Com o procurador de Justiça aposentado, Carlos Alberto Zeola, o Ministério Pùblico deve ter a mesma disposição e tenacidade para a aplicar a lei que tem com outros cidadãos.
Esta prisão do procurador de Justiça aposentado, Carlos Alberto Zeola, na última sexta-feira expõe o Ministério Público Estadual (MPE) a um grave dilema: o de separar a solidariedade existente entre os profissionais que comõem o órgão, e sua imagem de instituição limpa, isenta, e defensora do interesse público, como está previsto na Constituição Federal de 1988.
Zeola foi detido na manhã de sexta-feira pela Polícia Civil, sob suspeita de ter abusado sexualmente de um garoto de 13 anos de idade. Não é a primeira vez que ele é preso. Em 2009, foi detido, por ter assassinado seu sobrinho, Claudio Alexander Joaquim Zeola, que na época tinha 24 anos.
Quando submetido a julgamento por este crime, em 2011, o Ministério Público Estadual foi solidário e benevolente com o seu integrante, apressando sua aposentadoria para que ele não perdesse seu salário, que ultrapassa R$ 30 mil por mês, antes que o Tribunal do Júri apreciasse o caso.
O procurador acabou condenado a oito anos de prisão, e por ter sido classificado como portador de transtorno bipolar e, por isso, conseguiu na Justiça o direito de cumprir sua pena em uma clínica psiquiátrica.
Desta vez, Carlos Alberto Zeola, aparentemente, voltou a contar com o apoio, ainda que velado, dos colegas do Ministério Público Estadual. Equipes da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DEPCA), que comandaram as investigações, tem reclamado da interferência da MPE no caso.
Desde que foi preso, o procurador aposentado ainda não prestou depoimento, e na sexta-feira, logo após a detenção, o Grupo de Apoio Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) não informava o paradeiro do colega.
O que se espera de uma instituição como o Ministério Público, fiscal da lei, defensor dos direitos humanos, da transparência e do interesse de todos, é que cumpra seu dever de ofício com seu par Carlos Alberto Zeola. A instituuição deve ter a mesma disposição e tenacidade que demonstra em sua luta para para aplicar a lei contra autoridades e cidadãos alvos de investigação do mesmo Gaeco.
Quem atira pedras, tem de cuidar muito bem de seu telhado. O melhor momento demonstrar perante a opinião pública seus princípios é agora.
O caso é delicado para os procuradores e promotores de Justiça. Pesa contra um de seus integrantes acusação de prática de crimes contra a pessoa, de conotação sexual e pior: contra menores de 18 anos de idade.
Coincidentemente, as crianças e adolescentes são um dos segmentos da sociedade que o Ministério Público deve, por obrigação legal, proteger.
O garoto de 13 anos de idade e sua família, assim como toda a sociedade, conta com o Ministério Público para atuar em seu favor, neste caso em que o procurador é um dos suspeitos.