Pesquisas publicadas pela Datafolha (30/4/17) apontam possível disputa no segundo turno para a Presidência da República entre Lula e Bolsonaro. É no mínimo preocupante, ou estarrecedor, como diriam outros. Será que o Pelé tinha razão quando disse que o brasileiro não sabia votar? Na época, quase foi levado à forca! No entanto, a ministra Carmen Lúcia, presidente do STF, recentemente, ainda que de outra forma, confirmou o quadro descrito pelo maior jogador de futebol de todos os tempos (não porque sou santista!). A diferença é que ela foi ovacionada.
Pelé fez essa afirmação lá na década de 70. A ministra, por ocasião da última eleição para prefeitos. Já se passaram quase 50 anos e o quadro permanece o mesmo. A ministra em sua fala afirmou: “Sou favorável ao voto obrigatório até que a educação no Brasil garanta que todo mundo tenha suficiente informação, para poder se posicionar com liberdade absoluta”.
A carência educacional, associada à desinformação, ao que tudo indica, é o pano de fundo desse contexto. É inegável, entretanto, que em toda regra há exceção. A eleição de Donald Trump, por exemplo, foi um ponto fora da curva, isto é, fugiu à regra. Entretanto, na França, a eleição de Emmanuel Macron confirmou que o eleitor preparado, em regra, sabe fazer a opção correta.
Nessa mesma pesquisa revelada pela Datafolha, evidenciou-se que a gestão de Lula (2003/2010) teve a maior incidência de malfeitos (32%). Não obstante, a pesquisa revela que grande parte dos brasileiros apoia o modus operandi implantado no País por 13 anos (Raymond Kappaz – painel do leitor, 1/5/17, Folha de S. Paulo).
Como se nota, incoerência total! O mesmo contexto que identifica a altíssima incidência de irregularidades apoia a maneira como o País foi dirigido nos governos Lula e Dilma. Mutatis mutandis, faz lembrar o ditado popular nada feliz de que o eleitor é igual a “mulher de malandro, gosta de apanhar”.
A outra explicação para esse quadro é o fato de que a ideologia pode justificar qualquer desmando! Em relação ao Lula, é recorrente ouvir a enganosa afirmação de que, ainda que tenha cometido erros em seu governo, os acertos sobressaíram-se, sobretudo, em relação à inclusão social. Como se os fins justificassem os meios. Esquece-se que o custo-benefício para o País foi péssimo.
Bolsonaro ainda não passou pelo Executivo, seja municipal, estadual ou federal. Mas o seu contexto histórico, sobretudo, pelas suas posições e práticas politicamente incorretas, isto é, radicais, já demonstram que não está preparado para administrar um País onde a pluralidade é um dos fundamentos básicos esculpidos em sua Carta Máxima. Vale dizer, também, não é a opção que se espera. Guardando as devidas proporções, Bolsonaro é o Trump ou Le Pen tupiniquim.
Apenas para se delimitar às últimas décadas, graças às escolhas inconsequentes, a começar pela de Collor de Melo, é que chegamos ao fundo do poço.
É oportuno reiterar que o exercício do voto é um direito de cidadania, de mão dupla. Com efeito, o uso do livre arbítrio tem limite. É um direito que deve ser exercitado com responsabilidade, sobretudo, pela extensão das suas consequências.
Não obstante o resultado das pesquisas, a verdade é que nem Bolsonaro nem Lula são opções para dirigir nosso País. O contexto tanto de um quanto do outro, apesar de diametralmente oposto, não é favorável para esse mister.
O que se espera é que surjam opções que efetivamente atendam aos anseios da sociedade brasileira. Ao que tudo indica, em especial pelo cenário político atual, o País está carente de quadro que atenda à expectativa de mudanças desejadas. Mas ainda há tempo. Esperança é a última que morre.