A atual gestão enfrenta as consequências da própria displicência na concessão de financiamentos e bolsas para universitários de instituições particulares.
A leniência e o descontrole do Governo Federal causam prejuízos imensuráveis sem que haja explicações convincentes. Há meses, universitários vivem o drama de não conseguir acessar o sistema do Programa de Financiamento Estudantil (Fies). Primeiro, o impasse foi motivado porque a União alterou regras e cortou recursos, principalmente para as universidades particulares que reajustaram suas mensalidades acima do percentual estipulado pelo Ministério da Educação. Assim, muitos acadêmicos estavam sendo pressionados a desembolsar mensalmente quantias altas para compensar os valores que não eram cobertos pelo empréstimo. Depois, houve a promessa de que a situação seria regularizada, mas não é o que acontece na prática. Muitos enfrentam dificuldades porque o sistema não funciona, não conseguem preencher dados e os avisos de falhas são frequentes. O prazo para renovar os contratos já vigentes foi prorrogado até 29 de maio, mas a adesão a novos financiamentos vai apenas até o fim deste mês.
Na verdade, a atual gestão enfrenta as consequências da própria displicência na concessão de financiamentos e bolsas para universitários de instituições particulares. As facilidades, certamente, contribuíram para que mais jovens tivessem acesso à universidade. Entretanto, o monitoramento da qualidade não acompanhou a nova demanda e os investimentos na rede pública - que deveriam ser priorizados - acabaram esquecidos. Manter os repasses tornou-se inviável diante da crise financeira. Agora, passaram a ser feitas exigências, muito pertinentes, relacionadas às notas que os estudantes obtiveram no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Algumas mudanças, principalmente aquelas que podem influenciar no aprimoramento do aprendizado, são benéficas. Mas nada justifica o descaso existente atualmente em iludir os estudantes sobre as possibilidades que, na realidade, parecem ser mais um dos tantos factóides ou das incoerências do poder público.
Acadêmicos não merecem, de forma alguma, passar horas de desespero na frente do computador tentando acessar o sistema que somente o Governo Federal acredita funcionar. O transtorno está transformando o sonho de concluir o curso superior em pesadelo para muitos estudantes que vislumbravam as chances de conseguir emprego melhor e, assim, garantir condições de vida mais satisfatórias para sua família. Diante da “novela” que se transformou o acesso ao Fies e da lentidão para tentar resolver problemas que, teoricamente, parecem simples, muitos alunos acreditam estar sofrendo boicote da União. Na opinião de alguns, a restrição não seria mera falha técnica, mas a tentativa de conter gastos. Difícil saber e até mesmo acreditar que os cortes seriam mais significativos depois das polêmicas com as primeiras mudanças no Fies ou com as contradições apresentadas até agora pela presidente Dilma Rousseff que havia anunciado o lema da “Pátria Educadora”.
O Governo criou esperanças que não poderiam ser cumpridas e não consegue resolver nem mesmo as questões de gestão aparentemente mais simples. O aprimoramento do Fies é necessário, mas precisa ser feito com transparências e organização, apanágios que foram esquecidos.