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Editorial deste sábado: "Abismos na educação''

Editorial deste sábado: "Abismos na educação''

Redação

11/04/2015 - 00h00
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Tivemos significativos avanços em relação ao acesso ao ensino superior nos últimos anos e não podemos ter retrocesso

Ainda no primeiro dia do ano, no discurso de posse do segundo mandato, a presidente Dilma Rousseff lançou o lema do novo governo “Brasil, Pátria Educadora”. Até agora, as metas destoam totalmente do que acompanhamos na prática. Estudantes enfrentam o drama de precisar abandonar o curso superior em decorrência das novas regras do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Verbas do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) foram cortadas.

O impacto do contingenciamento de recursos federais afeta diretamente as instituições. A Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), por exemplo, reduziu consideravelmente os recursos para assistência estudantil. No ano passado, 1.917 acadêmicos eram beneficiados, enquanto neste ano a quantidade é pífia. O site da Transparência, do governo federal, apontava que apenas nove contavam com o auxílio. Ontem, a instituição informou que esse número seria maior, cerca de 200; entretanto, ainda distoa completamente do ano anterior. 

Ontem mesmo, instituições ligadas à área da educação lançaram manifesto contra corte orçamentário nessa área. Em Mato Grosso do Sul, os campi do interior ainda não receberam auxílio financeiro para benefícios e já se cogita a possibilidade de suspender viagens para congressos e eventos. Na verdade, encontraremos diversas inversões de valores ao avaliarmos as verbas destinadas a determinados setores e, sem dúvida, injustiças relacionadas ao dinheiro que deveria estar sendo investido na educação. Impossível compreender, por exemplo, como o estudante pode sobreviver com apenas R$ 400 mensais durante o período em que estiver cursando a graduação. O montante, da chamada Bolsa Permanência, não é suficiente nem para custear as despesas básicas, como moradia, água e energia elétrica. Alguns contam com o acréscimo do auxílio alimentação, pouco superior a R$ 200. Fica impossível, portanto, custear os materiais exigidos para estudo.     

Em recente entrevista, o ministro da Educação Renato Janine Ribeiro, que assumiu na última segunda-feira, falou da democratização do ensino no Brasil. O desafio, no entanto, é garantir que esse acesso ocorra na prática, investindo para assegurar qualidade e oportunidade para que os alunos de baixa renda possam ter o direito de cursar uma universidade e angariar melhores colocações no mercado de trabalho. Pesquisa realizada pela Universidade Estácio de Sá mostra que o egresso da faculdade tem ganho salarial médio de 58%. Hoje, as vagas em universidades públicas ainda estão concentradas nas mãos de poucos e são enormes as dificuldades dos jovens que precisam sair do interior para estudar em cidades maiores. A começar pela quantia irrisória do auxílio estudantil e as diversas ofertas de cursos em período integral, o que impossibilita ao acadêmico conciliar trabalho e estudo. 

Há um abismo entre discurso e prática. Tivemos significativos avanços em relação ao acesso ao ensino superior nos últimos anos e não podemos ter retrocesso justamente no mesmo ano em que a promessa foi ter a educação como prioridade.