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Luiz Fernando Mirault Pinto: "Sensação térmica"

Físico e administrador

Redação

29/01/2015 - 00h00
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Nesses dias de calor, as temperaturas mínimas estão sempre acima de 25 graus e forçosamente procuramos locais em que o ar-  condicionado está disponível, embora em locais públicos (shoppings, cinemas e restaurantes) e de trabalho a temperatura não controlada foge daquela confortável para ser humano e ainda corremos risco de respirarmos o ar viciado dos filtros sem limpeza e manutenção 

Estabelecer as condições ideais, isto é, o limite térmico em que a maioria das pessoas diz que se sente bem é muito difícil, pois esse valor ideal é influenciado tanto por fatores psicológicos como pela variação fisiológica por meio dos mecanismos de termo-regulação (vasodilatação e constrição, transpiração, respiração) que são ativados com o calor ou o frio excessivo, para que nosso corpo atinja o equilíbrio térmico, e que depende da temperatura, e de variáveis ​​como a umidade, o vento e a radiação de calor solar.  A combinação desses fatores faz com que a temperatura real do ar seja considerada diferente daquela que sentimos, ou seja, a sensação de calor é maior em altas temperaturas quando a umidade do ar é alta. Diferentemente nas temperaturas baixas, a sensação de frio é aumentada quando a umidade é baixa. O fator preponderante para a definição da variação da sensação térmica é a velocidade em que o vento se apresenta, tanto no frio como no calor,em função da taxa de evaporação do corpo. 

A sensação térmica em que nosso corpo está em equilíbrio com o meio ambiente está entre 21 e 26 graus: levando-se em conta a comparação de uma temperatura de 30 graus, com baixa incidência solar, baixa umidade, muito vento com outra de 20 graus, com alta umidade, sol em demasia, e vento reduzido, a primeira nos parecerá mais confortável, o que significa dizer que ponderando essas variáveis e taxas de umidade entre 30% e 60% poderemos ter um conforto térmico economizando na redução do uso do ar-condicionado em locais fechados. As taxas de umidade altas ou baixas, isto é, acima de 80% ou abaixo de 20% também são prejudiciais à saúde, onde proporcionam a proliferação das bactérias, fungos, ácaros ou infecções das vias respiratórias, respectivamente.

Portanto, o calor que sentimos está mais relacionado à sensação térmica do que propriamente, e somente, à temperatura indicada, esta sendo real apenas quando observada em ambiente controlado, isto é, sem a influência da umidade, da velocidade do vento, e da incidência da radiação solar.

A mídia na procura de novidades registra informações que extrapolam os padrões mensuráveis, enfatizando a sensação térmica que tem uma conotação subjetiva e indefinida (corresponde à percepção subjetiva e individual da temperatura ambiente) e que depende de diversos outros fatores (temporais e geográficos), e principalmente da temperatura, esta que é uma grandeza física relacionada que pode ser medida e comparada instrumentalmente.

Os noticiários não explicam ao que de fato estão se referindo, e não divulga que esta sensação térmica são taxas resultantes de cálculos empíricos a partir de uma tabela (Inmet). Ela não leva em consideração a umidade relativa do ar, fator esse que tem influência marcante na sensação de calor ou frio, já que em um tempo chuvoso ou seco a uma dada temperatura ambiente, assimilamos sensações diferentes. A umidade influi no gradiente de sensação térmica nos dias de calor assim como o vento, no frio. 

Para saber qual a taxa de sensação térmica em determinado momento, uma tabela resultante de uma equação deduzida de resultados empíricos (experimentais) pelo National Weather Service Weather Forecast, de El Paso, Texas, USA, está  disponibilizada no site (http://www.srh.noaa.gov/epz/?n=wxcalc_heatindex), na forma de uma tabela calculadora on-line, onde devem ser introduzidos os valores da temperatura e a umidade relativa da ocasião.

A utilidade objetiva de se conhecer a sensação térmica está em se estabelecer previsões, estratégias e projetos construtivos para enfrentarmos situações que possam ser suportadas através da pele: dor, pressão, frio, calor excessivo, desconforto, secura, mal-estar, em situações cujas temperaturas se encontram além da faixa de equilíbrio térmico. Conhecer os conceitos de calor e frio, do porquê um banho agradável é aquele cuja temperatura da água é praticamente a mesma do corpo, e que no frio o banho deve ter uma temperatura mais amena e no calor após um banho quente, nosso corpo se refresca quando nosso corpo perde calor na evaporação da água sobre a pele, como o efeito da transpiração, pois essas sensações enganam a lógica do nosso cérebro e nos fazem agir de modo diferente daquilo a que estamos acostumados.

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Produtos livres de desmatamento nas estratégias da União Europeia

11/04/2024 07h30

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O Regulamento para Produtos Livres de Desmatamento é um entre vários componentes do Pacto Ambiental Europeu (European Green Deal), que tem como objetivo final atingir neutralidade de emissões de gases de efeito estufa em 2050, com um crescimento econômico livre da exploração excessiva dos recursos naturais e sem deixar ninguém para trás.

Trata-se, portanto, de uma peça dentro de um quebra-cabeça bem mais complexo que visa tornar a Europa um continente sustentável e carbono neutro.

Desde 2019, o Pacto Ambiental Europeu apresenta diretrizes que vão sendo gradativamente regulamentadas, cobrindo de energia renovável a produção de alimentos, passando por transporte e construção civil.

Trata-se de um marco legal abrangente que aborda diversas questões ambientais, incluindo o desmatamento, como parte dos esforços da União Europeia (UE) para um novo modelo de economia verde. 

O regulamento para produtos livres de desmatamento, aprovado em 2023, disciplina as atividades dos importadores europeus que passam a ser responsáveis por garantir que os produtos adquiridos não venham de áreas desmatadas depois de 31 de dezembro de 2020.

As restrições entram em vigor no final de 2024. Os importadores são os responsáveis pela implementação das verificações nos países exportadores, as chamadas “due dilligences”. 

As implicações para o Brasil são significativas, pois a UE é o segundo maior comprador dos nossos produtos agropecuários. Enfrentamos sérios problemas de desmatamento ilegal na floresta amazônica, além de questões fundiários e sociais.

Outro ponto importante é que a legislação europeia não faz distinção do que é considerado desmatamento legal ou ilegal. A normativa claramente se refere a desmatamento em geral. 

Esse ponto vem sendo questionado pelo governo brasileiro, alegando que está acima das exigências legais do ordenamento jurídico do país. Argumenta-se que essa normativa representaria uma forma de barreira não tarifária aos produtos do Brasil.

Entretanto, o argumento contrário é de que a UE tem a prerrogativa de estabelecer os critérios para os produtos que farão parte das suas cadeias de suprimento. E, como o objetivo maior é a redução dos impactos ambientais do consumo dos próprios europeus, nada mais lógico do que exigir que seus fornecedores sigam padrões compatíveis com essa ambição.

Importante notar que há fortes reações ao Pacto Ambiental dentro da própria UE, como vimos recentemente nos diversos protestos de produtores rurais no território europeu.

Embora estejam sensibilizando parte da sociedade e postergando algumas limitações, dificilmente a insatisfação dos produtores europeus ou dos governos fornecedores de produtos agrícolas para a Europa terão força para uma guinada nos objetivos de longo prazo da UE.

Parece haver um sério proposito do continente em mudar completamente suas bases de desenvolvimento, mirando a transição para uma economia mais resiliente e de baixas emissões de gases de efeito estufa.

Ao Brasil cabe o desafio de entender essas normativas e entrar em um processo de negociação sério e embasado na ciência. Ainda há grandes lacunas sobre como serão feitas as verificações do desmatamento e, sobretudo, como serão mapeadas as origens de cada lote de exportação.

Precisaremos acelerar nossos investimentos em rastreabilidade e transparência nos processos produtivos, assim como no aprimoramento de plataformas de monitoramento territorial. Tudo isso em consonância e em estreita colaboração com os importadores e agentes da União Europeia.

Ainda estamos em um momento de discussão e entendimento junto aos agentes europeus de como o novo regulamento será implementado no Brasil. Entende-se que será um processo com aprendizado mútuo e um período de adaptação.

Os entes governamentais têm o papel de catalisar essa discussão entre produtores, processadores e exportadores brasileiros para que estejamos prontos para manter a liderança como fornecedores de produtos agrícolas para a União Europeia. 

 

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Era uma vez em uma escola na Suécia

11/04/2024 07h30

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Depois de anos educando as crianças quase que exclusivamente com recursos digitais, o Ministério da Educação da Suécia começou a perceber alguns sintomas perturbadores nas suas crianças: deficiência na leitura e na compreensão de textos apropriados para a idade, muita dificuldade de escrever e, quando solicitadas, escritas realizadas apenas em caixa alta.

Mas o que mais chamou a atenção foi a percepção de que as crianças também começaram a apresentar dificuldades para expressar o que sentiam, pois lhes faltava vocabulário até mesmo para descrever cenas breves ou relatos de emoções simples.

Muitas dessas manifestações, resultantes da falta de exercício cognitivo e motor, assemelhavam-se a alguns transtornos psicológicos, e não é de se espantar que muitos pais possam ter procurado psicólogos, feito exames ou mesmo ministrado medicamentos, preocupados com a lentidão, o mutismo ou ainda com dificuldade de compreensão de seus jovens filhos.

O governo sueco, diante dessa constatação, resolveu dar uma guinada nas suas orientações escolares e agora estimula fortemente o uso de livros em vez de laptops, como também incentiva a leitura em voz alta, as rodas de conversa e a prática da escrita - inclusive ditados - com o objetivo de reverter o cenário que se desenhava catastrófico para o futuro.

Crianças que não são estimuladas desde cedo em atividades motoras e intelectuais podem ter dificuldades de desenvolvimento profissional na vida adulta, particularmente em um mundo onde a criatividade e a inovação são realidade em todo lugar. 

No último Pisa, divulgado em 2023, o resultado geral dos jovens estudantes suecos foi de 487, ante 499 registrado na edição anterior, de 2018. Em Matemática, a queda foi de 15 pontos e em Leitura, de 10 pontos.

Suficiente para que fizesse um país sério, como a Suécia, acender as luzes amarelas e buscar compreender as razões dessa perda de energia no aprendizado de seus jovens cidadãos, (para além dos efeitos da covid, que afetou de maneira praticamente igual os países participantes).

Uma das medidas que o governo buscou implementar em todas as escolas - embora na Suécia o programa e as orientações pedagógicas não sejam unificadas como no Brasil - foi: menos celular, menos laptop e mais livro, leitura, escrita e conversa. O básico que, desde mais ou menos cinco séculos atrás, tem orientado a ideia do que é ensinar e aprender.

 Lógico que esta constatação não implica em demonizar o uso de tecnologia em sala de aula, mas de usá-la com sabedoria, de forma que ela ofereça o que, de fato, não é possível conseguir por outros meios.

Mal comparando, é como o hábito de muita gente usar palavras em inglês para se referir a coisas ou situações nas quais já existe uma palavra em português perfeitamente cabível. Esse é o mau uso da língua estrangeira. O que não significa que não se deva aprendê-la e usá-la, muito pelo contrário.

A tecnologia compreende um conjunto de ferramentas e habilidades que deve servir para ampliar nossa capacidade de ler, raciocinar, produzir e nos comunicar. Mas, para isso, precisamos antes saber ler, raciocinar, produzir e nos comunicar.

O perigo do uso de celulares e laptops no ensino fundamental é o de diminuir ou mesmo obstaculizar  o desenvolvimento motor e cognitivo das crianças, além de dificultar a expressão de ideias, emoções e socialização, por falta de vocabulário capaz de se fazer entender quando relatar uma experiência.

O fenômeno hikikomori, que se refere aos jovens que abandonam qualquer contato social real e mantêm-se isolados em seus quartos, comunicando-se apenas pelas redes sociais, vem se alastrando por todo mundo, assim como a descrição de novos transtornos psicológicos associados à dificuldade de comunicação e socialização. A saída, porém, pode estar um pouco antes do consultório médico ou do psicólogo. Na boa e velha sala de aula.

 

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