Artigos e Opinião

ARTIGO

A+ A-

José Carlos de Oliveira Robaldo: "Política é para político!"

Procurador de Justiça aposentado

Redação

29/06/2017 - 02h00
Continue lendo...

Em texto anterior, afirmamos que confesso que não me agradam as expressões populares: “não vá o sapateiro além do sapato”, “cada macaco no seu galho”. Isso porque, ao nosso ver, sugerem a incapacidade de o homem avançar, progredir, sair da sua ilha, refletir sobre outras áreas do conhecimento. “Existo, logo penso” (Nietzsche), o que reforça o ensinamento de Saramago: “sair da ilha para ver a ilha, que não nos vemos se não nos saímos de nós”.

Não obstante, sob o aspecto pragmático, vejo com preocupação o surgimento de nomes de determinadas autoridades como solução, sobretudo para os executivos estadual e federal em relação às eleições de 2018. A propósito, estão citando nos últimos dias os nomes de Joaquim Barbosa, Sérgio Moro e Odilon de Oliveira como alternativas para superar o momento caótico da crise política por que passa o País. Aqueles para a Presidência da República e, este último, para o governo do Estado de Mato Grosso do Sul. 

A lembrança dos nomes acima deve-se à excelência dos seus serviços como magistrados. Apenas como resgate, Joaquim Barbosa destacou-se como ministro relator à frente do caso conhecido como Mensalão, cujas condenações só se verificaram graças à metodologia que implantou e à sua implacável dedicação. Sem qualquer exagero, sua atuação significou um marco divisor de águas no cenário penal, em especial em relação à impunidade no campo do crime do “colarinho branco”.

Odilon de Oliveira, como juiz federal, conquistou um elevado grau de credibilidade graças à sua competência e firme atuação à frente do crime organizado, sobretudo do tráfico de drogas ilícitas. Sérgio Moro, igualmente como magistrado federal, tornou-se um expoente respeitadíssimo e admirado em face da sua profícua atuação em desfavor do crime organizado, fazendo frente aos poderosos, revelada na Operação Lava Jato, também denominada Petrolão. 

É inquestionável que se trata de excelentes técnicos, mas não são políticos. O vácuo existente entre o técnico e o político é enorme. Político é político e técnico é técnico. Seria ótimo se pudéssemos juntar em uma só pessoa esses dois atributos. Mas isso é difícil, porque as premissas lógicas são diversas. O técnico trabalha com a lógica racional, enquanto a lógica do político é outra. Não chegaria ao ponto de afirmar que a lógica da política é a falta de lógica, mas também não ousaria contestar essa conclusão e tão pouco deixaria de compreender essa lógica e, até certo ponto, de aceitá-la.

O jargão “é dando que se recebe” ou o “ toma lá, dá cá”, para o técnico e até mesmo para grande parte da sociedade é inaceitável, enquanto na política, desde que respeitados os parâmetros do mínimo ético, é compreensível. A governabilidade depende de acertos políticos, sobretudo com partidos políticos, até mesmo com agremiações partidárias que, por ocasião da eleição, foram adversários. O que, sob a ótica política, ou da lógica política, não é nenhum pecado capital o fornecimento de cargos em troca de apoio partidário, desde que seja para aprovar projetos de interesse da nação. O que reforça a ideia de que política é para político.

Não por acaso a conclusão de que se exige do político um perfil próprio, isto é, de liderança. O êxito do seu projeto político depende da sua capacidade de convencimento, articulação e negociação, muitas vezes, com adversários e até mesmo com sua própria base, em que prevalece a ideia do custo-benefício. 

É bem provável que a menção aos nomes apontados se deve à carência de lideranças políticas. Sente-se falta no cenário político brasileiro dos “Marios Covas”, “Tancredos  Neves”, “Ulisses Guimarães”, entre outros.

Não é nenhum devaneio afirmar-se que a pesquisa de intenção de votos (Folha de S. Paulo, Poder, 26/6), colocando Lula e Bolsonaro como os preferidos pelos entrevistados para a próxima eleição para a Presidência da República, no próximo pleito, revela, com clareza, a falta de lideranças à altura para o exercício de chefe da nação.

Enfim, espera-se que surjam lideranças políticas à altura.

ARTIGO

Produtos livres de desmatamento nas estratégias da União Europeia

11/04/2024 07h30

Continue Lendo...

O Regulamento para Produtos Livres de Desmatamento é um entre vários componentes do Pacto Ambiental Europeu (European Green Deal), que tem como objetivo final atingir neutralidade de emissões de gases de efeito estufa em 2050, com um crescimento econômico livre da exploração excessiva dos recursos naturais e sem deixar ninguém para trás.

Trata-se, portanto, de uma peça dentro de um quebra-cabeça bem mais complexo que visa tornar a Europa um continente sustentável e carbono neutro.

Desde 2019, o Pacto Ambiental Europeu apresenta diretrizes que vão sendo gradativamente regulamentadas, cobrindo de energia renovável a produção de alimentos, passando por transporte e construção civil.

Trata-se de um marco legal abrangente que aborda diversas questões ambientais, incluindo o desmatamento, como parte dos esforços da União Europeia (UE) para um novo modelo de economia verde. 

O regulamento para produtos livres de desmatamento, aprovado em 2023, disciplina as atividades dos importadores europeus que passam a ser responsáveis por garantir que os produtos adquiridos não venham de áreas desmatadas depois de 31 de dezembro de 2020.

As restrições entram em vigor no final de 2024. Os importadores são os responsáveis pela implementação das verificações nos países exportadores, as chamadas “due dilligences”. 

As implicações para o Brasil são significativas, pois a UE é o segundo maior comprador dos nossos produtos agropecuários. Enfrentamos sérios problemas de desmatamento ilegal na floresta amazônica, além de questões fundiários e sociais.

Outro ponto importante é que a legislação europeia não faz distinção do que é considerado desmatamento legal ou ilegal. A normativa claramente se refere a desmatamento em geral. 

Esse ponto vem sendo questionado pelo governo brasileiro, alegando que está acima das exigências legais do ordenamento jurídico do país. Argumenta-se que essa normativa representaria uma forma de barreira não tarifária aos produtos do Brasil.

Entretanto, o argumento contrário é de que a UE tem a prerrogativa de estabelecer os critérios para os produtos que farão parte das suas cadeias de suprimento. E, como o objetivo maior é a redução dos impactos ambientais do consumo dos próprios europeus, nada mais lógico do que exigir que seus fornecedores sigam padrões compatíveis com essa ambição.

Importante notar que há fortes reações ao Pacto Ambiental dentro da própria UE, como vimos recentemente nos diversos protestos de produtores rurais no território europeu.

Embora estejam sensibilizando parte da sociedade e postergando algumas limitações, dificilmente a insatisfação dos produtores europeus ou dos governos fornecedores de produtos agrícolas para a Europa terão força para uma guinada nos objetivos de longo prazo da UE.

Parece haver um sério proposito do continente em mudar completamente suas bases de desenvolvimento, mirando a transição para uma economia mais resiliente e de baixas emissões de gases de efeito estufa.

Ao Brasil cabe o desafio de entender essas normativas e entrar em um processo de negociação sério e embasado na ciência. Ainda há grandes lacunas sobre como serão feitas as verificações do desmatamento e, sobretudo, como serão mapeadas as origens de cada lote de exportação.

Precisaremos acelerar nossos investimentos em rastreabilidade e transparência nos processos produtivos, assim como no aprimoramento de plataformas de monitoramento territorial. Tudo isso em consonância e em estreita colaboração com os importadores e agentes da União Europeia.

Ainda estamos em um momento de discussão e entendimento junto aos agentes europeus de como o novo regulamento será implementado no Brasil. Entende-se que será um processo com aprendizado mútuo e um período de adaptação.

Os entes governamentais têm o papel de catalisar essa discussão entre produtores, processadores e exportadores brasileiros para que estejamos prontos para manter a liderança como fornecedores de produtos agrícolas para a União Europeia. 

 

Assine o Correio do Estado

ARTIGO

Era uma vez em uma escola na Suécia

11/04/2024 07h30

Continue Lendo...

Depois de anos educando as crianças quase que exclusivamente com recursos digitais, o Ministério da Educação da Suécia começou a perceber alguns sintomas perturbadores nas suas crianças: deficiência na leitura e na compreensão de textos apropriados para a idade, muita dificuldade de escrever e, quando solicitadas, escritas realizadas apenas em caixa alta.

Mas o que mais chamou a atenção foi a percepção de que as crianças também começaram a apresentar dificuldades para expressar o que sentiam, pois lhes faltava vocabulário até mesmo para descrever cenas breves ou relatos de emoções simples.

Muitas dessas manifestações, resultantes da falta de exercício cognitivo e motor, assemelhavam-se a alguns transtornos psicológicos, e não é de se espantar que muitos pais possam ter procurado psicólogos, feito exames ou mesmo ministrado medicamentos, preocupados com a lentidão, o mutismo ou ainda com dificuldade de compreensão de seus jovens filhos.

O governo sueco, diante dessa constatação, resolveu dar uma guinada nas suas orientações escolares e agora estimula fortemente o uso de livros em vez de laptops, como também incentiva a leitura em voz alta, as rodas de conversa e a prática da escrita - inclusive ditados - com o objetivo de reverter o cenário que se desenhava catastrófico para o futuro.

Crianças que não são estimuladas desde cedo em atividades motoras e intelectuais podem ter dificuldades de desenvolvimento profissional na vida adulta, particularmente em um mundo onde a criatividade e a inovação são realidade em todo lugar. 

No último Pisa, divulgado em 2023, o resultado geral dos jovens estudantes suecos foi de 487, ante 499 registrado na edição anterior, de 2018. Em Matemática, a queda foi de 15 pontos e em Leitura, de 10 pontos.

Suficiente para que fizesse um país sério, como a Suécia, acender as luzes amarelas e buscar compreender as razões dessa perda de energia no aprendizado de seus jovens cidadãos, (para além dos efeitos da covid, que afetou de maneira praticamente igual os países participantes).

Uma das medidas que o governo buscou implementar em todas as escolas - embora na Suécia o programa e as orientações pedagógicas não sejam unificadas como no Brasil - foi: menos celular, menos laptop e mais livro, leitura, escrita e conversa. O básico que, desde mais ou menos cinco séculos atrás, tem orientado a ideia do que é ensinar e aprender.

 Lógico que esta constatação não implica em demonizar o uso de tecnologia em sala de aula, mas de usá-la com sabedoria, de forma que ela ofereça o que, de fato, não é possível conseguir por outros meios.

Mal comparando, é como o hábito de muita gente usar palavras em inglês para se referir a coisas ou situações nas quais já existe uma palavra em português perfeitamente cabível. Esse é o mau uso da língua estrangeira. O que não significa que não se deva aprendê-la e usá-la, muito pelo contrário.

A tecnologia compreende um conjunto de ferramentas e habilidades que deve servir para ampliar nossa capacidade de ler, raciocinar, produzir e nos comunicar. Mas, para isso, precisamos antes saber ler, raciocinar, produzir e nos comunicar.

O perigo do uso de celulares e laptops no ensino fundamental é o de diminuir ou mesmo obstaculizar  o desenvolvimento motor e cognitivo das crianças, além de dificultar a expressão de ideias, emoções e socialização, por falta de vocabulário capaz de se fazer entender quando relatar uma experiência.

O fenômeno hikikomori, que se refere aos jovens que abandonam qualquer contato social real e mantêm-se isolados em seus quartos, comunicando-se apenas pelas redes sociais, vem se alastrando por todo mundo, assim como a descrição de novos transtornos psicológicos associados à dificuldade de comunicação e socialização. A saída, porém, pode estar um pouco antes do consultório médico ou do psicólogo. Na boa e velha sala de aula.

 

ASSINE O CORREIO DO ESTADO 

NEWSLETTER

Fique sempre bem informado com as notícias mais importantes do MS, do Brasil e do mundo.

Fique Ligado

Para evitar que a nossa resposta seja recebida como SPAM, adicione endereço de

e-mail [email protected] na lista de remetentes confiáveis do seu e-mail (whitelist).