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José Carlos de Oliveira Robaldo: "A segurança pública e seus percalços''

Procurador de Justiça aposentado, advogado, mestre em Direito Penal pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e professor universitário ([email protected])

Redação

19/12/2014 - 00h00
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No âmbito nacional – como descrevemos em recente texto –, o fechar das portas de 2014 não foi nada animador, o que, por óbvio, projeta para 2015 um cenário com perspectivas cinzentas, em especial no aspecto econômico, com seus naturais reflexos em outros setores do nosso dia a dia. Entretanto, no âmbito regional, especialmente em termos de segurança pública no nosso Estado (Mato Grosso do Sul), a se concretizar a escolha do procurador de Justiça, Silvio Cesar Maluf, como titular da pasta de Segurança Pública e Justiça, as perspectivas serão bem mais animadoras, salvo se lhe faltar o apoio governamental necessário.

Não há nenhuma novidade em se afirmar que a Segurança Pública e a Saúde são as áreas mais sensíveis de uma sociedade como um todo. Estes dois setores são os que mais atormentam a população. É comum ouvir das pessoas, sobretudo das mais humildes, que sem saúde e segurança “é difícil tocar a vida”, o que reflete o sentimento de todos.

De igual forma, é recorrente ouvir que essas duas pastas, pelas suas complexidades e peculiaridades dos seus profissionais, são as piores para serem administradas. Talvez pelo corporativismo, talvez pelas vaidades pessoais! A verdade é que há muitas reclamações ou alusões nesse sentido, o que requer uma singular competência e liderança no comando da administração desses setores. 

Na área da segurança pública, o seu titular, além da preocupação normal que é a gestão da segurança para o Estado todo, ou seja, para a população de todos os quadrantes do seu território (rural e urbano), no caso específico, com fronteiras com países vizinhos (Bolívia e Paraguai), com peculiares crimes daí decorrentes, tem de se preocupar com a administração dos conflitos internos comuns a qualquer unidade da federação. Em um primeiro momento, tem de apaziguar o secular conflito entre as corporações: Polícia Civil e Polícia Militar. É provável que a nova gestão não trabalhe com a ideia de acabar por completo com esse conflito, apenas de serená-lo para não prejudicar o próprio fim da pasta, que é a segurança pública. Esses dois importantes segmentos precisam se conscientizar de que a segurança pública é una e que a divisão, inclusive constitucional, em duas corporações é um mero critério metodológico de gestão. Em um segundo passo, porém, concomitante e não menos importante, a preocupação deve estar voltada em administrar os conflitos internos que pairam entre os grupos (de delegados e de oficiais).

Esses conflitos internos, que infelizmente são uma prática que se arrasta há muito tempo, em todas as unidades da federação, provavelmente movidos por vaidades e pela ânsia do poder, longe de ajudar na boa gestão da segurança pública, prejudicam muito.

Significa, pois, que os conflitos vão muito além dos embates entre as corporações, que talvez não sejam tão perniciosos quanto aos internos existentes no seio de cada um desses órgãos de segurança.

Um dos maiores problemas existentes na área de segurança pública é a incomunicabilidade entre as linhas de frente de combate à criminalidade. Tanto a Polícia Civil quanto a Militar trabalham com tarefas estanques. Uma omite da outra não só o seu respectivo plano de ação, como as suas principais ações, como se uma fosse inimiga da outra.

Esse mesmo quadro também acontece internamente, em detrimento, com efeito, da prevenção e do bom combate à criminalidade.

Silvio Cesar Maluf, com sua inteligência, competência, liderança, humildade e experiência adquirida ao longo da sua vida, em especial, ao longo de vários anos no exercício de promotor de Justiça, de procurador de Justiça e de corregedor-geral do Ministério Público, certamente saberá administrar esses conflitos todos e, consequentemente, dará a segurança pública que todos esperam e merecem.

ARTIGO

Produtos livres de desmatamento nas estratégias da União Europeia

11/04/2024 07h30

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O Regulamento para Produtos Livres de Desmatamento é um entre vários componentes do Pacto Ambiental Europeu (European Green Deal), que tem como objetivo final atingir neutralidade de emissões de gases de efeito estufa em 2050, com um crescimento econômico livre da exploração excessiva dos recursos naturais e sem deixar ninguém para trás.

Trata-se, portanto, de uma peça dentro de um quebra-cabeça bem mais complexo que visa tornar a Europa um continente sustentável e carbono neutro.

Desde 2019, o Pacto Ambiental Europeu apresenta diretrizes que vão sendo gradativamente regulamentadas, cobrindo de energia renovável a produção de alimentos, passando por transporte e construção civil.

Trata-se de um marco legal abrangente que aborda diversas questões ambientais, incluindo o desmatamento, como parte dos esforços da União Europeia (UE) para um novo modelo de economia verde. 

O regulamento para produtos livres de desmatamento, aprovado em 2023, disciplina as atividades dos importadores europeus que passam a ser responsáveis por garantir que os produtos adquiridos não venham de áreas desmatadas depois de 31 de dezembro de 2020.

As restrições entram em vigor no final de 2024. Os importadores são os responsáveis pela implementação das verificações nos países exportadores, as chamadas “due dilligences”. 

As implicações para o Brasil são significativas, pois a UE é o segundo maior comprador dos nossos produtos agropecuários. Enfrentamos sérios problemas de desmatamento ilegal na floresta amazônica, além de questões fundiários e sociais.

Outro ponto importante é que a legislação europeia não faz distinção do que é considerado desmatamento legal ou ilegal. A normativa claramente se refere a desmatamento em geral. 

Esse ponto vem sendo questionado pelo governo brasileiro, alegando que está acima das exigências legais do ordenamento jurídico do país. Argumenta-se que essa normativa representaria uma forma de barreira não tarifária aos produtos do Brasil.

Entretanto, o argumento contrário é de que a UE tem a prerrogativa de estabelecer os critérios para os produtos que farão parte das suas cadeias de suprimento. E, como o objetivo maior é a redução dos impactos ambientais do consumo dos próprios europeus, nada mais lógico do que exigir que seus fornecedores sigam padrões compatíveis com essa ambição.

Importante notar que há fortes reações ao Pacto Ambiental dentro da própria UE, como vimos recentemente nos diversos protestos de produtores rurais no território europeu.

Embora estejam sensibilizando parte da sociedade e postergando algumas limitações, dificilmente a insatisfação dos produtores europeus ou dos governos fornecedores de produtos agrícolas para a Europa terão força para uma guinada nos objetivos de longo prazo da UE.

Parece haver um sério proposito do continente em mudar completamente suas bases de desenvolvimento, mirando a transição para uma economia mais resiliente e de baixas emissões de gases de efeito estufa.

Ao Brasil cabe o desafio de entender essas normativas e entrar em um processo de negociação sério e embasado na ciência. Ainda há grandes lacunas sobre como serão feitas as verificações do desmatamento e, sobretudo, como serão mapeadas as origens de cada lote de exportação.

Precisaremos acelerar nossos investimentos em rastreabilidade e transparência nos processos produtivos, assim como no aprimoramento de plataformas de monitoramento territorial. Tudo isso em consonância e em estreita colaboração com os importadores e agentes da União Europeia.

Ainda estamos em um momento de discussão e entendimento junto aos agentes europeus de como o novo regulamento será implementado no Brasil. Entende-se que será um processo com aprendizado mútuo e um período de adaptação.

Os entes governamentais têm o papel de catalisar essa discussão entre produtores, processadores e exportadores brasileiros para que estejamos prontos para manter a liderança como fornecedores de produtos agrícolas para a União Europeia. 

 

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ARTIGO

Era uma vez em uma escola na Suécia

11/04/2024 07h30

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Depois de anos educando as crianças quase que exclusivamente com recursos digitais, o Ministério da Educação da Suécia começou a perceber alguns sintomas perturbadores nas suas crianças: deficiência na leitura e na compreensão de textos apropriados para a idade, muita dificuldade de escrever e, quando solicitadas, escritas realizadas apenas em caixa alta.

Mas o que mais chamou a atenção foi a percepção de que as crianças também começaram a apresentar dificuldades para expressar o que sentiam, pois lhes faltava vocabulário até mesmo para descrever cenas breves ou relatos de emoções simples.

Muitas dessas manifestações, resultantes da falta de exercício cognitivo e motor, assemelhavam-se a alguns transtornos psicológicos, e não é de se espantar que muitos pais possam ter procurado psicólogos, feito exames ou mesmo ministrado medicamentos, preocupados com a lentidão, o mutismo ou ainda com dificuldade de compreensão de seus jovens filhos.

O governo sueco, diante dessa constatação, resolveu dar uma guinada nas suas orientações escolares e agora estimula fortemente o uso de livros em vez de laptops, como também incentiva a leitura em voz alta, as rodas de conversa e a prática da escrita - inclusive ditados - com o objetivo de reverter o cenário que se desenhava catastrófico para o futuro.

Crianças que não são estimuladas desde cedo em atividades motoras e intelectuais podem ter dificuldades de desenvolvimento profissional na vida adulta, particularmente em um mundo onde a criatividade e a inovação são realidade em todo lugar. 

No último Pisa, divulgado em 2023, o resultado geral dos jovens estudantes suecos foi de 487, ante 499 registrado na edição anterior, de 2018. Em Matemática, a queda foi de 15 pontos e em Leitura, de 10 pontos.

Suficiente para que fizesse um país sério, como a Suécia, acender as luzes amarelas e buscar compreender as razões dessa perda de energia no aprendizado de seus jovens cidadãos, (para além dos efeitos da covid, que afetou de maneira praticamente igual os países participantes).

Uma das medidas que o governo buscou implementar em todas as escolas - embora na Suécia o programa e as orientações pedagógicas não sejam unificadas como no Brasil - foi: menos celular, menos laptop e mais livro, leitura, escrita e conversa. O básico que, desde mais ou menos cinco séculos atrás, tem orientado a ideia do que é ensinar e aprender.

 Lógico que esta constatação não implica em demonizar o uso de tecnologia em sala de aula, mas de usá-la com sabedoria, de forma que ela ofereça o que, de fato, não é possível conseguir por outros meios.

Mal comparando, é como o hábito de muita gente usar palavras em inglês para se referir a coisas ou situações nas quais já existe uma palavra em português perfeitamente cabível. Esse é o mau uso da língua estrangeira. O que não significa que não se deva aprendê-la e usá-la, muito pelo contrário.

A tecnologia compreende um conjunto de ferramentas e habilidades que deve servir para ampliar nossa capacidade de ler, raciocinar, produzir e nos comunicar. Mas, para isso, precisamos antes saber ler, raciocinar, produzir e nos comunicar.

O perigo do uso de celulares e laptops no ensino fundamental é o de diminuir ou mesmo obstaculizar  o desenvolvimento motor e cognitivo das crianças, além de dificultar a expressão de ideias, emoções e socialização, por falta de vocabulário capaz de se fazer entender quando relatar uma experiência.

O fenômeno hikikomori, que se refere aos jovens que abandonam qualquer contato social real e mantêm-se isolados em seus quartos, comunicando-se apenas pelas redes sociais, vem se alastrando por todo mundo, assim como a descrição de novos transtornos psicológicos associados à dificuldade de comunicação e socialização. A saída, porém, pode estar um pouco antes do consultório médico ou do psicólogo. Na boa e velha sala de aula.

 

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