Não faz muito tempo, os maiores riscos imaginados por alguém que sonhasse em seguir a carreira do magistério era adquirir alguns nódulos nas pregas vocais (uso excessivo da voz), ter problemas respiratórios (exposição constante ao pó de giz), enfrentar dores articulares (posição inadequada e esforços repetitivos), cansaço na visão (horas mais horas corrigindo tarefas escolares), e, possivelmente, um cansaço extremo no final de uma dura jornada de trabalho.
Com o tempo, alguns desses riscos foram sendo minimizados, como é o caso da ausência do giz, que vem senso paulatinamente substituído pelos marcadores para quadro branco e de outras pequenas vantagens conquistadas pela categoria, mas que não são suficientes para tirar a categoria docente do rol de profissões de excessivo risco para a saúde física e mental do ser humano.
Contudo, o pior é que, nos últimos tempos, um fator que antes era praticamente desprezível, de tão raras que eram suas ocorrências, tem contribuído para tornar mais tensas e inseguras as atividades de professores e professoras de todo o Brasil: a violência dentro e fora dos muros das escolas.
Durante muito tempo, violência só adentrava à escola como tema de redação ou como assunto das aulas de estudos sociais. Atitudes tidas como violentas de alguns alunos eram reprimidas com atividades de conscientização, advertências, suspensões ou, em casos limítrofes, com expulsões.
Os pais eram chamados à diretoria e se responsabilizavam pelas atitudes inadequadas dos filhos. Professores e corpo diretivo das instituições de ensino confiavam tanto nas autoridades constituídas quanto na boa vontade de pais, alunos, comunidade e até mesmo na dos malfeitores das redondezas, que viam a escola como um local inexpugnável e livre dos perigos que rondavam as comunidades.
Mas isso hoje faz parte de um passado romântico! As ameaçadoras frases como “vou te pegar lá fora”, “quando sair da escola você me paga” ou “se o professor não estivesse aqui, você ia ver” deixaram de ser ditas e a presença dos docentes não mais intimida os agressores, que não veem mais os portões da escola como limite para suas atitudes violentas.
Além de conviver com constantes cenas de agressões, tráfico de drogas e furtos nos arredores das instituições de ensino, os professores vivem em constante medo de serem alvo dessas ondas de fúria dentro e fora das salas de aula. Ataques físico e verbais há um bom tempo começaram a fazer parte do currículo dos integrantes do magistério e dos demais profissionais envolvidos no processo de ensino e aprendizagem.
Na internet e nos diversos aplicativos virtuais, circulam vídeos, fotos e relatos de professores que foram agredidos durante o exercício da profissão, às vezes pelos próprios alunos que receberam os ensinamentos e que, por algum motivo, sentiram-se desafiados ou contrariados.
Xingamentos, puxões de cabelos, mordidas, pontapés e ameaças de espancamento ou mesmo de morte sofridos em sala de aula somam-se aos pneus furados, carros amassados e equipamentos furtados nas imediações dos centros de ensino. Tudo isso sem contar as escolas invadidas e depredadas por meliantes.
Desprotegido e sem expectativas, muitos professores decidem afastar-se das atividades, mudam de profissão ou se obrigam a conviver com as incertezas oferecidas por uma digna profissão que precisa ter suas bases revistas não apenas pelos profissionais, mas também pela família e pelas autoridades competentes.
Isso precisa mudar. Escola tem que ser um lugar seguro para todos. Professores são, sim, heróis, mas seus poderes não incluem tirar do corpo e da memória as marcas de tanta violência.