Aquele símbolo esquecido na avenida, defronte do Museu da FEB, é um grito silencioso de dez pracinhas conterrâneos nossos, contra a indiferença fria das autoridades políticas de Campo Grande. Eles morreram em combate no solo explosivo da Itália, cumprindo o compromisso solene de morrer pela Pátria ultrajada. O dia 25 de abril é reverenciado pelo povo italiano como o “dia da libertação”, porque nesse dia, em 1945, os soldados do Brasil libertaram Montese, a capital do norte itálico, o último reduto nazi-fascista da guerra. Nesse dia, aquela cidade comemora a data em desfile cívico militar e estudantil, em honra de seus libertadores. Neste ano, crianças com bandeirolas brasileiras cantaram em bom português a “Canção do Expedicionário”, numa comovente homenagem aos heróis da FEB – veja o respectivo clipe na internet.
Falar da bravura dos nossos soldados nas cruentas batalhas sob nevascas inclementes naquela inóspita região alpina, não caberia num simples artigo de jornal, pois muito se tem a dizer do heroísmo de pacatos jovens compatriotas, que saíram do seio de suas famílias e foram para a guerra lutar pela honra da Pátria! A clava forte levara ao cataclismo mundial esses brasileiros que não “fugiram à luta, nem temeram a própria morte”! Seus nomes inscritos naquela plaqueta desprezada na movimentada e bela avenida, são provas veementes do épico vaticínio escrito no nosso belo Hino Nacional!
No fragor das batalhas, eles escreveram páginas heroicas em campos minados, sob fuzilaria implacável, e fogo intenso de pesada artilharia, disparados contra eles por seus apetrechados e aguerridos inimigos. Consta nos anais de campanha dos exércitos aliados, que, no dia 14 de abril de 1945, três soldados do 11º Regimento de Infantaria, de São João Del Rey, filhos dessa aprazível cidade histórica mineira,os quais patrulhavam a região de Montese, foram cercados inopinadamente por um batalhão alemão. Em desigualdade numérica, não se intimidaram. Intimados à rendição, não se renderem.
Lutaram bravamente até o último cartucho. Sem munição, calaram a baioneta, continuando a lutar com arma branca com o ímpeto de leões bravios, mostrando descomunal coragem diante de um inimigo melhor armado e numericamente superior, até caírem mortos aos pés dos pasmados tedescos. O comandante alemão, sensibilizado pela bravura indômita dos três destemidos brasileiros, determinou a seus comandados a sepultá-los com honra. Fincaram em cada túmulo a Cruz de Cristo, com o epitáfio em alemão: “Drei brasilianisches helden” (Três brasileiros heróis). Uma distinção grandiosa aos bravos sanjoanenses mortos em combate no dia 14/04/1945: Geraldo Rodrigues de Souza, de 26 anos; Arlindo Lúcio da Silva, de 25 anos; e Geraldo Baeta da Cruz, de 28 anos – três mineiros heroicos, como nossos bravos conterrâneos sul-mato-grossenses, que sacrificaram a vida no Altar da Pátria!
Ignorar o sacrifício desses poucos compatriotas, que elevaram a honra do nosso amado Brasil ao morrerem no fragor da guerra, é gritante demonstrativo de anti-patriotismo. É acintoso descaso, uma iniquidade gritante! É, sobretudo, uma triste nódoa na história de nossa querida Campo Grande, tão carente de monumentos públicos, que avivassem nas ruas e nas praças a memória de seus cidadãos merecedores de reconhecimento por seus memoráveis feitos, o que põe em dúvida o espírito cívico dos políticos da nossa bela Cidade Morena.
O dia 25 de abril poderia figurar no calendário histórico de Campo Grande, como data comemorativa à memória de nossos pracinhas imolados na 2ª Guerra Mundial, o que viria suprir a clamorosa lacuna aqui apontada. E se adequasse aquele local da avenida, para receber com dignidade o povo campo-grandense a reverenciar a memória daqueles mártires da Pátria - nossos heroicos compatriotas mortos em combate no vigor da juventude.