Fala-se muito em novos tempos, novos hábitos etc., entretanto, na política, sobretudo nas respectivas campanhas, permanece a mesmice de sempre a prática do vale-tudo, de ofensas pessoais e familiares. Ou seja, “tudo como dantes no quartel de Abrantes”. Carente de propostas, mas recheada de ataques. O importante não é dizer a que veio, mas sim procurar destruir o adversário e levá-lo nocauteado às urnas. Autêntico maquiavelismo, o que importa é o propósito final: eleger-se. É, no mínimo, menosprezar a inteligência do eleitor. O tempo passa, os políticos se renovam, mas o quadro permanece o mesmo.
As velhas práticas (a velha política) resistem ainda com mais força em face dos avanços tecnológicos de comunicação. As redes sociais que o digam!
É recorrente ouvir no segundo turno, não só em Campo Grande como no País afora, que o candidato com menor número de integrantes de sua coligação no Legislativo, se vitorioso nas urnas, terá dificuldade para governar! Somada a isso, a falta de apoio do Poder Executivo local e federal e, ainda, das respectivas bancadas federais.
Essa é mais uma das criações férteis de enganação dos marqueteiros. Esta formatação vem da ideia de que o Executivo, sem apoio do Legislativo, não tem força para executar seus projetos – o que é verdade. Ninguém administra um município, um estado ou um país sem a ajuda dos legisladores. O poder político é assim, a democracia é assim. Porém, cria-se uma inverdade sobre fatos verdadeiros e os candidatos reproduzem a lição dada. Não por acaso os altos honorários desses profissionais. João Santana que o diga!
Na democracia, a necessária maioria no Legislativo deve ser alcançada pela apresentação, por parte do Executivo, de projetos coerentes, que reflitam não necessariamente o interesse deste ou daquele partido político, mas sim o interesse da coletividade. Ou seja, o interesse público. Ninguém é tolo politicamente de se posicionar contra os interesses dos seus eleitores.
Ora, trabalhar a ideia oposta é politicamente “cavar a própria cova”. A ideia reitora desse contexto é a de que o político é eleito para gerir o interesse da sociedade. Com efeito, a relação política entre Executivo, Legislativo e até mesmo entre presidente da República, governador e prefeito deve ser institucional, independentemente de partido político ou coligação partidária.
A prática do bom relacionamento institucional entre os políticos tem se revelado em vários momentos da nossa história. Apenas para se cingir a alguns exemplos, a boa relação que o então governador Zeca do PT teve com o governo Fernando Henrique Cardoso, do PSDB. A construção da ponte sobre o Rio Paraguai é um desses exemplos. Na capital paulista, o prefeito Fernando Haddad, conquanto do PT, institucionalmente usufruiu de um bom relacionamento com o governador Geraldo Alckmin (PSDB). O mesmo pôde-se afirmar do governo Dilma e Alckmin; do ACM Neto (DEM), prefeito de Salvador, com o respectivo governador e a presidente Dilma, ambos do PT, e tantos outros.
Ora, ninguém fica no cabresto. O condutor é o interesse maior, isto é, o coletivo. A vinculação ideológica deste ou daquele político deve ser respeitada e louvada, pois é aí que reside o pluralismo político. Contudo, o interesse maior (coletividade) deve estar sempre à frente. Acordos políticos, desde que não sejam em função de interesses pessoais, são bem-vistos.
Sabe-se que, na realidade, grande parte das chamadas “baixaria” nas campanhas eleitorais e os projetos faraônicos são arquitetados pelos respectivos marqueteiros e que são encampados pelos candidatos.
O candidato esquece, entretanto, que, a partir do resultado das urnas, sai fora o marqueteiro, com o bolso cheio, e a responsabilidade recai sobre aquele que foi eleito.
O candidato eleito, mesmo divorciado do seu marqueteiro, se for criativo e bem-intencionado, com certeza terá apoio do respectivo Legislativo, do governo local e federal, independentemente de sigla partidária. Oposição responsável também contribui nesse contexto.
É o que se espera!