Bem, o Ibope, tanto no 1º como no 2º turno do último pleito, ora com mais, ora com menos intensidade, andou pisando na bola sobre as previsões estatísticas de intenções de votos. O que é preocupante, de um lado, por se tratar de um instituto de pesquisa renomado e, de outro, como tal, pela influência que traz à cabeça do eleitor.
É sabido por todos que muitos eleitores não querem perder o voto. É recorrente ouvir do eleitor que pretendia votar no candidato “X”, porém, como o candidato “Y” - pelo que apontam as pesquisas - está na frente, é neste que irá votar, para “não perder o seu voto”. Ou seja, não se trata de voto por convicção, e sim, de resultado. Influenciado, muitas vezes, pelas pesquisas de intenção de voto.
Quer queira, quer não, psicologicamente, isto balança a cabeça do eleitor, pois se trata de cultura que está encalacrada na sua mente. O que é péssimo para a democracia.
Coincidência ou não, o Ibope, no último pleito, cometeu inúmeros equívocos, tanto em relação às majoritárias para a Presidência da República, como em relação aos pleitos estaduais.
Com efeito, apenas como exemplo, foi o que aconteceu quando não colocava o candidato Aécio Neves no 2º turno. Mas o que mais surpreendeu foi o quadro em relação ao candidato ao governo do Rio Grande do Sul, Ivo Sartori, que aparecia na pesquisa do Ibope com apenas 15% de intenções de votos, ocupando um longínquo 3º lugar, sem a mínima possibilidade de seguir em frente e que, no entanto, foi para o 2º turno com uma margem de 40,4% e, ao final, foi eleito com 61,25% dos votos apurados!
Em Mato Grosso do Sul, o quadro não foi diferente. Em relação ao 2º turno, vários institutos de pesquisas apontavam o candidato a governador Reinaldo Azambuja (PSDB) com uma considerável margem de votos à frente do seu concorrente, o candidato Delcídio do Amaral (PT). O instituto Vale Consultoria, por exemplo, apontava 57,53% de intenções para o primeiro (Reinaldo) e 42,47% para o segundo(Delcídio); o instituto Datamax, 54,64%(Reinaldo) e 45,36% (Delcídio); o Ipems, dava 55,30% (Reinaldo) e 44.70%(Delcídio). Apenas os institutos Ipespe e Ibope davam a vitória para Delcídio, com 53% (Delcídio) e 47% (Reinaldo) e 51%(Delcídio) e 49%(Reinaldo), respectivamente.
No entanto, Reinaldo foi eleito com 55,34% dos votos apurados, ou seja, com 10,68 pontos percentuais à frente de Delcídio, que obteve 44,66% dos votos concluídos.
Essa discrepância é no mínimo preocupante, pois aquilo que serviria para informar o eleitor acaba desinformado-o e até mesmo podendo induzi-lo à prática da “salvação do voto”.
Ora, não é por acaso que a legislação eleitoral exige que, para serem publicadas, as pesquisas devam obedecer a certos requisitos, tais como: período de realização da coleta de dados; margem de erro; número de entrevistados; denominação da entidade ou empresa que a realizou e, se for o caso, de quem a contratou; o número de registro da pesquisa. Além das exigências da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep), tais como população pesquisada; metodologia utilizada etc. Pois, afinal, o propósito é de informar adequadamente.
Daí a responsabilidade que se espera dos institutos de pesquisa. O Ibope, sobretudo, pela sua importância e consequentemente pelo conceito que sempre desfrutou - para que não paire dúvida quanto à sua reputação - deve esclarecer à sociedade, de forma convincente, os motivos dos reiterados erros das suas previsões. É o mínimo que se espera.