Na última terça-feira (14), após participar da abertura da feira de defesa LAAD – a maior feira de defesa da América Latina, que congrega delegações oficiais e expositores de 71 países e se estenderá até a próxima sexta-feira (17) no Rio de Janeiro (RJ) – quando em presença de vários generais, o Ministro da Defesa Jacques Wagner foi enfático ao declarar que “os militares ignoram os pedidos de intervenção contra o governo ouvido nos recentes protestos contra a presidente Dilma Rousseff”.
E completou: “Essa chamada tem uma adesão ‘com tendência zero’ nos quartéis”. De acordo com ele, porém, é triste ver que uma parte dos brasileiros deseja uma intervenção militar, ainda que seja uma “parcela minoritária de entre 9 % e 11% dos que participaram dos protestos do dia 15 de março”. A chamada a uma intervenção militar, segundo Wagner, é uma “afronta contra a democracia e não só afeta o governo, mas a todas as instituições do Estado”.
Ainda de acordo com a reportagem, os maiores protestos contra a presidente Dilma e contra a corrupção ocorreram em 15 de março deste ano, quando dois milhões de pessoas se reuniram em dezenas de cidades. No domingo passado (12), os protestos se repetiram, mas congregaram apenas 700 mil pessoas em diversas cidades, segundo cálculos da polícia militar, embora neste caso os manifestantes tenham posto mais ênfase em pedir a renúncia ou a destituição de Dilma Rousseff.
Jacques Wagner afirmou ainda que a “bandeira da destituição não consegue motivar” a maioria dos brasileiros, mas avaliou que o governo recebeu “com humildade e tranquilidade” as manifestações dos últimos dias. Evidente, portanto, que a aparição e o discurso de um ministro civil que chefia as forças armadas brasileiras em ocasião tão importante – e diante de um público proveniente de mais de 70 países – revela que apesar dos distúrbios de rua dos últimos dias e ameaças de impeachment da presidente Dilma, vive-se um estado de plena democracia representativa aqui no Brasil.
No entanto, é preciso ter cautela, pois pode haver outras explicações. Em primeiro lugar, é possível que os militares – após avaliação prévia das manifestações que aconteceram em março e abril últimos no Brasil – concluíram que não há a necessidade da intervenção deles contra o governo Dilma, uma vez que a própria sociedade civil – leia-se a elite brasileira – parece dar conta do recado de criar condições para destituir o atual governo, apesar de ter sido eleito democraticamente pelo povo.
Pode ser também que os militares já se sintam suficientemente confiantes, diante do maremoto que se abate diuturnamente sobre o governo Dilma – decrescimento, inflação em alta, operação Lava Jato, etc. – em lançar candidatura própria em 2018 – quem sabe, Jair Bolsonaro? – quando as condições políticas parecem favorecer a priori o lançamento de candidaturas de direita – e, quem sabe - até de extrema direita no Brasil.
Por fim, o episódio da Feira de Defesa “LAAD” no Rio de Janeiro e o debute de Jacques Wagner como ministro da defesa podem significar talvez o retorno a mais um período de trevas que vai certamente levar de roldão os avanços sociais conquistados até agora pelos governos Lula e Dilma no Brasil. Diante dos fatos elencados acima, portanto, essa tendência zero de não intervenção militar a que o ministro Wagner se referiu em seu discurso precisa ser no mínimo repensada.