As soluções para crise precisam de esforços conjuntos, envolvendo poder público e iniciativa privada.
As reações à crise financeira ainda ocorrem de forma tímida e aquém do esperado.
A liberação de saques de contas inativas do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) era vista como salvação para recuperação de crédito. Mas, dados da Associação Comercial e Industrial de Campo Grande mostram que o índice de endividamento voltou a subir em março.
Provavelmente, muitos consumidores estavam aguardando meses para comprar determinados itens e, assim, deixaram as contas de lado. Há grave perigo nessa opção. Os juros sobem e, com o passar dos meses, torna-se mais difícil quitar as pendências, ainda mais sem contar com outra reserva financeira.
Assim, o empresário continua a sofrer as consequências e, sem receber o saldo devido, terá dificuldades para manter o mesmo número de funcionários ou até mesmo da quantidade de mercadorias adquiridas.
Reflexos diretos na geração de emprego e no ramo industrial. Campo Grande continua amargando índices negativos no saldo de empregos, conforme dados divulgados mensalmente pelo Ministério do Trabalho.
No mês passado, foram 377 postos extintos. Número que contrasta com a realidade da maioria das cidades do interior do Estado, que tiveram oportunidades em diferentes segmentos, desde indústria ao agronegócio. Sinal de alerta para a Capital.
A situação critica reflete, obviamente, nos cofres do Município. Ontem, o prefeito de Campo Grande, Marcos Trad, convocou secretariado para avaliar o deficit de R$ 34 milhões no mês de março.
Pelo anunciado, pagamento com fornecedores foi comprometido para honrar a folha salarial e permanece a incerteza em relação aos meses seguintes. Reajuste dos servidores parece impossível neste cenário.
Essa situação calamitosa decorre da estagnação de investimentos vivenciada nos últimos anos, somada a herança com dívidas herdadas da gestão anterior e até mesmo com os reflexos da recessão que impactam todas as prefeituras.
Novamente, deposita-se a esperança no pagamento de dívidas. A prefeitura planeja ativar sistema para cobrar R$ 2,6 bilhões de Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), que equivale a 550 mil certidões de dívidas ativas.
Outras propostas que ajudariam a dar fôlego financeiro demandarão mais prazo. A instalação de indústrias voltou a ser debatida pelo Conselho Municipal de Desenvolvimento Econômico (Codecon) e 19 projetos foram aprovados ainda neste mês. Juntas, essas empresas podem gerar 859 empregos - refletindo na quitação de débitos e no aumento do consumo, tão aguardados.
Há expectativa de que alguns débitos ainda estejam sendo negociados e possam ser quitados com as demais etapas de liberações de saques do FGTS. Está evidente, porém, que a crise vai muito além dessas receitas extras. Para obter resultados permanentes e concretos, será necessário desenvolver amplo plano de desenvolvimento, com incentivos à qualificação, estímulos ao empreendedorismo.
As soluções para crise precisam de esforços conjuntos, envolvendo poder público e iniciativa privada. Mas, os indicadores nos mostram que o caminho ainda é longo.