Estamos às vésperas do sesquicentenário da Guerra do Paraguai. Esse conflito, ainda hoje, é o mais expressivo referencial da história do Exército Brasileiro. As forças, então em operações, com o pessoal oriundo de todas as Províncias adquiriram o caráter nacional e do povo em armas, com efetiva participação junto ao Exército Nacional, dos Voluntários da Pátria e da Guarda Nacional.
Mas, a consagrada e tradicional “Guerra do Paraguai” vem, desafortunadamente, sendo substituída por “Guerra da Tríplice Aliança” ou “Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai”. Estas desusadas designações seguem hoje o que está, tão em moda, pela utilização desses vocábulos por vários historiadores que contestam a legitimidade do nosso conflito com o Paraguai. Afirmam eles que “institucionalmente” na produção historiográfica brasileira dá-se o nome de “Guerra da Tríplice Aliança” ou “Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai”.
Considerando esse enfoque do conflito, fica a impressão que foi o Paraguai a grande vítima hipossuficiente da Tríplice Aliança, dando uma visão reducionista da Guerra a favor do nosso adversário. O certo e comprovado é que Solano Lopez e o iludido povo paraguaio foram os únicos responsáveis pela guerra perdida. Os historiadores que adotam a linha da “Tríplice Aliança”, não trazem argumentos lógicos nem bibliográficos históricos (civil ou militar) em defesa dessas designações.
Não resta dúvida, de que no passado um numero mínimo de historiadores militares brasileiros (Tasso Fragoso, Tristão de Alencar Araripe, Marechal Castelo Branco, Francisco Ruas Santos, Nelson Wernek Sodré e Rui Alencar Nogueira) usou as expressões “Tríplice Aliança” e outras assemelhadas, contrariamente ao entendimento de inumeráveis historiadores, pensadores, escritores, periodistas, articulistas e professores nacionais e estrangeiros, também daquela época e da atualidade, particularmente da América do Sul.
Entretanto, na época dos escritos o sentido era um e hoje está orientado para outro. É preciso que se contextualizem as expressões no tempo em que foram ou estão sendo utilizadas. Se considerarmos o ponto de vista estritamente militar poder-se-ia admitir que fossem “três poderosos países” a esmagar um “desprotegido Paraguai”. Assinale-se que, por verdadeiro, caiu sobre o Brasil o pesado ônus da guerra. A força militar dos países integrantes da Tríplice Aliança somava no início da Campanha: 27.200 combatentes assim distribuídos (20.000 brasileiros; 6.000 argentinos e 1.200 uruguaios). A essa força aliada se opunham 64.000 paraguaios mobilizados, milhares dos quais ocupando território da Argentina e do Brasil (Mato Grosso e Rio Grande do Sul). Participação modesta, como se vê, da Argentina e do Uruguai.
Com o avançar da Campanha os efetivos dos aliados foram sendo aumentados, particularmente dos brasileiros. A Argentina e o Uruguai tiveram muita dificuldade em recompletar suas tropas no Teatro de Operações, devido à necessidade de manterem a ordem interna nos seus respectivos países e não terem reservas suficientes para atender o desenrolar da guerra. Continuaram com apoio bastante discreto, em relação às forças brasileiras. Muitas delas nem voltaram mais ao “front”.
Acresce-se, ademais, que toda força naval era brasileira, pois nem a Argentina nem o Uruguai dispunham de Esquadra e sendo assim, só o Brasil teria condições de enfrentar, com êxito, as fortificações que Lopez levantara em diversos pontos ao longo das margens do Rio Paraguai.
No que tange as denominações das guerras e batalhas, desde a Antiguidade Clássica, são conferidas em sua esmagadora maioria, considerando-se e referenciando-se o local, “o locus”, onde elas se travaram. Assim, temos a “Guerra do Peloponeso”, a “Guerra das Gálias”, a “Batalha das Termopilas”, a “Batalha de Salamina”, etc.; mais tarde a “Guerra do Cáucaso”, a “Guerra da Criméia”, a “Guerra do Paraguai” (denominação bastante tradicional e consagrada, de há muito por nossa historiografia militar e sul-americana e pela sua vasta coleção didática da História do Brasil). Recentemente temos a “Guerra da Coreia” a “Guerra do Vietnã”, a “Guerra das Malvinas”, a “Guerra dos Balcãs”, a “Guerra do Golfo”, a “Guerra do Iraque”, a Guerra do Afeganistão”, a Guerra do Sudão”, e por aí elas seguem.
Na oportunidade, lembraria que o único Órgão, no Brasil, que pode, “institucionalmente”, se pronunciar acerca da discordância é o Instituto de Geografia e História Militar do Brasil, com sede no Rio de Janeiro, por ser o “Órgão Consultivo Oficial de História Militar”, no Brasil, “ex vi” do Decreto 27.512, de 28 de novembro de 1949, publicado no DOU, de 1º de dezembro de 1949, ainda em pleno vigor.
Por derradeiro, a pergunta é: enquanto o IGHMB não se pronuncia, e, em vista do exposto, qual a denominação mais condizente com o conflito: “Guerra do Paraguai” ou “Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai”?