O simples fato de ter o rosto mostrado na “telinha” é um chamariz à desmedida vaidade de quem deveria se preocupar mais com a segurança das vítimas do que com a própria imagem
O caso de exploração sexual de adolescentes envolvendo políticos em Campo Grande não é novidade para o Estado. Ganhará novas proporções, neste fim de semana, em reportagem com veiculação nacional, no programa dominical Fantástico. A população de outras regiões terá uma amostra do que já vinha sendo noticiado pela imprensa sul-mato-grossense desde abril, quando dois vereadores de Campo Grande tiveram os nomes envolvidos no escândalo, que ainda tem tintas carregadas de chantagem e promiscuidade. O que deve ser observado, no episódio, é como as autoridades policiais fazem diferenciação na forma de repassar as informações à imprensa, com deslumbramento e reverência semelhante ao do cachorro em frente ao assador de frango giratório.
A investigação iniciada pela Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (Depca) chegou ao então vereador Alceu Bueno e o ex-deputado Sérgio Assis, depois que eles começaram a ser chantageados por um empresário e outro ex-vereador, Robson Martins. De acordo com a Polícia Civil, os chantagistas pediam R$ 15 mil de um dos envolvidos para não entregar gravações que mostravam a relação com adolescentes. O fato não era desconhecido por eles, já que há vídeo em que a garota dizia claramente que tinha 15 anos. Na época, Assis e Bueno foram presos e, agora, respondem em liberdade por exploração sexual. Novos nomes já surgiram a partir da depoimento de Fabiano Viana Otero: empresários e outros políticos que também usufruiam dos serviços sexuais de adolescentes.
Na fase em que outros nomes de peso surgiram na investigação - empresários e políticos -, entra em cena o Grupo Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), que assumiu o “filé mignon”, o que, certamente, terá mais capítulos escabrosos e de repercussão. Com certeza, mais holofotes sobre o caso. E aí que entra a avidez em aparecer, em rede nacional, de promotores e policiais. Para garantir mídia, fornecem alguns dados que antes são negados, sob alegação de ser apuração e processo sobre segredo de Justiça. O simples fato de ter o rosto mostrado na “telinha” é um chamariz à desmedida vaidade de quem deveria se preocupar mais com a segurança das vítimas do que com a própria imagem. A imprensa nacional, evidentemente, aproveita-se e joga a isca; mérito deles, que terão de mãos beijadas o que muitos conseguiram depois de árduo trabalho de apuração
O ponto positivo é que o recrudescimento do caso não deixa que a investigação caia em esquecimento. Espera-se então, que o empenho e energia em aparecer em rede nacional também sejam empregados na finalização do caso, com condenação dos envolvidos no esquema de exploração sexual. Com o depoimento de Fabiano Otero, mais três mulheres foram presas, pelo aliciamento de duas adolescentes. Outros nomes vão surgir e, infelizmente, Mato Grosso do Sul pode ser novamente notícia da forma mais desagradável possível. Junte-se à recente lista a prisão de Delcídio do Amaral (PT) e o troca-troca de prefeitos. Tristes capítulos que ainda não terminaram.