamento físico e espera para realização de determinada tarefa, como pagar um boleto, não é cabível. Esses clientes querem uma solução imediata para o problema que eles têm agora, e não uma solução completa para questões que serão importantes apenas no futuro. Assim sendo, começamos a ver um movimento de desconstrução do modelo original, por meio da “desbancarização”. Ou seja, expandir a disponibilidade de serviços financeiros para mais de 2,5 bilhões de pessoas que, atualmente, não consideram sustentável manter uma conta bancária.

A chave para essa inclusão financeira é a determinação de quais ferramentas e serviços eles realmente precisam, e oferecer, com qualidade, novas formas eficientes e de nicho; afinal, eles não querem ser forçados às altas taxas de transações, crédito ou juros de empréstimo. As fintechs são uma das respostas a esse movimento.

Nesse sentido, empresas brasileiras, ainda que tímidas, já entenderam o conceito e oferecem alternativas para quem procura a independência financeira. O Guia Bolso, por exemplo, oferece auxílio aos usuários, por meio de um aplicativo, na hora de controlar os gastos. Já o Nubank disponibiliza o controle total dos gastos do cartão de crédito pelo celular. A Lendico oferece contratação de empréstimos on-line, com transparência e sem burocracia.

A área de finanças está em um momento disruptivo. O seu futuro será moldado pelo que as fintechs estão fazendo agora. Foi algo parecido com o que a internet fez com os jornais, as locadoras e, agora, a música. É só uma questão de tempo para fidelizar o público, até uma “grande maioria”. 

EDITORIAL

As bolhas que nos afastam da realidade

Enquanto uma parte do Estado amplia suas zonas de conforto, outra é pressionada a fazer mais com menos, arcando com o desgaste político e social das escolhas difíceis

17/12/2025 07h15

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A expressão “estar em uma bolha” deixou de ser apenas uma gíria de internet para se transformar em um retrato cada vez mais fiel da forma como a sociedade vem se organizando. Nas redes sociais, algoritmos direcionam conteúdos, opiniões e notícias de acordo com preferências previamente identificadas.

O resultado é um ambiente confortável em que quase tudo confirma aquilo que o indivíduo já pensa. Divergir passa a ser exceção e confrontar ideias, um incômodo evitado.

Fora do ambiente digital, a lógica das bolhas também se impõe. O isolamento crescente em condomínios fechados, verticais ou horizontais, reduz o contato cotidiano com o diferente. Ao limitar o convívio, o indivíduo perde a oportunidade de compreender realidades distintas da sua própria.

Torna-se, ao mesmo tempo, mais desconfiado e mais desinformado, conhecendo o mundo mais pelo “ouvir dizer” do que pela experiência direta. A realidade passa a ser filtrada, editada e, muitas vezes, distorcida.

As bolhas criam falsas impressões. Quando se consolidam em grupos, reforçadas pelo sentimento de pertencimento, geram uma perigosa falta de sintonia com o restante da sociedade. Problemas coletivos passam a ser relativizados, minimizados ou simplesmente ignorados.

A empatia dá lugar à autoproteção e o interesse público acaba substituído pela preservação de privilégios.

Nesta edição, mostramos um exemplo concreto dessa desconexão: o aumento do duodécimo para quase todas as instituições de Mato Grosso do Sul, mesmo após um ano marcado por crise financeira, enquanto cresce a sobrecarga sobre o Poder Executivo.

É sobre ele que recai, de forma quase exclusiva, o peso de enfrentar as dores reais da sociedade: da falta de recursos para serviços essenciais às demandas crescentes por saúde, educação, transporte e assistência social.

Essa discrepância orçamentária não é apenas um dado técnico. Ela reforça as bolhas institucionais. Enquanto uma parte do Estado amplia suas zonas de conforto, outra é pressionada a fazer mais com menos, arcando com o desgaste político e social das escolhas difíceis.

Trata-se de um desequilíbrio que aprofunda a sensação de injustiça e distancia ainda mais as instituições da realidade vivida pela população.

Seria desejável que integrantes das instituições que recebem repasses de duodécimo saíssem de suas bolhas. Que vivessem mais intensamente a realidade fora de gabinetes, relatórios e planilhas.

Que entendessem que, em tempos de dificuldades financeiras, reforçar privilégios e ampliar confortos institucionais não é apenas insensível, é socialmente injusto.

Romper bolhas não é simples, mas é necessário. Para indivíduos, para grupos e, sobretudo, para instituições públicas. A democracia e a justiça social exigem mais contato com a realidade concreta e menos acomodação em mundos protegidos. Caso contrário, seguiremos administrando percepções, e não problemas reais.

ARTIGOS

A Interpol e as lições do roubo ao Louvre: quando a cultura exige proteção global

O que alguns insistem em tratar como luxo é, na verdade, expressão de identidade coletiva, memória histórica e soberania cultural

16/12/2025 07h45

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A Interpol é amplamente reconhecida por seus sistemas de avisos e pela atuação no combate ao crime organizado transnacional.

O recente episódio envolvendo o Louvre, porém, recoloca em evidência um ponto ainda subestimado no debate público: crimes não violentos, como o roubo de bens culturais, também demandam tutela internacional qualificada.

O tráfico de obras de arte e de patrimônio histórico segue sendo um delito de baixo risco e alto lucro, alimentado pela opacidade do mercado e pela fragmentação das respostas estatais.

O que alguns insistem em tratar como luxo é, na verdade, expressão de identidade coletiva, memória histórica e soberania cultural. A Interpol parte dessa premissa, ao reconhecer a cultura como interesse jurídico protegido, merecedor da mesma atenção dedicada à vida, à segurança e à integridade física.

Nesse contexto, o Banco de Dados de Obras de Arte Roubadas da organização cumpre papel central: dar rastreabilidade a um mercado em que o patrimônio cultural pode, com facilidade, converter-se em saque.

A existência do banco de dados não é apenas simbólica. Ela permite a identificação de peças subtraídas, inibe a circulação ilícita e oferece suporte técnico às investigações nacionais.

Ainda assim, a eficácia do sistema depende de algo que nem sempre acompanha a velocidade do crime: cooperação internacional efetiva e compartilhamento ágil de informações entre agências de aplicação da lei.

Há espaço evidente para aprimoramentos. A ampliação do banco de dados com atualizações em tempo real, a integração mais ampla de museus, casas de leilão e colecionadores privados, além de protocolos obrigatórios de verificação de procedência, fortaleceriam significativamente o combate ao tráfico ilícito.

Do mesmo modo, penalidades mais rigorosas e treinamento especializado para forças policiais e autoridades alfandegárias são medidas indispensáveis para reduzir a atratividade econômica desse tipo de crime.

O episódio do Louvre serve como alerta. Proteger bens culturais não é capricho elitista nem pauta secundária: é defesa da memória, da identidade e do patrimônio comum da humanidade.

Quando uma obra é roubada, perde-se mais do que um objeto, perde-se um fragmento da história coletiva. A resposta, portanto, precisa ser global, coordenada e à altura desse valor.

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