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Editorial deste sábado:
"Alerta Vermelho"

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"Alerta Vermelho"

Redação

13/02/2016 - 00h00
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As epidemias causadas pelo Aedes aegypti podem tornar-se pesadelo ainda pior, caso não haja envolvimento contundente dos setores públicos e da população

Hoje, em todo o País, o governo federal organiza desde cedo mobilização nacional para combater o mosquito Aedes aegypti. Embora a ação tenha um ar de mise-en-scène, com ida da presidente da República, Dilma Rousseff, e dos ministros em várias capitais do Brasil, tem potencial de marketing em chamar a atenção para demonstrar o quanto a situação é alarmante. Mas  precisa de estratégia de ação que envolva efetivamente toda a sociedade. Infelizmente, o País chegou a estado de guerra, em que tenta defender-se dos efeitos desastrosos do crescimento de ocorrências de dengue, vírus zika e chikungunya.

Segundo dados do Ministério da Saúde, foram registrados 73.782 prováveis casos de dengue, entre os dias de 3 e 23 de janeiro, avanço de 48% nas infecções no Brasil. Centro-Oeste e Sudeste apresentam as maiores incidências, com 67,2 casos a cada 100 mil habitantes e 52,8 casos/100 mil, respectivamente. Mato Grosso do Sul encabeça a lista do nada desejável ranking de notificações no primeiro mês do ano. 

A epidemia da dengue faz parte do calendário brasileiro há anos, mas é o crescimento alarmante da chikungunya e do vírus zika que tem tirado o sono das autoridades sanitárias. As notificações saíram dos países latinos e voltaram a migrar para Europa e Estados Unidos, e atualmente são assunto de preocupação mundial, após emissão de alerta global da Organização Mundial de Saúde (OMS). Nesta quinta-feira, ainda foi divulgado estudo na publicação científica The New England Journal of Medicine, reforçando a relação do zika com o nascimento de crianças com microcefalia, com base em análise de feto abortado depois de 32 semanas de gestação. A mãe, da Eslovênia, teria contraído a doença no Rio Grande do Norte, enquanto fazia trabalho voluntário.

A proliferação do mosquito Aedes aegypti já é problema antigo nos países latino-americanos, mas o combate – tanto pela população quanto pelas autoridades sanitárias – estava sendo levado de forma irregular e sem ações mais sistemáticas. Foi a relação com casos de microcefalia e o aumento de notificações na Europa e nos EUA que fizeram acender o alerta vermelho geral, na tentativa de mudar o padrão de comportamento e as estratégias adotadas até então. 

No País, a participação das Forças Armadas e da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil – com lançamento da Campanha da Fraternidade que trata de saneamento básico – demonstra a preocupação de diversos setores no combate aos focos do mosquito e que pode reverter o cenário até agora negativo. A dengue ainda causa muito mais mortes que o vírus zika, porém, à proporção que os focos se alastram, aumentam as possibilidades de óbitos para as duas doenças.

As epidemias causadas pelo Aedes aegypti podem tornar-se pesadelo ainda pior, caso não haja envolvimento contundente dos setores públicos e da população. É preciso mudança urgente de hábitos de todos, além de treinamento dos profissionais para agilizar notificações e identificar os casos. Sem o choque, dificilmente a redução das notificações e mortes será possível.