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Fausto Matto Grosso: "O Trololó"

Fausto Matto Grosso - Engenheiro, professor da UFMS

Redação

23/09/2014 - 00h00
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A democracia brasileira, tão judiada por décadas de ditaduras no século passado, não conseguiu consolidar partidos programáticos. Na maior parte dos casos, estes são meros ajuntamentos pragmáticos para disputa de eleições para realizar projetos de poder.

A partir de 2009 foi tornada obrigatória a apresentação das “propostas defendidas pelo candidato a Prefeito, a Governador de Estado e a Presidente da República”, por ocasião do registro das candidaturas. Todos os candidatos presidenciais, portanto, colocaram lá no TSE algum documento ao qual se referiram como propostas de governo. Tenho convicção de que, na maior parte dos casos, isso se fez por mera obrigação, sem nenhum compromisso com o programa real de governo. 

No processo de “fusão” entre o PSB e a Rede Sustentabilidade que resultou na filiação e posterior candidatura de Marina, foi costurado um pacto para mudanças profundas na política brasileira.  Assim nasceu a proposta da Nova Política, uma confluência político-ideológica, à qual o PPS se somou desde a primeira hora.  

Baseado nesses fundamentos surgiu o Programa de Governo de Marina Silva, um documento de mais de 200 páginas, elaborado em discussão com inúmeros especialistas e segmentos da sociedade. É esse o Programa que foi divulgado para a análise crítica dos eleitores e é assumido publicamente pela candidata. Isto faz toda a diferença em relação aos outros candidatos.

Fica difícil entender como candidatos ainda sem programas, em vez de procurar declará-los à sociedade, jogam todo o seu tempo de propaganda eleitoral na desconstrução das propostas de Marina. 

A afirmativa de Aécio é de que os brasileiros não precisam se preocupar, pois seu programa “ficará pronto antes das eleições”. Da mesma forma, com viva voz, vemos a Presidente dizer que “quem tá no governo não precisa dessas coisas”. 

Na verdade, serve melhor aos interesses de Aécio não se expor programaticamente. Vende-se como o “mais competente” sem, na verdade, dizer exatamente para fazer o que. Já o documento de Dilma, até este momento não foi ainda oficializado e, ao que parece, não o será. Segundo vários analistas políticos, procura-se com isso evitar o “cabo de guerra entre o que pensa o governo e o que pensa o PT” evitando o “fogo amigo”. 

Enquanto isso, os “sem programas” somam seus interesses e preferem apostar na desconstrução de Marina, a candidata com menor rejeição e, portanto, mais viável para bater o lula-petismo no segundo turno. São ataques raivosos e mentirosos contra a candidata do PSB. Sobre esse tipo de comportamento, é bom  lembrar  que Dilma deu a entender, já em 2013, que é “aceitável fazer o diabo na hora da eleição”.

Orientados pelo marketing sofisticado, pago a ouro, usam produções hollywoodianas e aproveitam a desigualdade de tempo de TV para aplicar a máxima de Goebbels, Ministro da Propaganda de Hitler, de que “uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”. Querem transformar Marina em representante da “elite branca de olhos azuis escudeira do capitalismo paulista e dos bancos”, como se não tivesse sido o próprio lula-petismo que transformou o Brasil no paraíso dos amigos escolhidos da elite e dos banqueiros.

Enquanto isso a campanha, comandada por marqueteiros, amesquinha-se e vira um imenso trololó, onde não se discute, de maneira consistente, o futuro do Brasil. Em vez de mostrar os diferentes programas, passa a ser a abertura de sacos de bondades e a distribuição destas, meticulosamente estudada, como se faz com inocentes crianças nas festas de São Cosme e Damião.