Artigos e Opinião

OPINIÃO

Lígia Oizumi: "O que os japoneses têm a ensinar"

Filha de japonês, administradora de empresas, especialista em Gestão de Pequenos Negócios

Redação

09/02/2017 - 01h00
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Tamanho literalmente não é documento!

Apesar de uma pequena extensão territorial, apenas 377 mil km², ocupando a 61ª posição em tamanho territorial se comparado ao maior país do mundo, a Rússia, com 17 milhões de km², o Japão dá show em muitos grandões por aí!

Possui tradições e filosofias milenares, cultura forte e é uma das nações mais respeitadas de todo o mundo. Também é um dos países mais populosos, porém, um dos mais seguros para viver e com a terceira maior economia do mundo. É líder na prevenção de desastres naturais, no desenvolvimento de novas tecnologias amigas do ambiente, nos campos da pesquisa científica, tecnológica, em produção e utilização de robótica e pesquisa biomédica.

Os japoneses são tão respeitados, que foram noticiados pelas mídias quando os seus torcedores fizeram um simples ato e deram um show de educação e civilidade ao limpar a Arena Pernambuco, após a derrota da Costa do Marfim na estreia da Copa do Mundo em 2014. E isso, para eles, não era mais que obrigação! Este exemplo já é dado desde cedo nas escolas, onde todos os alunos limpam o banheiro da escola para valorizar o patrimônio que possuem.

As pessoas respeitam cada vez menos os seus semelhantes e não dão importância alguma ao meio ambiente. Os rios estão sujos e poluídos, em consequência da falta de educação e consciência do ser humano com o meio em que vive. Os dias estão muito mais quentes, acontecem mais enchentes, as ventanias estão muito fortes, comemos mais alimentos que nos matam em vez de nos nutrir. Os filhos não respeitam seus pais, e cresce cada vez mais o número de homicídios entre os familiares.

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 2 milhões de pessoas ainda morrem de fome no mundo a cada dia, enquanto bilhões de toneladas de alimentos são desperdiçadas e jogadas no lixo.

É preciso mudar! Adotar hábitos sustentáveis no dia a dia para ajudar a reduzir os impactos ambientais e sociais que a sociedade provoca na natureza. Já passou da hora de os 7 bilhões de habitantes do mundo realmente aprenderem o que é coleta seletiva de lixo, não jogarem lixo nas ruas e nos rios, economizarem água, não desperdiçarem comida e não acabarem com a natureza.

Se quisermos passar dos 11 bilhões de habitantes no mundo em 2100, de forma saudável e sustentável, é imprescindível a reeducação para melhorar a qualidade de vida atual e das próximas gerações. E, como todos vivemos e compartilhamos do mesmo mundo, por que não aprender com quem já é mestre? Aprender com quem já domina a arte da educação, a arte da disciplina e a arte da organização.

O mundo está pedindo socorro, precisa aprender urgentemente sobre o que é “Mottainai”, a filosofia milenar japonesa que fala sobre o desperdício. Não só o simples desperdício de comida, roupa ou energia, mas também o desperdício de tempo, dinheiro, emoção, sonhos e talento. Sobre o respeito pela essência sagrada das pessoas e coisas.

Lembro bem de quando era pequena e meu “ojiisan” (avô em japonês) dizia para não deixar um único grão de arroz no prato, porque poderia falta para alguém.

Os ambientalistas do século 21 utilizam os princípios do “Mottainai” reduzidos aos 3Rs – Reduzir, Reusar e Reciclar; porém, a filosofia vai muito além do desperdício das coisas materiais, envolvendo sentimentos como os esforços desperdiçados que levam à raiva, ao sofrimento, ressentimento quando a pessoa que sofreu a perda é incapaz de controlar as emoções.

Os japoneses têm muito a ensinar ao resto do mundo e possuem um papel fundamental de disseminar a cultura do respeito ao próximo e ao meio ambiente, bem como do respeito à vida, e precisam reconhecer urgentemente esse importante papel de “senseis” em prol da continuidade sustentável do mundo.

EDITORIAL

As bolhas que nos afastam da realidade

Enquanto uma parte do Estado amplia suas zonas de conforto, outra é pressionada a fazer mais com menos, arcando com o desgaste político e social das escolhas difíceis

17/12/2025 07h15

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A expressão “estar em uma bolha” deixou de ser apenas uma gíria de internet para se transformar em um retrato cada vez mais fiel da forma como a sociedade vem se organizando. Nas redes sociais, algoritmos direcionam conteúdos, opiniões e notícias de acordo com preferências previamente identificadas.

O resultado é um ambiente confortável em que quase tudo confirma aquilo que o indivíduo já pensa. Divergir passa a ser exceção e confrontar ideias, um incômodo evitado.

Fora do ambiente digital, a lógica das bolhas também se impõe. O isolamento crescente em condomínios fechados, verticais ou horizontais, reduz o contato cotidiano com o diferente. Ao limitar o convívio, o indivíduo perde a oportunidade de compreender realidades distintas da sua própria.

Torna-se, ao mesmo tempo, mais desconfiado e mais desinformado, conhecendo o mundo mais pelo “ouvir dizer” do que pela experiência direta. A realidade passa a ser filtrada, editada e, muitas vezes, distorcida.

As bolhas criam falsas impressões. Quando se consolidam em grupos, reforçadas pelo sentimento de pertencimento, geram uma perigosa falta de sintonia com o restante da sociedade. Problemas coletivos passam a ser relativizados, minimizados ou simplesmente ignorados.

A empatia dá lugar à autoproteção e o interesse público acaba substituído pela preservação de privilégios.

Nesta edição, mostramos um exemplo concreto dessa desconexão: o aumento do duodécimo para quase todas as instituições de Mato Grosso do Sul, mesmo após um ano marcado por crise financeira, enquanto cresce a sobrecarga sobre o Poder Executivo.

É sobre ele que recai, de forma quase exclusiva, o peso de enfrentar as dores reais da sociedade: da falta de recursos para serviços essenciais às demandas crescentes por saúde, educação, transporte e assistência social.

Essa discrepância orçamentária não é apenas um dado técnico. Ela reforça as bolhas institucionais. Enquanto uma parte do Estado amplia suas zonas de conforto, outra é pressionada a fazer mais com menos, arcando com o desgaste político e social das escolhas difíceis.

Trata-se de um desequilíbrio que aprofunda a sensação de injustiça e distancia ainda mais as instituições da realidade vivida pela população.

Seria desejável que integrantes das instituições que recebem repasses de duodécimo saíssem de suas bolhas. Que vivessem mais intensamente a realidade fora de gabinetes, relatórios e planilhas.

Que entendessem que, em tempos de dificuldades financeiras, reforçar privilégios e ampliar confortos institucionais não é apenas insensível, é socialmente injusto.

Romper bolhas não é simples, mas é necessário. Para indivíduos, para grupos e, sobretudo, para instituições públicas. A democracia e a justiça social exigem mais contato com a realidade concreta e menos acomodação em mundos protegidos. Caso contrário, seguiremos administrando percepções, e não problemas reais.

ARTIGOS

A Interpol e as lições do roubo ao Louvre: quando a cultura exige proteção global

O que alguns insistem em tratar como luxo é, na verdade, expressão de identidade coletiva, memória histórica e soberania cultural

16/12/2025 07h45

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A Interpol é amplamente reconhecida por seus sistemas de avisos e pela atuação no combate ao crime organizado transnacional.

O recente episódio envolvendo o Louvre, porém, recoloca em evidência um ponto ainda subestimado no debate público: crimes não violentos, como o roubo de bens culturais, também demandam tutela internacional qualificada.

O tráfico de obras de arte e de patrimônio histórico segue sendo um delito de baixo risco e alto lucro, alimentado pela opacidade do mercado e pela fragmentação das respostas estatais.

O que alguns insistem em tratar como luxo é, na verdade, expressão de identidade coletiva, memória histórica e soberania cultural. A Interpol parte dessa premissa, ao reconhecer a cultura como interesse jurídico protegido, merecedor da mesma atenção dedicada à vida, à segurança e à integridade física.

Nesse contexto, o Banco de Dados de Obras de Arte Roubadas da organização cumpre papel central: dar rastreabilidade a um mercado em que o patrimônio cultural pode, com facilidade, converter-se em saque.

A existência do banco de dados não é apenas simbólica. Ela permite a identificação de peças subtraídas, inibe a circulação ilícita e oferece suporte técnico às investigações nacionais.

Ainda assim, a eficácia do sistema depende de algo que nem sempre acompanha a velocidade do crime: cooperação internacional efetiva e compartilhamento ágil de informações entre agências de aplicação da lei.

Há espaço evidente para aprimoramentos. A ampliação do banco de dados com atualizações em tempo real, a integração mais ampla de museus, casas de leilão e colecionadores privados, além de protocolos obrigatórios de verificação de procedência, fortaleceriam significativamente o combate ao tráfico ilícito.

Do mesmo modo, penalidades mais rigorosas e treinamento especializado para forças policiais e autoridades alfandegárias são medidas indispensáveis para reduzir a atratividade econômica desse tipo de crime.

O episódio do Louvre serve como alerta. Proteger bens culturais não é capricho elitista nem pauta secundária: é defesa da memória, da identidade e do patrimônio comum da humanidade.

Quando uma obra é roubada, perde-se mais do que um objeto, perde-se um fragmento da história coletiva. A resposta, portanto, precisa ser global, coordenada e à altura desse valor.

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