A banalização dos valores ultimamente tem alcançado proporções preocupantes. Ou, como diria o “filósofo contemporâneo”, nunca antes visto na história deste País. As máculas do quadro político – diariamente fazendo parte das manchetes da imprensa –, a começar pelas Câmaras municipais e demais Legislativos (Assembleias, Câmara Federal e Senado) e Executivo (prefeituras, governos estaduais e Presidência da República), refletem, com muita clareza, esse estado de coisa.
Cotidianamente, somos bombardeados por notícias reveladoras, de problemas dos mais simples aos mais complexos, envolvendo políticos (vereadores, prefeitos, deputados, senadores, governadores e até mesmo presidente e ex-presidentes da República) e, inclusive, diretores de estatais. A intensificação dessas revelações, sem dúvida, reacendeu desde o “Mensalão” e com os resultados da Operação Lava Jato, que estão sendo divulgados, associados às inúmeras operações levadas a efeito pela Polícia Federal, pelos ministérios públicos federal e estaduais, em várias unidades da Federação.
Seria leviandade afirmar que no Brasil nunca teve corrupção ou desrespeito à coisa pública. Obviamente que isso não é novidade. E, aliás, é bom que se diga que não é criação exclusiva deste ou daquele partido político, embora algum partido tenha ido além. A história está aí para quem quiser conferir. O ataque à coisa pública é antigo, entretanto, e em respeito à própria história, é bom que se diga que não na proporção que ultimamente vem ocorrendo.
No passado, trabalhava-se com a ideia de que os desvios de comportamentos de políticos, de agentes públicos, de diretores de estatais e de executivos eram exceções. Atualmente, contudo, o quadro se inverteu. A regra foi engolida pela exceção. Uma verdadeira inversão. O que era exceção virou regra, com
consequências devastadoras à sociedade como um todo e, em particular, ao dia a dia das pessoas, com reflexos pedagógicos altamente negativos, pois se corre o risco de o mal ser incorporado culturalmente como prática correta. O certo dando lugar ao incorreto. Mesmo porque, não se pode negar que as autoridades públicas, os altos executivos, sempre foram e são espelhos para um grande número de pessoas, sobretudo para os jovens em formação. Se eles fazem, nós também podemos fazer!
Em um passado não tão distante, raramente se ouvia falar sobre envolvimento em desvios praticados por presidentes de Legislativos ou de presidentes ou ex-presidentes da República. Atualmente, todo dia nos deparamos com notícias de corrupção de vereadores, de prefeitos, de governadores, de “pedaladas fiscais” e de outros desvios da presidente da República. Ou seja, os desvios foram vulgarizados de tal forma, que se tornaram comportamentos “normais”!
Com isso, a sensação que se tem é que quase todas as principais autoridades políticas do nosso País estão envolvidas com desvios sérios de condutas.
Com efeito, não por acaso, o quadro está caótico. No Executivo, temos prefeitos cassados (em caráter provisório), foragidos; governadores ameaçados de punição ou perda do cargo; presidente sujeito a impeachment. No Legislativo, além de vereadores acusados de desvios, temos os presidentes da Câmara Federal e do Senado acusados de corrupção por delatores (Fernando Baiano e outros) na Operação Lava Jato, sujeitos a perder os seus respectivos mandatos, além de vários senadores e deputados que também estão na mesma situação. A pergunta que não quer calar: caso se confirmem essas acusações e esses políticos venham a perder seus respectivos cargos e mandatos, quem fica para “fechar a porteira”?
Para ficar apenas no âmbito federal, a dúvida tem pertinência. O substituto natural da Presidência da República é o seu vice. Ocorre que o vice também está sendo acusado e pode perder o mandato; o presidente da Câmara, que viria na sequência sucessória, também corre o risco de cair. De fato, é o caos político-administrativo.
Tem solução? Sim, a severa punição. Inclusive, pelos eleitores.