Artigos e Opinião

OPINIÃO

A+ A-

Luiz Fernando Mirault Pinto:
"Ajuste de contas"

Físico e Administrador

Redação

25/10/2016 - 01h00
Continue lendo...

Dias atrás, um “flanelinha” desabafou: - “Essa greve bancária prejudica meus negócios,  afinal o dinheiro precisa girar!”. E respondi: “Mais fácil entender de economia do que convencer os espertalistas”.

Economia no sentido figurado ou popular se refere ao controle dos desperdícios, contenção dos gastos, poupança e... “não é essa que vai sanar as contas”.

Como ciência estuda os processos de produção, distribuição, acumulação e consumo de bens. Estuda as flutuações das atividades econômicas caracterizadas pelos períodos de bonança (desenvolvimento/ crescimento) e de recessão (estagnação), que resultam da superprodução ou do declínio produtivo (desaceleração das atividades/redução de investimentos) conseqüência dos lucros menores que as obrigações, respectivamente. 

Não devemos confundir os processos que envolvem as atividades econômicas, os quais se equilibram naturalmente e que se relacionam economicamente entre si, com a economia doméstica, particular, que se vincula a uma única entrada de receita, sem qualquer garantia de continuidade.

Elementos externos como alterações de preços do petróleo, comódites, fuga de investidores, capital especulativo, bolhas financeiras, imobiliárias e inflacionárias, a quebra de instituições financeiras (EEUU-2006) geram essas variações e levaram à crise mundial (2008-2012), que no Brasil foi politicamente e inadequadamente atribuída à responsabilidade exclusiva de uma pessoa e sua administração.

Sabe-se hoje, embora muitos não se queira admitir, que a crise da atualidade resultou do setor privado e não governamental. Foi a baixa rentabilidade das empresas, indústrias (patrocinadas pelo setor financeiro), a reduzida acumulação de lucros em relação à expectativa de retorno devido as despesas financeiras (endividamento, aumento das taxas de juros, desvalorização do cambio) embaladas pelo período eufórico de estabilidade. 

O remédio para a recessão não é a restrição dos gastos como alardeado à época e mais atualmente, e sim a manutenção do fluxo de caixa, o dinheiro circulando, como diria o “guardador de carros”, acrescido de uma redução de impostos, uma expansão de crédito, redução de juros, e investimentos para estimular a economia, mesmo que o deficit aumente sendo necessário para se restabelecer o equilíbrio da economia. 

O dever de casa foi feito com o PAC e os programas sociais, todos de cunho desenvolvimentista capazes de promover o crescimento econômico, com a contratação de obras e de mão-de-obra (postos de trabalho/empregos) de infraestrutura e os investimentos por meio dos financiamentos do BNDES. 

O erro foi a desoneração de tributos seletivos e o financiamento dirigido às maiores, e tradicionais empresas, investidoras e empregadoras de inúmeros governos (só agora envolvidas com investigações judiciais), indústrias automotivas, montadoras nacionais e estrangeiras, siderúrgicas e telefônicas privatizadas, bancos, empresas de bebidas, a grande mídia e exportadores beneficiados com empréstimos a juros baixíssimos. Atividades econômicas de influencia nos sucessivos governos, mas insatisfeitas com o volume de benesses recebidas  

Os críticos politizaram a economia, e hoje os políticos substituem os economistas, mas sabendo que a função do governo, é direcionar os investimentos para os programas sociais, a criação e empregos, a distribuição de rendas, a redução das desigualdades, a produção de bens, e a expansão do consumo e não a contenção de gastos. 

Sabem que o déficit fiscal foi necessário para permitir ao setor privado acumulasse ativos financeiros, mas que as empresas aproveitaram a calmaria do mercado para financiarem o capital de giro, captando recursos para alongarem dívidas. Poucos investimentos foram realizados e mantiveram baixos níveis de segurança financeira expondo suas empresas a falências e dispensando a força de trabalho. 

O ajuste proposto parte da premissa “é preciso crescer o bolo para depois distribuir”. Procura engessar os gastos necessários aos investimentos, reprimir a demanda dos programas sociais, da saúde e da educação comprometendo a produção de setores da economia, que continuarão acumulando dívidas em função do projeto de austeridade fiscal. Além disso, não existe garantia da redução da dívida sendo inevitável o crescimento dos gastos e a receita uma expectativa.

A incerteza estará em cada esquina como desenhado nessa “ponte para o futuro”!