Estamos diante de um grave problema, que terá influência direta nos orçamentos municipais dos próximos anos
Permanece, há meses, incompreensível silêncio em relação ao rombo milionário no Instituto Municipal de Previdência de Campo Grande, que chega a R$ 118,7 milhões. Nem mesmo sindicatos que representam os servidores municipais demonstraram interesse em reagir, cobrando explicações sobre esse dinheiro que lhes pertence. O pagamento aos aposentados só está sendo feito regularmente porque a administração municipal vem, todos os meses, repassando R$ 8 milhões para cobrir o desfalque na Previdência. Assim, o impacto é sentido por todos os campo-grandenses, pois se trata de recursos que poderiam estar sendo usados para garantir outros investimentos na cidade.
O próximo prefeito receberá como herança da atual gestão a Previdência Municipal com deficit, decorrente da sequência de saldos encerrados no vermelho. Em 2012, o Instituto de Previdência fechou com superavit de R$ 11.958.896,45. E, a partir de então, as contas degringolaram de vez, tornando-se quase impossível retomar o equilíbrio. Missão que, dificilmente, será cumprida pelos próximos gestores. Em recente entrevista, o secretário de Planejamento e Finanças de Campo Grande, Disney Fernandes, culpa o aumento salarial concedido aos servidores em 2012. O incremento de servidores ativos não acompanha o de inativos, que também tiveram aumento.
Publicações em Diário Oficial e planilhas contábeis enviadas ao Ministério Público Estadual confirmam a situação deficitária nos últimos três anos, mesmo com incremento no valor recolhido. Os indícios de que a prefeitura apropriou-se de parte desse dinheiro jamais podem ser ignorados.
O MPE abriu procedimento e solicitou as informações, as quais foram devidamente repassadas pela gestão municipal. Porém, as investigações ainda não avançaram e várias incógnitas permanecem. Cabe destacar que as primeiras denúncias surgiram ainda em junho, quando o deputado estadual Coronel David (PSC) levantou a suspeita de incoerência na conta, apresentando os documentos ao MPE, Tribunal de Contas e Câmara Municipal. Nada evoluiu.
Vereadores comprometeram-se a abrir comissão parlamentar de inquérito (CPI), o que ficou apenas no discurso. Com a proximidade das eleições, infelizmente, o foco inverteu-se e parece não ter sobrado tempo para ampliar essas cobranças e apurações.
Ontem, ao ser questionado sobre o rombo na Previdência, o prefeito Alcides Bernal disse que o problema não será resolvido em curto prazo e repassará todos os dados para o próximo gestor. Além das dificuldades financeiras decorrentes da crise econômica nacional e das falhas de gestão, agravadas pela instabilidade política, o prefeito terá de administrar mais esse desfalque nas contas. Somam-se ainda os impactos da estagnação de investimentos, com várias obras paralisadas e dívidas com prestadores de serviço.
Estamos diante de um grave problema, que terá influência direta nos orçamentos municipais dos próximos anos. Por isso a indignação com essa omissão que permanece atualmente, diante de denúncia tão grave, com desfalque que pode acarretar em prejuízos ainda maiores no futuro.