Investigações da Polícia Federal e a atuação da Justiça são o grande diferencial desde o ano passado, o que está mudando os rumos da política no Brasil, e não seria diferente aqui no Estado
A população em Campo Grande assiste a mais um capítulo conturbado dos desdobramentos da Operação Coffee Break. Na madrugada de ontem, o prefeito afastado Gilmar Olarte entregou-se, depois de ter prisão decretada pelo Tribunal de Justiça. Está recolhido no Presídio Militar. No dia anterior, o empresário João Amorim já havia se apresentado e, agora, está detido na sede do Grupo Armado de Repressão a Roubos, Assaltos e Sequestros (Garras). Os dois ficarão detidos de forma preventiva, por cinco dias. Nas ruas, conforme reportagem do Portal Correio do Estado, a maioria comemora, por ser indício de que, finalmente, a Justiça está sendo feita.
Investigações da Polícia Federal e a atuação da Justiça são o grande diferencial desde o ano passado, o que está mudando os rumos da política no Brasil, e não seria diferente aqui no Estado. No dia 17 março de 2014, foi deflagrada a Operação Lava Jato, com prisões em seis estados e no Distrito Federal. Na lista, estava o doleiro Alberto Youssef, suspeito de comandar esquema de lavagem de dinheiro e desvio, envolvendo a Petrobras, grandes empreiteiros e políticos. Youssef foi agraciado com a delação premiada e, a partir dos depoimentos dele, várias figuras importantes caíram. Entre os que foram presos, está o dono da UTC, Ricardo Pessoa, outro que puxou a linha do novelo e mostrou quem recebia propina no esquema. Pessoa foi um dos três depoentes que citou o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) como beneficiário do dinheiro proveniente do esquema de desvios bilionários da Petrobras. Mais recentemente, o deputado federal Vander Loubet foi indiciado, pela mesma suspeita. Desde que a Lava Jato foi deflagrada, mais de 30 pessoas foram condenadas pelo juiz federal Sérgio Moro, por crimes de fraude, corrupção, desvio e lavagem de dinheiro.
Em Mato Grosso do Sul, o ano de 2015 tem sido recheado de escândalos tão impactantes – pelo menos para população do Estado – quanto os que estão sendo descobertos na Lava Jato. Em julho, a Polícia Federal desencadeou a Operação Lama Asfáltica, que investiga irregularidades em contratos com empreiteiras, entre elas, a Proteco Construções, de propriedade de João Amorim. A influência do empresário também foi alvo de investigação da outra operação, a Coffee Break, que apura compra de votos para cassar o prefeito Alcides Bernal. Foi em decorrência deste caso que hoje temos em Campo Grande o primeiro prefeito, ainda que afastado, atrás das grades. Amorim, tido como chefão, tanto no superfaturamento dos contratos quanto na condução da saída de Bernal, também está preso.
Embora os dois estejam em condições muito melhores que a maioria dos detentos, a prisão tem mensagem importante para a população: a de que nenhum dos envolvidos tem certeza de que sairá incólume dos desdobramentos da Coffee Break e da Lama Asfáltica. A Justiça não deferiu o afastamento de 17 vereadores e, por enquanto, os parlamentares respiram aliviados. Mesmo que não sejam condenados, caso tornem-se réus, o julgamento popular é certo. Nas eleições de 2016, os que tiveram envolvimento no esquema não vão mais conseguir enganar os eleitores. A Câmara de Vereadores, hoje, está desacreditada, e a grande mudança é inevitável.