Existe, porém, uma face ainda mais dramática e cruel das consequências da recessão: o aumento da miséria.
Nos últimos meses, o brasileiro vem sentindo no dia a dia os reflexos da crise econômica. Empresas fecharam as portas, construções foram paralisadas, indústrias diminuíram a produção, novos investimentos deixaram de ser feitos e o desemprego bate recorde. Com a inflação alta e falta de oportunidades no mercado de trabalho, famílias sentiram-se obrigadas a reduzir o consumo, resultando em perdas no comércio e, consequentemente, gerando ainda mais demissões. Ciclo deletério, nocivo e difícil de ser interrompido. Existe, porém, uma face ainda mais dramática e cruel das consequências da recessão: o aumento da miséria. Em Campo Grande, famílias não conseguiram mais arcar com as despesas de aluguel. Sem alternativas, invadiram áreas e começaram a construir barracos, alguns às margens de rodovias, nas saídas da cidade, como mostra reportagem de hoje do Correio do Estado.
No fim do último mês, por exemplo, eram 11,4 milhões de desempregados no Brasil. Em junho, foram cortados 91 mil vagas, conforme dados divulgados pelo Ministério do Trabalho. Em Mato Grosso do Sul, foram gerados apenas 35 novos postos de trabalho, resultado positivo, mas pífio se comparado a sequência negativa em meses anteriores. Apesar dessa recuperação no Estado, Campo Grande continua entre as cidades que mais desempregaram. De janeiro a maio deste ano, foram 485 empregos fechados. Essas estatísticas são transformadas em rostos, vidas que foram modifica pelos impactos da recessão financeira. Alexsandro era cobrador. A esposa trabalhava em uma padaria. O irmão dele, Anderson, enfrentava drama semelhante. O aluguel “pesou”, eles não conseguiram nova colocação no mercado de trabalho. Mudaram-se para um barraco na saída para Terenos, relato mostrado na edição de hoje.
As vítimas da crise acabam sujeitas a viver em condições degradantes. Não dispõem de água encanada, energia elétrica e nem de moradia estruturada. Tentarão, provavelmente, tornarem-se novos beneficiários dos programas sociais do Governo, como Bolsa Família. Infelizmente, os erros na condução da política econômica fomentaram essa relação de dependência que, a longo prazo, não traz benefícios. O assistencialismo permanente não contribuiu para o crescimento. Não há dúvidas da necessidade de auxiliar essas famílias que enfrentam situações adversas e precisam ser amparadas. Entretanto, os gestores precisam lembrar que esse auxílio só será eficaz se houver no País condições favoráveis economicamente. Afinal, está explícita a dependência financeira das garantias sociais.
Lamentavelmente, as famílias mais pobres são castigadas pelos equívocos de gestores e pela corrupção dos políticos. Os milhões desviados de cofres públicos poderiam ser aplicados para evitar o desastre ou, ao menos, garantir investimentos que ajudem os estados e municípios a retomarem o crescimento. Em Campo Grande, ainda há o agravante da estagnação ainda mais crítica, pela ausência de obras e de novas empresas. A crise impôs aos brasileiros pesado retrocesso, em que os mais pobres vêm sendo duramente penalizados. Perdem-se as conquistas obtidas nos últimos anos. Por isso, a importância de refletir sobre as escolhas dos gestores e seus planos para a economia. As repetidas promessa na saúde, educação e segurança dependem de uma boa administração, com equilíbrio financeiro.