Uma expressão tão conhecida quanto incompleta é “quem faz a faculdade é o aluno”.
Em verdade, o professor é fundamental para a formação dos acadêmicos, como ao proporcionar horizontes para dialogar, pesquisar, debater, ir em busca de novos saberes e trilhar caminhos para além dos já percorridos pelos grandes pensadores da humanidade, a fim de propiciar uma formação sólida, da qual seus alunos (e ele próprio) possam se orgulhar.
Nas breves linhas a seguir, convido o caro leitor para algumas reflexões de Direito e Cinema a partir do filme “AfterImage”.
“AfterImage” (no original, “Powidoki”) é o último filme do renomado diretor Andrzej Wajda (1926-2016) sobre o pintor e professor polonês Wladyslaw Strzeminski (1893-1952).
O título “AfterImage” refere-se ao fenômeno visual da imagem registrada pela nossa mente após a observação de algo. O filme aborda os últimos anos de vida de Wladyslaw, sua luta contra o stalinismo, que asfixiava a Polônia da época nos mais diversos âmbitos. O professor defendia a liberdade de pensamento e artística, suas aulas e suas obras vanguardistas não poderiam ser meramente instrumento de uma política/ideologia de Estado.
Com isso, foi demitido da Escola de Belas Artes de Lodz (apesar de ser um de seus fundadores) e suas obras expostas foram destruídas, com a intenção de que seu nome fosse definitivamente apagado.
Uma máxima da União Soviética era que só os que trabalhassem mereciam comer. Porém, o filme revela a hipocrisia de tal expressão, pois os que não se coadunavam com o governo não permaneciam no registro estatal da categoria e, com isso, não conseguiam emprego ou, quando conseguiam, não tinham acesso ao pagamento ou a cupons de alimento.
Um dos maiores artistas e mestres da Polônia teve, entre as causas – em longo prazo – de sua morte, a falta de alimentação.
Em decorrência da imagem que resta na mente após fixar o olhar no objeto, Wladyslaw afirma: “Só vemos as coisas às quais prestamos atenção”.
Enquanto professor, além das necessárias aulas teóricas, ministrava aulas práticas de pintura ao ar livre, para que os alunos pudessem ter seus horizontes alargados, surpreendidos, e conseguissem desenvolver e aperfeiçoar o seu potencial conforme lhes parecesse melhor, pois “cada um vê de forma diferente.
Cada escolha é válida porque é sua”. Wladyslaw era rodeado de alunos que o admiravam imensamente; como sintetizado pela aluna Hania: “Ele abriu meus olhos”.
Porém, um a um, foram afastados do mestre: quem se aproximasse dele não conseguiria progredir nos estudos ou na arte, nem arrumaria trabalho, pois o regime soviético não permitiria. Hania tentou, às escondidas, datilografar os manuscritos do professor, porém, a polícia a prendeu e, após, ela não mais apareceu em cena.
A triste história de Wladyslaw tem muito a ensinar, especialmente para que não se repita, mesmo que a roupagem seja de outro cenário, em outra época.
Os verdadeiros mestres sabem que a liberdade de pensamento deve nortear a formação universitária, por isso, ensinam as mais diferentes linhas de pensamento jurídico e têm a paciência digna dos grandes educadores para ouvir dúvidas e incentivar o caminho dos jovens.
Com sabedoria e zelo, lecionam a fim de que a formação empreendida não seja apenas jurídico-profissional, mas sobretudo humanista, alicerçada em valores éticos e morais, que permita enfrentar o futuro que as carreiras jurídicas propiciarão aos acadêmicos.
Enfim, após as explanações acompanhadas atentamente pelo caro leitor, desejo um futuro para o Brasil em que as pessoas vocacionadas para o Magistério (principalmente o jurídico, em razão do recorte temático adotado) consigam ingressar e manter-se nas cátedras, sendo as liberdades de pensamento e de ensino crítico baluartes que guiem todos os seus passos.