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Luiz Fernando Mirault Pinto: "Feitiço Celular"

Físico e Administrador de Empresas

Redação

31/03/2015 - 00h00
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No Brasil o número de celulares cresceu em 15 anos, 20% (hoje são 247 milhões de aparelhos) e o número de Estações Rádio Base, em 25% (70,5 mil antenas no total). 

Cada celular é um rádio transmissor-receptor que se comunica por meio de ondas eletromagnéticas. As ERB’s também se constituem de rádios-receptor-transmissor sendo necessárias na distribuição, qualidade, e rapidez na comunicação entre as centrais, os usuários e as respectivas operadoras de telefonia, que estende o serviço pela demanda dos usuários e as de qualidade.

Ocorre, no entanto que existem diversos problemas resultantes das instalações das antenas que afetam direta ou indiretamente o meio ambiente; poluem visualmente; desvalorizam as áreas contíguas; promovem a desordem ecológica; aumentam os riscos de acidentes e às intempéries; sujeitam-nos a criação de novas taxas e impostos. As grandes torres de ERB (50 m de altura) estão sujeitas a descargas elétricas de raios e em zonas urbanas colocam em risco seu entorno afetando a distribuição de picos de corrente, alterando potencial elétrico no solo, a tensão e a corrente por meio dos aterramentos próximos, bem como tensões induzidas nas linhas aéreas de distribuição de energia.

Estudos sérios (em laboratórios e epidemiológicos) têm sido desenvolvidos para constatar se os campos eletromagnéticos gerados (subestação de energia, linha de alta tensão, antenas de telecomunicação, etc.) seriam responsáveis por efeitos biológicos adversos na população. Embora não conclusivos tantos os que indicam algum tipo de risco, bem como aqueles que descartam tal possibilidade, ambos devem ser avaliados criteriosamente. 

Sem a certeza nos resultados obtidos e um consenso irrefutável, os pesquisadores optam pelo princípio de precaução, uma proposição fundamental em que são estabelecidas ações capazes de evitar ou minimizar danos irreversíveis individuais ou ambientais pelo uso ou aplicação de tecnologias ainda não bem digeridas, da mesma forma como ocorreu com o fumo e o amianto, banidos socialmente como causadores de males tardiamente detectados.

Certo é que as radiações eletromagnéticas, inclusive nas frequências utilizadas na telecomunicação, provocam o aquecimento dos tecidos onde incidem (efeito térmico) dependendo da exposição e da potencia. Alguns pesquisadores afirmam que os níveis de radiação não-ionizantes elevados poderiam provocar nos tecidos vivos alterações além dos efeitos térmicos, como a quebra de cadeias de DNA internamente às células, resultando num fator de risco potencial de um processo cancerígeno ou até mesmo alterações nos sistemas reprodutivos. No entanto outras pesquisas, veladamente financiadas por interesses específicos, concluem que efeitos biológicos não térmicos analisados teoricamente, não representam riscos, pois a taxa de deposição de energia por campos específicos em tecidos é mínima para produzir efeitos biológicos não térmicos significativos. 

O licenciamento para instalação das ERB’s depende da legislação em vigor, de laudo técnico sobre os parâmetros físicos (faixa de freqüência da transmissão, altura, inclinação, ganho, distância mínima entre antenas, a calibração dos equipamentos por órgão competente. 

No caso do Município de Campo Grande a regulamentação é vaga e se refere ao Sistema Municipal de Licenciamento e Controle Ambiental superficialmente tratando da Cobrança pela Concessão de uso de equipamentos e instalações. O Plano Municipal de Saúde de Campo Grande – MS 2010-2013 nem prevê ações de vigilância sobre esse tema, ou seja, não existe divulgação ou debates sobre o assunto tanto que o Manual de Licenciamento Ambiental do Governo do Estado de Mato Grosso do Sul editado pela SEMA/IMASUL em 2004, não faz menção as estações rádio-base.

O desconhecimento é proporcional ao desinteresse e a população de Campo Grande não acompanhou em 2014 uma CPI Estadual, da Telefonia, que apresentou um projeto de lei estabelecendo novas regras para instalação de antenas e ERB’s em Mato Grosso do Sul, justificando a necessidade de “destravar a liberação de licenças” garantindo o sinal nos municípios do Estado, e visando dobrar o número atual de torres (400) em Campo Grande para atender ao anseio das operadoras que encontram dificuldades para instalar antenas e atender a reclamação do consumidor sobre a falta de sinal. 

E como não haveria de ser foi sugerido que o Estado (isto é, nós mesmos) concedesse benefício fiscal (além dos 25% de ICMS que pagamos pelas empresas) para as operadoras instalarem antenas na “zona rural”.

Na contramão do princípio de precaução e da prevenção empregado mundialmente, o projeto permitirá à instalação das antenas, próximas a parques, praças, centros esportivos e áreas verdes, contrariamente a lei atual e as leis ambientais vigentes que determinam que antenas distem 500 metros entre si, e que agora seria de apenas 100 metros. 

No regime capitalista ocidental as empresas visam lucro e incentivam o consumo desmedido, oferecem “vantagens” aos consumidores cada vez mais zumbis dependentes (pesquisas afirmam a preferência em se estar “ligado” sobre o desejo sexual), nada mais naturais se ficarmos reféns desse sistema, mas que não seja pela falta de alerta que o desejo de consumo e as leis do mercado definirão e se sobreporão às políticas sociais, e a saúde de cada sul-mato-grossense, que no momento se entrega ao “feitiço celular”.

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Produtos livres de desmatamento nas estratégias da União Europeia

11/04/2024 07h30

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O Regulamento para Produtos Livres de Desmatamento é um entre vários componentes do Pacto Ambiental Europeu (European Green Deal), que tem como objetivo final atingir neutralidade de emissões de gases de efeito estufa em 2050, com um crescimento econômico livre da exploração excessiva dos recursos naturais e sem deixar ninguém para trás.

Trata-se, portanto, de uma peça dentro de um quebra-cabeça bem mais complexo que visa tornar a Europa um continente sustentável e carbono neutro.

Desde 2019, o Pacto Ambiental Europeu apresenta diretrizes que vão sendo gradativamente regulamentadas, cobrindo de energia renovável a produção de alimentos, passando por transporte e construção civil.

Trata-se de um marco legal abrangente que aborda diversas questões ambientais, incluindo o desmatamento, como parte dos esforços da União Europeia (UE) para um novo modelo de economia verde. 

O regulamento para produtos livres de desmatamento, aprovado em 2023, disciplina as atividades dos importadores europeus que passam a ser responsáveis por garantir que os produtos adquiridos não venham de áreas desmatadas depois de 31 de dezembro de 2020.

As restrições entram em vigor no final de 2024. Os importadores são os responsáveis pela implementação das verificações nos países exportadores, as chamadas “due dilligences”. 

As implicações para o Brasil são significativas, pois a UE é o segundo maior comprador dos nossos produtos agropecuários. Enfrentamos sérios problemas de desmatamento ilegal na floresta amazônica, além de questões fundiários e sociais.

Outro ponto importante é que a legislação europeia não faz distinção do que é considerado desmatamento legal ou ilegal. A normativa claramente se refere a desmatamento em geral. 

Esse ponto vem sendo questionado pelo governo brasileiro, alegando que está acima das exigências legais do ordenamento jurídico do país. Argumenta-se que essa normativa representaria uma forma de barreira não tarifária aos produtos do Brasil.

Entretanto, o argumento contrário é de que a UE tem a prerrogativa de estabelecer os critérios para os produtos que farão parte das suas cadeias de suprimento. E, como o objetivo maior é a redução dos impactos ambientais do consumo dos próprios europeus, nada mais lógico do que exigir que seus fornecedores sigam padrões compatíveis com essa ambição.

Importante notar que há fortes reações ao Pacto Ambiental dentro da própria UE, como vimos recentemente nos diversos protestos de produtores rurais no território europeu.

Embora estejam sensibilizando parte da sociedade e postergando algumas limitações, dificilmente a insatisfação dos produtores europeus ou dos governos fornecedores de produtos agrícolas para a Europa terão força para uma guinada nos objetivos de longo prazo da UE.

Parece haver um sério proposito do continente em mudar completamente suas bases de desenvolvimento, mirando a transição para uma economia mais resiliente e de baixas emissões de gases de efeito estufa.

Ao Brasil cabe o desafio de entender essas normativas e entrar em um processo de negociação sério e embasado na ciência. Ainda há grandes lacunas sobre como serão feitas as verificações do desmatamento e, sobretudo, como serão mapeadas as origens de cada lote de exportação.

Precisaremos acelerar nossos investimentos em rastreabilidade e transparência nos processos produtivos, assim como no aprimoramento de plataformas de monitoramento territorial. Tudo isso em consonância e em estreita colaboração com os importadores e agentes da União Europeia.

Ainda estamos em um momento de discussão e entendimento junto aos agentes europeus de como o novo regulamento será implementado no Brasil. Entende-se que será um processo com aprendizado mútuo e um período de adaptação.

Os entes governamentais têm o papel de catalisar essa discussão entre produtores, processadores e exportadores brasileiros para que estejamos prontos para manter a liderança como fornecedores de produtos agrícolas para a União Europeia. 

 

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Era uma vez em uma escola na Suécia

11/04/2024 07h30

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Depois de anos educando as crianças quase que exclusivamente com recursos digitais, o Ministério da Educação da Suécia começou a perceber alguns sintomas perturbadores nas suas crianças: deficiência na leitura e na compreensão de textos apropriados para a idade, muita dificuldade de escrever e, quando solicitadas, escritas realizadas apenas em caixa alta.

Mas o que mais chamou a atenção foi a percepção de que as crianças também começaram a apresentar dificuldades para expressar o que sentiam, pois lhes faltava vocabulário até mesmo para descrever cenas breves ou relatos de emoções simples.

Muitas dessas manifestações, resultantes da falta de exercício cognitivo e motor, assemelhavam-se a alguns transtornos psicológicos, e não é de se espantar que muitos pais possam ter procurado psicólogos, feito exames ou mesmo ministrado medicamentos, preocupados com a lentidão, o mutismo ou ainda com dificuldade de compreensão de seus jovens filhos.

O governo sueco, diante dessa constatação, resolveu dar uma guinada nas suas orientações escolares e agora estimula fortemente o uso de livros em vez de laptops, como também incentiva a leitura em voz alta, as rodas de conversa e a prática da escrita - inclusive ditados - com o objetivo de reverter o cenário que se desenhava catastrófico para o futuro.

Crianças que não são estimuladas desde cedo em atividades motoras e intelectuais podem ter dificuldades de desenvolvimento profissional na vida adulta, particularmente em um mundo onde a criatividade e a inovação são realidade em todo lugar. 

No último Pisa, divulgado em 2023, o resultado geral dos jovens estudantes suecos foi de 487, ante 499 registrado na edição anterior, de 2018. Em Matemática, a queda foi de 15 pontos e em Leitura, de 10 pontos.

Suficiente para que fizesse um país sério, como a Suécia, acender as luzes amarelas e buscar compreender as razões dessa perda de energia no aprendizado de seus jovens cidadãos, (para além dos efeitos da covid, que afetou de maneira praticamente igual os países participantes).

Uma das medidas que o governo buscou implementar em todas as escolas - embora na Suécia o programa e as orientações pedagógicas não sejam unificadas como no Brasil - foi: menos celular, menos laptop e mais livro, leitura, escrita e conversa. O básico que, desde mais ou menos cinco séculos atrás, tem orientado a ideia do que é ensinar e aprender.

 Lógico que esta constatação não implica em demonizar o uso de tecnologia em sala de aula, mas de usá-la com sabedoria, de forma que ela ofereça o que, de fato, não é possível conseguir por outros meios.

Mal comparando, é como o hábito de muita gente usar palavras em inglês para se referir a coisas ou situações nas quais já existe uma palavra em português perfeitamente cabível. Esse é o mau uso da língua estrangeira. O que não significa que não se deva aprendê-la e usá-la, muito pelo contrário.

A tecnologia compreende um conjunto de ferramentas e habilidades que deve servir para ampliar nossa capacidade de ler, raciocinar, produzir e nos comunicar. Mas, para isso, precisamos antes saber ler, raciocinar, produzir e nos comunicar.

O perigo do uso de celulares e laptops no ensino fundamental é o de diminuir ou mesmo obstaculizar  o desenvolvimento motor e cognitivo das crianças, além de dificultar a expressão de ideias, emoções e socialização, por falta de vocabulário capaz de se fazer entender quando relatar uma experiência.

O fenômeno hikikomori, que se refere aos jovens que abandonam qualquer contato social real e mantêm-se isolados em seus quartos, comunicando-se apenas pelas redes sociais, vem se alastrando por todo mundo, assim como a descrição de novos transtornos psicológicos associados à dificuldade de comunicação e socialização. A saída, porém, pode estar um pouco antes do consultório médico ou do psicólogo. Na boa e velha sala de aula.

 

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