Os números comprovam a incoerência financeira que levaria qualquer empresa a perder o controle das contas: impossível gastar acima do que se arrecada.
As imagens da capa da edição de hoje retratam o desespero de quem aguarda atendimento na rede pública de saúde, mas não consegue, em decorrência da greve dos médicos. Horas de espera nas unidades de saúde, hospitais superlotados e pacientes retornando para casa sem diagnóstico. Esse tem sido o retrato do descaso das últimas semanas em Campo Grande. A tendência, infelizmente, é de agravamento do quadro, com outras categorias que também programam paralisações.
Enfermeiros votarão indicativo de greve na próxima semana. Professores da rede municipal de Campo Grande param na segunda-feira, enquanto os das escolas estaduais suspendem as atividades a partir de quarta-feira. Prejuízos inestimáveis para a população, que sofre as consequências de um dos momentos mais turbulentos enfrentados pelos brasileiros na política e economia.
Na Capital, o caos piora em virtude da fragilidade das finanças e do descontrole dos gastos. A despesa da Prefeitura de Campo Grande com a folha de pagamento, nos dois primeiros meses deste ano, é praticamente 90,35% superior ao mesmo período de 2014, e o triplo do montante gasto em janeiro e fevereiro de 2013. Constata-se neste balanço, portanto, uma das origens das dificuldades econômicas locais, também influenciada pela queda de arrecadação. Impossível fechar as contas e, mesmo diante da “tragédia anunciada”, não foram adotadas as medidas necessárias para evitar o colapso nos cofres públicos. A conta agora ficou mais cara e pesa no bolso de todos os contribuintes, que não contam nem com os serviços essenciais pelos quais pagaram com a alta carga tributária.
Por mais que as reivindicações sejam coerentes, é indispensável manter os parâmetros mínimos de funcionários trabalhando, para que a população não fique desassistida, algo praticamente impossível quando nos referimos à área da saúde, em que a carência já faz parte da rotina. Infelizmente, esse tem sido o setor mais castigado. Impressiona, neste contexto grave, que o drama nas unidades de saúde continue, apesar da determinação judicial para que os médicos retornem ao trabalho, sob pena de pagamento de multa diária de R$ 30 mil. Para tentar mudar a situação, a prefeitura pede aumento da multa para R$ 100 mil diários, além da prisão do presidente do sindicato da categoria, Valdir Siroma. O direito de greve está previsto na Constituição Federal, mas determinadas normas não podem ser ignoradas.
Os campo-grandenses estão arcando com o ônus mais pesado das gestões equivocadas à frente da prefeitura. Os números comprovam a incoerência financeira que levaria qualquer empresa a perder o controle das contas: impossível gastar acima do que se arrecada. No setor privado, o risco seria ter de fechar as portas. No poder público, temos visto em nosso cotidiano as consequências nefastas das incoerências administrativas, com a onda de paralisações. É no mínimo irresponsável e incoerente que os moradores continuem a ser penalizados pelas falhas de gestão. Infelizmente, as greves foram as alternativas encontradas pelos servidores, mas o caos tende a agravar-se.