Artigos e Opinião

OPINIÃO

Fabiane Esperança Rocha:
"Deficiência invisível"

Psicóloga, psicoterapeuta e palestranda

Redação

10/11/2017 - 01h00
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Quero compartilhar a imensa alegria e satisfação que sinto desde domingo, ao divulgarem o tema da redação do Enem, escolhido pelo Ministério de Educação e Cultura (MEC). Quero muito parabenizá-los pela excelente escolha: “Desafios para Formação Educacional de Surdos”.

Este tema serviu para despertar a consciência dos estudantes e da sociedade em geral para a importância de respeitar e enxergar com outros olhos não só as deficiências visíveis,mas também as invisíveis.

Estes jovens, em minha opinião, foram pegos de surpresa, pois, a partir do momento que receberam o caderno da prova onde constava o tema da redação, deram início à sua preparação para o futuro. Ou seja, vão estar mais preparados, assim espero, para aceitar e ter mais empatia ao se depararem com pessoas com deficiência e ampará-las quando necessário. Serão mais fortes o suficiente para não se deixarem influenciar pelo preconceito e pela discriminação. E aceitarão que existem diferenças e que as pessoas não são assim porque escolheram ser desta forma. Servirão de exemplos aos demais.

Acredito que os candidatos foram pegos de surpresa, pois não estão cientes das dificuldades que as pessoas surdas e com deficiência auditiva têm em viver no mundo de silêncio. Elas nunca sentiram na pele o que é não ouvir. 

A deficiência auditiva é diferente de surdez: a primeira se refere a uma perda adquirida, ou seja, é quando se nasce com a audição perfeita e, em decorrência de lesões ou doença, ocorre a perda. A surdez já é de origem congênita: a pessoa nasce surda, não tendo capacidade de ouvir o som.

Apareceram muitos comentários nas redes sociais, como dúvidas com relação ao tema, surgiram muitos debates e até algumas atitudes prejudicando alguns estudantes. Um candidato, por exemplo, infelizmente teve sua prótese auditiva confiscada pelo fiscal, provavelmente por receio de ter escuta em razão da fraude que ocorreu no Enem 2016.

Esse tema me encheu de esperanças e mostrou que a luta que travo todos os  dias em busca de mais acessibilidade e inclusão não é em vão e estamos no caminho certo. Resta-nos apenas ir adiante, melhorar e conscientizar mais as pessoas a favor da inclusão e acessibilidade, não dando vez ao preconceito e à discriminação. Não precisamos deles.

EDITORIAL

As bolhas que nos afastam da realidade

Enquanto uma parte do Estado amplia suas zonas de conforto, outra é pressionada a fazer mais com menos, arcando com o desgaste político e social das escolhas difíceis

17/12/2025 07h15

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A expressão “estar em uma bolha” deixou de ser apenas uma gíria de internet para se transformar em um retrato cada vez mais fiel da forma como a sociedade vem se organizando. Nas redes sociais, algoritmos direcionam conteúdos, opiniões e notícias de acordo com preferências previamente identificadas.

O resultado é um ambiente confortável em que quase tudo confirma aquilo que o indivíduo já pensa. Divergir passa a ser exceção e confrontar ideias, um incômodo evitado.

Fora do ambiente digital, a lógica das bolhas também se impõe. O isolamento crescente em condomínios fechados, verticais ou horizontais, reduz o contato cotidiano com o diferente. Ao limitar o convívio, o indivíduo perde a oportunidade de compreender realidades distintas da sua própria.

Torna-se, ao mesmo tempo, mais desconfiado e mais desinformado, conhecendo o mundo mais pelo “ouvir dizer” do que pela experiência direta. A realidade passa a ser filtrada, editada e, muitas vezes, distorcida.

As bolhas criam falsas impressões. Quando se consolidam em grupos, reforçadas pelo sentimento de pertencimento, geram uma perigosa falta de sintonia com o restante da sociedade. Problemas coletivos passam a ser relativizados, minimizados ou simplesmente ignorados.

A empatia dá lugar à autoproteção e o interesse público acaba substituído pela preservação de privilégios.

Nesta edição, mostramos um exemplo concreto dessa desconexão: o aumento do duodécimo para quase todas as instituições de Mato Grosso do Sul, mesmo após um ano marcado por crise financeira, enquanto cresce a sobrecarga sobre o Poder Executivo.

É sobre ele que recai, de forma quase exclusiva, o peso de enfrentar as dores reais da sociedade: da falta de recursos para serviços essenciais às demandas crescentes por saúde, educação, transporte e assistência social.

Essa discrepância orçamentária não é apenas um dado técnico. Ela reforça as bolhas institucionais. Enquanto uma parte do Estado amplia suas zonas de conforto, outra é pressionada a fazer mais com menos, arcando com o desgaste político e social das escolhas difíceis.

Trata-se de um desequilíbrio que aprofunda a sensação de injustiça e distancia ainda mais as instituições da realidade vivida pela população.

Seria desejável que integrantes das instituições que recebem repasses de duodécimo saíssem de suas bolhas. Que vivessem mais intensamente a realidade fora de gabinetes, relatórios e planilhas.

Que entendessem que, em tempos de dificuldades financeiras, reforçar privilégios e ampliar confortos institucionais não é apenas insensível, é socialmente injusto.

Romper bolhas não é simples, mas é necessário. Para indivíduos, para grupos e, sobretudo, para instituições públicas. A democracia e a justiça social exigem mais contato com a realidade concreta e menos acomodação em mundos protegidos. Caso contrário, seguiremos administrando percepções, e não problemas reais.

ARTIGOS

A Interpol e as lições do roubo ao Louvre: quando a cultura exige proteção global

O que alguns insistem em tratar como luxo é, na verdade, expressão de identidade coletiva, memória histórica e soberania cultural

16/12/2025 07h45

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A Interpol é amplamente reconhecida por seus sistemas de avisos e pela atuação no combate ao crime organizado transnacional.

O recente episódio envolvendo o Louvre, porém, recoloca em evidência um ponto ainda subestimado no debate público: crimes não violentos, como o roubo de bens culturais, também demandam tutela internacional qualificada.

O tráfico de obras de arte e de patrimônio histórico segue sendo um delito de baixo risco e alto lucro, alimentado pela opacidade do mercado e pela fragmentação das respostas estatais.

O que alguns insistem em tratar como luxo é, na verdade, expressão de identidade coletiva, memória histórica e soberania cultural. A Interpol parte dessa premissa, ao reconhecer a cultura como interesse jurídico protegido, merecedor da mesma atenção dedicada à vida, à segurança e à integridade física.

Nesse contexto, o Banco de Dados de Obras de Arte Roubadas da organização cumpre papel central: dar rastreabilidade a um mercado em que o patrimônio cultural pode, com facilidade, converter-se em saque.

A existência do banco de dados não é apenas simbólica. Ela permite a identificação de peças subtraídas, inibe a circulação ilícita e oferece suporte técnico às investigações nacionais.

Ainda assim, a eficácia do sistema depende de algo que nem sempre acompanha a velocidade do crime: cooperação internacional efetiva e compartilhamento ágil de informações entre agências de aplicação da lei.

Há espaço evidente para aprimoramentos. A ampliação do banco de dados com atualizações em tempo real, a integração mais ampla de museus, casas de leilão e colecionadores privados, além de protocolos obrigatórios de verificação de procedência, fortaleceriam significativamente o combate ao tráfico ilícito.

Do mesmo modo, penalidades mais rigorosas e treinamento especializado para forças policiais e autoridades alfandegárias são medidas indispensáveis para reduzir a atratividade econômica desse tipo de crime.

O episódio do Louvre serve como alerta. Proteger bens culturais não é capricho elitista nem pauta secundária: é defesa da memória, da identidade e do patrimônio comum da humanidade.

Quando uma obra é roubada, perde-se mais do que um objeto, perde-se um fragmento da história coletiva. A resposta, portanto, precisa ser global, coordenada e à altura desse valor.

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